Uma pesquisa inédita revelou que anomalias na temperatura, causada pelo fenômeno El Niño, exercem uma influência no clima pantaneiro e no crescimento de uma espécie arbórea muito comum no Pantanal, a Vochysia divergens, conhecida localmente como cambará. O trabalho foi apresentado pela aluna do programa de pós-graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade do Instituto de Biociências (IB) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Caroline Felfili Fortes.

Orientada pela professora doutora Cátia Nunes da Cunha, o trabalho - denominado ´´Estudos Dendrocronológicos da Espécie Arbórea Vochysia divergens Pohl (Vochysiaceae) no Pantanal Norte Mato-grossense, Brasil´´ -detectou que o El Niño provoca uma diminuição no regime de chuvas do Pantanal, e, consequentemente causa uma redução no crescimento do diâmetro da espécie investigada, devido ao déficit hídrico.

A dissertação traz ainda outra novidade: a aplicação da análise dendrocronológica no processo de investigação. A dendrocronologia é um ramo da ciência que consiste no estudo dos anéis de crescimento anuais de troncos de árvores. Alguns estudos no pantanal já utilizaram essa análise com sucesso, porém essa é a primeira comprovação de que o El Niño influencia não somente o regime climático, mas também o crescimento de uma árvore. Esse trabalho científico demonstra assim a aplicabilidade destas técnicas em toda zona tropical, inclusive o Pantanal.

Para Caroline Fortes, estudos dessa natureza são importantes, pois “permitem resolver questões ecológicas, climáticas e de manejo florestal, constituindo mais uma ferramenta para avaliar os impactos das mudanças climáticas globais nos ecossistemas florestais”.

El Niño é o nome dado a um fenômeno que ocorre nas águas do pacífico e que altera as condições climáticas em diversas partes do mundo. Este nome foi dado por pescadores do Peru em razão de a costa do país ser muito atingida pelo fenômeno e causar graves danos aos pescadores, principalmente. O El Niño dura de 12 a 18 meses em média em intervalos de 2 a 7 anos com diferentes intensidades. Quando ocorre o fenômeno as mudanças do clima são diferentes em cada parte afetada do mundo como por exemplo secas no sudeste asiático, invernos mais quentes na América do Norte e temperaturas elevadas na costa oeste da América do Sul.

Todas estas mudanças ocorrem devido ao aumento da temperatura na superfície do mar nas águas do pacífico equatorial, principalmente na região oriental. Isto faz com que a pressão na região diminua, a temperatura do ar aumente e fique mais úmido, no pacifico oriental. Esta mudança nesta parte do mundo causa uma mudança drástica de direção e velocidade dos ventos a nível global fazendo com que as massas de ar mudem de comportamento em varias regiões do planeta.
(24 Horas News – MT, 17/04/06)