Cientista britânico pede medidas imediatas contra efeito estufa
2006-04-18
Em uma nova e preocupante advertência a respeito das mudanças climáticas no planeta, o cientista-chefe do governo britânico, David King, fez um apelo para que medidas sejam imediatamente adotadas em todo o mundo contra o efeito estufa, embora sejam necessárias décadas para que os resultados apareçam. Em uma entrevista concedida à rede britânica BBC na sexta-feira (14/04), David King assegurou que mesmo nas previsões mais otimistas, os elevados níveis de dióxido de carbono levarão a um aumento de três graus centígrados na temperatura atual, o que poderá ser fatal para o planeta.
Poucos ecossistemas terrestres serão capazes de se adaptar ao aumento de temperatura. E mais, de acordo com o cientista, até 400 milhões de pessoas em todo o mundo poderão sofrer com a fome, já que com as alterações climáticas serão perdidas entre 20 e 400 milhões de toneladas de cereais. O Reino Unido sofrerá os graves efeitos do aumento da temperatura, pois poderá registrar um "ataque costeiro", ou seja, uma série de inundações procedentes da elevação do nível do mar.
De acordo com a advertência do especialista, atualmente os níveis de dióxido de carbono superam o dobro dos registrados antes do começo da Revolução Industrial do século 19. Diante das previsões catastróficas, King, cuja voz é ouvida atentamente pelo primeiro-ministro Tony Blair e por outros importantes políticos, assegurou que é essencial que o mundo se mobilize para enfrentar as mudanças climáticas.
"Não temos que sucumbir à desesperança de dizer que não há nada que possamos fazer. É muito importante entender que podemos enfrentar os riscos", sentenciou. "Esta mobilização pode durar décadas. Falamos de cem anos ou mais. Precisamos começar a inverter a situação. Será um dos principais desafios dos países desenvolvidos", assegurou King.
As palavras do especialista coincidem com o desejo de Londres de obter um consenso global a respeito do efeito estufa, que deixe para trás as divergências a respeito do protocolo de Kyoto e se centre na China e na Índia, duas potências econômicas atualmente em crescimento.
Os Estados Unidos se opõem a um corte nas emissões de dióxido de carbono. A União Européia, incluindo o Reino Unido, propôs em 2002 limitá-las para fazer com que a temperatura global aumente apenas em uma média de dois graus centígrados. King ressaltou que, devido à possibilidade de a média atingir os três graus centígrados, a situação do planeta poderá piorar neste século.
O cientista criticou os políticos, por considerarem que as novas tecnologias para produzir energia limpa são a solução. "Há uma diferença entre otimismo e enterrar a cabeça na areia", assegurou, antes de advertir que os líderes mundiais fariam bem em ouvir os conselhos dos cientistas sobre este assunto. Em março, o governo de Blair divulgou um projeto para combater o efeito estufa, com a redução da emissão de gases em todos os setores da economia nacional mediante a imposição de limites rígidos às indústrias.
(France Presse, 18/04/06)
http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-index_noticias.asp?id=9839