Pequenas empresas reforçam ações de controle ambiental
2006-04-19
A preocupação com o meio ambiente virou arma de propaganda de grandes empresas nos últimos anos. De maneira bem mais discreta, a questão está avançando também entre as micro e pequenas empresas. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que o número de companhias com algum tipo de proteção ambiental subiu de 68,5%, em 2003, para 73,5%. Para essas companhias, não se trata de opção. É uma questão de sobrevivência.
A pesquisa da CNI mostra que a principal razão para adotar controles ambientais é o cumprimento de leis e regulamentos. Esse foi o motivo apontado por 60% das empresas. "Cada setor tem regras para emissão de poluentes, tratamento de água e uso de recursos naturais", diz o chefe da Unidade de Competitividade Industrial da CNI, Maurício Mendonça. "Se não cumprir essas regras, a pequena empresa não pode funcionar. Caso esteja aberta, pode ser multada." A regulamentação para cada tipo de empresa pode ser conhecido nos departamentos da Vigilância Sanitária, Secretarias de Saúde e de Meio Ambiente de cada município e Estado.
As empresas se queixam que o processo para conseguir todos os alvarás e licenças é extremamente burocrático, segundo Mendonça. Algumas empresa levam mais de cem dias para conseguirem licenças dos órgãos ambientais. "É de tal complexidade que até desestimula tomar uma iniciativa por conta própria, além do que pede a lei. Afinal, quem erra é multado, mas não se ganha nada se investir no meio ambiente."
Apesar de todos os riscos e da burocracia, algumas micro e pequenas empresas estão criando programas próprios, não só para cumprir a lei. Segundo a pesquisa, 20% dos empresários afirmam que a proteção ambiental melhora a imagem da empresa e 17% conseguem reduzir custos com os programas.
"Gestão ambiental não é coisa só de empresa grande nem exige rios de dinheiro", diz Dorli Martins, consultora do Sebrae-SP. "As microempresas que quiserem continuar competitivas terão de adotar alguns controles ambientais." A razão é simples: grandes empresas estão forçando seus fornecedores a adotar processos que não agridam o meio ambiente. "Quem fornece para grandes empresas já sentiu a pressão para mudar."
ALTERNATIVAS
Dorli dá algumas dicas para as empresas que querem adotar práticas de proteção ambiental sem gastar muito. "A maioria delas se baseia no uso consciente de recursos naturais e resulta na economia de água e luz no fim do mês", diz a consultora. A primeira é aproveitar ao máximo a iluminação natural, especialmente em grandes galpões. "Dependendo da posição do prédio, ele fica bem iluminado sem a utilização de muitas lâmpadas. E tudo o que não for necessário deve ser desligado, para evitar desperdício de energia."
Outra dica é fazer a coleta seletiva de lixo. "O empresário deve coletar separadamente o lixo da empresa e incentivar seus funcionários a fazer o mesmo em casa, ou até trazer o lixo para a empresa, caso a coleta não passe na casa deles."
Algumas medidas exigem mais dinheiro, mas compensam. Dorli cita o caso de uma fundição no Rio de Janeiro que investiu R$ 2,5 mil no aproveitamento de água da chuva e de pias para resfriar caldeiras. Além de desperdiçar menos água, ela conseguiu economizar R$ 28 mil em um ano.
Jogos e árvores para crianças
A empresária Maria do Carmo Dudeck instaurou uma política antidesperdício na sua fábrica de brinquedos educativos, a Holz Meizter. "Quando não há necessidade, os equipamentos elétricos ficam desligados e as torneiras fechadas. E cada pedacinho de madeira é guardado para ser usado depois."
Mas a Holz Meizter tem projetos maiores de gestão ambiental que devem ser implantados em 2007. "Estou me mudando para o interior de São Paulo, onde vou plantar mudas de árvores. No ano que vem, cada brinquedo será vendido com uma mudinha", diz Maria do Carmo. "Já que uso madeira nos meus produtos, nada mais justo que plantar e incentivar o plantio de árvores."
Um próximo passo será utilizar madeira certificada em todos os brinquedos. "Já encomendamos uma certa quantidade", diz a empresária. "O que eu faço hoje é simples e já representa uma economia grande de recursos naturais. Se cada um fizer um pouco, com certeza haverá grandes benefícios para o meio ambiente."
(O Estado de S. Paulo, 18/04/06)