Projetos eólicos ganharão impulso
2006-04-17
A Associação Brasileira de Energia Eólica (Abee) promete novo impulso a
projetos contratados que envolvem 1,422,96 mil MW no País - 208,3 MW em fase
de implantação - que representariam investimentos globais estimados em R$ 4,5
bilhões, até 2007. "A viabilidade do Programa de Incentivo às Fontes
Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), como instrumento para a
diversificação da matriz energética brasileira, depende da definição de
política de longo prazo", diz o novo presidente da entidade, Adão Linhares
Muniz, coordenador de Energia e Comunicações da Secretaria da Infra-Estrutura
(Seinfra) do Ceará, ao alertar que a investida contempla a criação de uma base
industrial e de uma nova tecnologia.
A Abee, criada entre 1999, época da elaboração da lei Proinfa, não chegou a
ter representatividade, segundo o dirigente. "Agora, estamos numa situação
diferente, que exige articulação para tocar os projetos", afirma o presidente
da Abee, também diretor de P&D do Centro de Energias Alternativas (Cenea),
baseado no Ceará. A investida propõe ações imediatas, no sentido de desobstruir
as vias que, de alguma forma, emperram a primeira etapa dos projetos.
Na lista de curto prazo, estão a discussão com a Eletrobrás sobre as condições
do mercado brasileiro para fornecimento dos equipamentos, os prazos e
disponibilidades, além compatibilização com os cronogramas dos contratos. O
setor quer garantir, no longo prazo, o bom desenvolvimento da segunda fase do
Proinfa. "A perspectiva de futuro é essencial na consolidação da indústria
eólica no mercado nacional", afirma Linhares, um dos maiores especialistas do
setor no País.
O novo comando da entidade, que reúne empresários, fabricantes de componentes,
desenvolvedores de equipamentos, investidores, centros tecnológicos e
consultores trabalha disposto a solucionar os gargalos do programa. O esforço
busca ainda atração de grandes fabricantes mundiais para o Brasil, até
garantias necessárias ao modelo de Project Finance, por exemplo.
"Os financiadores precisam ver que existe um grande filão nesse segmento, até
em função da garantia de contrato de 20 anos, oferecida pela Eletrobrás, e dos
70% da receita nominal, independente da geração de energia", diz Linhares. A
Abee já trabalha no desenvolvimento de estudos técnicos voltados ao setor,
como a elaboração de parecer de fundamentação jurídica, sobre a titularidade
dos créditos de carbono dos projetos contratados pelo Proinfa,e a avaliação
da capacidade industrial instalada no Brasil para atender a demanda.
De acordo com Linhares, o Brasil, como signatário do Tratado de Kyoto, precisa
atender os requisitos da legislação internacional, que confere titularidade
de crédito ao dono do projeto. A articulação da Abee, entidade reúne mais 11
vice-presidentes, dispostos a assegurar ritmo mais acelerado ao Proinfa,
envolve apresentação das metas ao Ministério das Minas e Energia (MME),
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), Empresa de Pesquisa Energética (EPE), além da Eletrobás.
Na primeira reunião com o diretor da Eletrobrás, Walter Cardeal, há cerca de
duas semanas, os empresários avaliaram os problemas, sinalizando com
indicativo de soluções. Será composto um documento base, com alternativas
para a primeira fase e para a etapa seguinte, informa Linhares. Pontos
inicialmente pensados como preservação e atração para a indústria nacionalizada
de 60%, hoje acaba criando dificuldades. Na visão da Abee, falta opção de
compra de equipamentos.
Para atender o programa, seriam necessárias cerca de 1,4 mil torres para
instalação em dois anos "Mesmo com muito esforço, a Wobben Windpower,
fabricante do setor no País, não conseguiria atender toda a demanda. Além do
mais, um fabricante não correre risco."
Para Linhares, será preciso aliviar um pouco a restrição na primeira fase do
Proinfa para atrair grandes fabricantes. A volta do Production Tax Credit
(PTC), programa de energia eólica dos Estados Unidos, e a Europa cada vez mais
ativa, também soa como alerta, já que o mercado brasileiro ficou em segundo
plano.
(GM, 17/04/06)