Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental fortalece criação de redes
2006-04-13
A quinta edição do Congresso Ibero-Americano de Educação Ambiental, que terminou no sábado (08/04) em Joinville,
pôs em debate uma questão que começou a ser sistematizada pela primeira vez na Rio Eco-92: como vincular educação
ambiental e políticas públicas? Sistematizadas pela primeira vez na Rio Eco-92, as discussões internacionais sobre
educação ambiental têm grande acúmulo, mas quase nada de seu conteúdo traduziu-se em políticas públicas ao longo
de todos esses anos. Reverter esse quadro e potencializar as ações concretas em prol da educação ambiental nos
governos e nas redes formadas pelas organizações da sociedade civil é um objetivo prioritário, segundo indicaram as
discussões travadas pelos cerca de cinco mil participantes do V Congresso Ibero-Americano de Educação Ambiental,
que terminou no sábado em Joinville (SC).
Com a missão de “revisitar” o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global,
elaborado em 1992 no encontro ecológico internacional do Rio de Janeiro, o V Ibero reafirmou os princípios do
documento e sugeriu a criação de um Conselho Internacional para organizar o processo de revisão que já está em curso.
O ponto alto do Congresso, entretanto, acabou sendo a criação ou o fortalecimento de novas redes, como a Rede dos
Países Lusófonos ou a Rede Indígena de Educação Ambiental, entre outras. Os governos dos 22 países presentes
também firmaram alguns acordos comuns, como a adoção imediata de uma legislação específica para a educação
ambiental nos países ibero-americanos que ainda não a tem.
“O V Ibero serviu como estímulo e apoio à criação de novas redes temáticas de educação ambiental e ao
empoderamento da sociedade civil, seus canais de diálogo e espaços de articulação”, avalia Patrícia Mousinho, que
representa a ONG Ecomarapendi na Secretaria-Executiva da Rede Brasileira de Educação Ambiental (Rebea). Patrícia
lembra que os quatro congressos anteriores foram realizados em países de língua espanhola (dois no México, um na
Venezuela e um em Cuba), o que tornou especial o encontro de Joinville: “Foi o primeiro congresso realmente bilíngüe.
Sua amplitude também se refletiu no encontro dos lusófonos, que ganhou a adesão dos países africanos de língua
portuguesa e acabou se tornando uma coisa além da região ibero-americana”, disse.
Para a coordenadora-geral de Educação Ambiental do Ministério da Educação, Rachel Trajber, a “multiplicidade das
ações em rede” foi o ponto alto do V Congresso Ibero-Americano de Educação Ambiental: “Novas redes foram criadas e
as que já existiam saíram fortalecidas”, disse. O melhor exemplo desse movimento, segundo ela, é a criação da Rede
Indígena de Educação Ambiental: “É uma grande conquista, pois os indígenas também têm que trabalhar a educação
ambiental, que deve incorporar os conhecimentos e saberes tradicionais”, disse. Diretor de Educação Ambiental do
Ministério do Meio Ambiente, Marcos Sorrentino destaca o avanço das discussões travadas no Congresso: “No primeiro,
havia apenas o mapeamento das iniciativas de educação ambiental no mundo e demandas para a sistematização e
organização dos educadores ambientais”.
Rachel Trajber e Marcos Sorrentino fazem parte do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental,
responsável pela organização do V Congresso Ibero-Americano. Criado pelo atual governo, o Órgão Gestor é formado
pelos Ministérios do Meio Ambiente e da Educação, além de um comitê assessor que inclui representantes de diversas
organizações da sociedade civil: “Os outros países ficaram todos interessados nos resultados dessa profunda interação.
Vários apontaram a força do Órgão Gestor criado pelo governo brasileiro e elogiaram sua capacidade de trazer para o
centro das discussões as questões mais difusas e abrangentes”, conta Rachel.
DISCIPLINA OBRIGATÓRIA
Um dos pontos discutidos no Órgão Gestor brasileiro, segundo Rachel, foi levantado no V Ibero e pode significar um
avanço concreto em termos internacionais: “Caminhamos rumo à criação de uma disciplina obrigatória de educação
ambiental na formação inicial de professores, licenciaturas e magistério”, disse. No Brasil, a intenção do governo é que a
obrigação da existência de uma disciplina específica seja determinada no Plano Nacional de Educação (PNE) que está
em fase de elaboração: “Vamos tentar incluir esse ponto no PNE para adotarmos nas escolas do Brasil a
transversalidade para os temas ambientais”, disse.
Outro objetivo traçado no V Ibero é alinhar as diretrizes do Tratado de Educação Ambiental com as ações que serão
levadas a cabo durante a Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que começou em 2005: “A
educação ambiental deve fazer frente aos grandes desafios planetários como as mudanças climáticas, a perda da
biodiversidade e a desertificação, mas isso só será possível quando ela for interiorizada no dia-a-dia de cada individuo,
de cada grupo social e de cada governo”, avalia Sorrentino.
O importante agora é garantir a continuidade das discussões até as duas importantes reuniões previstas para o Rio de
Janeiro em 2007: a Rio+15 (Cúpula Ambiental da ONU) e o 6º Fórum Brasileiro de Educação Ambiental. Para tanto, as
organizações da sociedade civil, segundo Patrícia Mousinho, contam com a ajuda do governo brasileiro: “Já enfrentamos
no passado o problema das lacunas que deixavam as discussões paralisadas entre um evento e outro. Não podemos
esquecer que o Congresso Ibero-Americano é um evento de governo e que sua sexta edição só deve acontecer em 2008
ou 2009, na Argentina. Por isso o apoio do governo brasileiro nesse momento é fundamental. Temos que adotar uma
agenda de trabalho que reflita a urgência das discussões sobre educação ambiental”, disse.
LUSÓFONOS E SÃO FRANCISCO
Duas redes que pretendem interferir em temas que estão na moda - a unificação dos países de língua portuguesa e a
participação no processo de revitalização do rio São Francisco - também foram destaques do congresso realizado em
Joinville. Criada pela internet há um ano, a Rede dos Países Lusófonos teve seu primeiro encontro presencial na cidade
do Norte catarinense. Em dois dias de debate, foi discutida a necessidade de se combater a hegemonia dos países
anglo-saxões nos estudos e publicações e valorizar a produção em português, entre outros temas.
Seis países participam desta rede (Brasil, Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe)
que deve ter em breve a adesão de Timor-Leste e Angola. Para dar seqüência à ampliação da rede, foi decidida a
realização no ano que vem de um Simpósio de Países de Língua Portuguesa, que deverá ter como sede alguma cidade
da região da Galícia, na Espanha: “Além de ampliar os horizontes ibero-americanos com a participação dos africanos, a
rede agora teve a boa idéia de ampliar os horizontes da lusofonia e realizar um encontro numa região onde o português
também é falado”, felicitou Patrícia Mousinho.
Formada por representantes da sociedade e do governo, a Rede de Educação Ambiental do São Francisco vai reunir
educadores ambientais que atuem na bacia hidrográfica e queiram tratar de temas como Agenda 21, cultura e educação.
Para o coordenador do Programa de Revitalização do São Francisco do Ministério do Meio Ambiente, Maurício Laxe, o
processo de educação ambiental nas ações da revitalização do São Francisco deve ser continuado: “A rede deverá ter
autonomia para promover encontros e articular discussões sobre os problemas que afetam a bacia, como falta de
saneamento e degradação ambiental, entre outros. A educação ambiental constitui instrumento estratégico para
concretizar a participação permanente da sociedade na revitalização”, disse.
(Carta Maior, 11/04/06)
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