Seqüestro de carbono torna-se mais eficiente com bioreator
2006-04-19
Nenhuma novidade em afirmar que o “pulmão do mundo” não é Amazônia. As
microalgas e cianobactérias respondem pela produção da maior parte do oxigênio
do planeta. Mas é em uma espécie de microalga, a Aphanothece microscopica
Nägeli , que um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) investe para aumentar a taxa de consumo do gás carbônico
(CO2), principal causador do efeito estufa. Por meio de um fotobiorreator
(reator que usa luz e organismos vivos), elas fazem a conversão do CO2 em
oxigênio de forma mais eficiente.
Os dados preliminares apontam que a assimilação de gás carbônico das
microalgas ou cianobactérias no fotobiorreator é 44 mil vezes maior se
comparado aos processos de seqüestro de carbono das árvores de reflorestamento
(Pinus e Eucalipto). Ou seja, em escala laboratorial, a remoção do carbono
pela microalga fica em torno de 100 gramas do gás por hora a cada grama de
cianobactéria, chamada de matéria seca. Já as árvores, apresentam taxa de
consumo de 0,0023 gramas de gás carbônico por hora.
Entre os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) para a remoção de gás
carbônico do meio ambiente,o florestamento (conversão de terra que não foi
florestada por um período mínimo de 50 anos em ambiente com vegetação) e
reflorestamento são alternativas reconhecidas pelo Acordo de Marraqueche de
2001. No entanto o pesquisador da Faculdade de Engenharia Química (FEQ),
Eduardo Jacob Lopes, aponta algumas limitações do seqüestro de carbono a
partir de árvores. “As áreas de floresta existentes não permitem o
aproveitamento de biomassa formada (madeira) e a formação de novas áreas é
considerada inviável frente ao desenvolvimento agrícola por razões econômicas”,
opina.
Há oito anos estudando a utilização dessa cianobactéria em processos
industriais, o engenheiro afirma que o emprego de microalgas é uma tecnologia
limpa por não gerar resíduos. Além disso, a biomassa produzida é
comercialmente interessante. “Para fazer um paralelo, metade do peso desse
organismo unicelular é proteína, já a carne bovina tem 18% desse composto,
embora a primeira não tenha a mesma qualidade. Por outro lado, dos 10% de
lipídeos (gorduras) que as microalgas possuem, metade são do tipo ômega três,
ácido graxo essencial para o organismo humano”, avalia. Vitaminas, sais
minerais e pigmentos contidos na cianobactéria também poderiam ser empregados
na alimentação humana e animal.
Microalga
Proveniente da região sul do Brasil, a Aphanothece microscopica Nägeli
é fotoautotrófica, ou seja, em condições favoráveis, ela utiliza a
fotossíntese para a manutenção de suas estruturas biológicas. Segundo Lopes, a
eficiência de captura de gás carbônico e liberação de oxigênio das cianofíceas
é superior a das árvores.
As condições de operação do fotobiorreator estão em avaliação, mas o
engenheiro garante que o processo é viável, embora ainda haja uma previsão de
gastos de instalação de um fotobiorreator em escala piloto ou industrial. O
CO2 produzido em indústrias como a petrolífera - uma das principais fontes de
gás carbônico-, pode ser transformado em biomassa. Quando armazenado, ele é
injetado em um líquido contendo sais minerais e microalgas, que crescem de
forma significativa. Em quatro dias, a massa de microalgas aumenta, de acordo
com o pesquisador, 30 vezes.
Emissão de CO2
Segundo informações do site do Fórum de Liderança sobre Seqüestro de Carbono
(CSLF, na sigla em inglês), o Brasil é responsável por 1,4% da emissão de gás
carbônico do mundo, produzido por combustíveis fósseis. Apesar de ser o 16º
na lista dos países produtores de gás carbônico, o país possui baixa emissão
per capita. Ou seja, apesar da produção de CO2 ser crescente, a energia de
hidrelétricas e a utilização do álcool como combustível - energias chamadas de
verde, por não contribuírem para a emissão deste gás - são os principais
responsáveis pela estimativa.
Pelo Protocolo de Quioto (Japão), o Brasil não entra na meta de reduzir a
emissão de gás carbônico nos próximos anos. No entanto, o país pretende vender
créditos de carbono para outros países desenvolvidos que se comprometeram,
até 2012, a reduzir 5,2% da quantidade de gases poluentes medidos em 1990.
Quando for testado em escala industrial, o fotobiorreator utilizará o sol como
fonte de energia para a fotossíntese das microalgas e poderá ser, Lopes aposta,
uma alternativa sustentável para o seqüestro de carbono, já que não gera
resíduos químicos, produz biomassa e utiliza áreas menores que as de
reflorestamento.
(Notícias ComCiência, 17/04/06)
http://www.comciencia.br/comciencia/?section=3¬icia=95