Vírus da gripe aviária pode ser espalhado por contrabandistas
2006-04-17
Duas vans de inspetores de polícia disfarçados pararam em frente a uma loja em Milão no mês de março, seus alvos não eram nem terroristas nem drogas. Fazendo o caminho através de um refrigerador nos fundos de uma mercearia chinesa, os agentes acharam a caça: sacos de pés de pato. Isto seguiu uma incursão semelhante a um depósito em Milão poucos meses atrás, que rendeu 3 milhões de pacotes de carne de frango contrabandeados da China. Isto é crescente prova de que um próspero mercado internacional de contrabando de aves – incluindo pássaros vivos, frangos e carne – está ajudando a espalhar a gripe aviária, dizem especialistas.
Contrabando de aves é um enorme negócio que se mostra uma ameaça singular: o vírus H5N1 da gripe aviária é robusto o suficiente para sobreviver não somente em aves vivas, mas em carne congelada, penas, ossos e até mesmo em gaiolas, embora morra cozinhado. “Ninguém sabe os números reais, mas eles são grandes”, disse Timothy E. Moore, diretor de projetos federais no Centro Nacional de Biosegurança Agrícola da Universidade Estadual de Kansas. “Atrás do tráfico de drogas, animais ilegais são o nº 2. E não há dúvida em minha mente que isto representará um papel proeminente na difusão da doença. Parece ser a principal forma de propagação em algumas partes do mundo”, junto com a imigração de pássaros selvagens.
Particularmente quando contrabandeados vivos, aves podem facilmente passar a doença a aves em outros países. Embora o risco de transmissão em, digamos, pés de pato congelados em um restaurante, seja mínima, partes de aves também podem espalhar a doença a pássaros quando usadas como ração crua ou como fertilizante de fazendas. Aves de países afetados pela gripe aviária têm sido banidas na Europa desde 2002, mas contrabando seriamente compromete esses banimentos.
“Apesar do banimento da UE, ainda estamos confiscando produtos aviários chineses”, disse o general Emilio Borghini, comandante do Serviço de Saúde da Polícia Militar na Itália. Muitos especialistas estão convencidos de que a importação ilegal de galinhas vivas contaminadas introduziu o vírus na Nigéria. Seus primeiros casos foram confirmados em fevereiro, mas breve o vírus apareceu em fazendas de aves em múltiplas áreas, levando a uma amplamente espalhada matança de aves em um país que não pode bancar a perda. E mesmo assim, a doença não foi detectada em pássaros selvagens lá.
No começo de abril, oficiais de saúde vietnamitas disseram que frangos contrabandeados pela fronteira com a China haviam introduzido a gripe aviária na nação, a qual não relatava casos por quatro meses. Há extenso contrabando entre a China e a África. Embora muitos países atribuam a propagação do H5N1 a aves migratórias, muitos ornitólogos dizem que a prova freqüentemente aponta para o contrabando. “Nós acreditamos que é espalhada tanto por migração quanto por comércio, mas esse comércio, particularmente ilegal, é mais importante”, disse Wade Hagemeijer, um especialista em gripe aviária da Wetlands International baseada na Holanda, que tem estudado o papel de pássaros imigratórios.
(The New York Times, 17/04/06)
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