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2006-04-13
“Existe porque a gente insiste.” Essas palavras acompanharam uma parte da apresentação do projeto Ambientalismo: Conquistas Marcantes, que aconteceu na noite desta terça-feira, dia 11, em Porto Alegre, no auditório da Livraria Cultura, numa parceria com a Fundação Gaia.

Em uma apresentação de pouco mais de meia hora, foi possível refletir sobre fatos e conquistas do Movimento Ecológico Gaúcho, retratados através de fotografias do acervo de Augusto Carneiro, um dos poucos veteranos ecologistas que, com 83 anos, ainda milita pela causa.

“De dez livros históricos, que através de recortes de jornais contam duas décadas de denúncias, campanhas e alertas, foram selecionados os dois primeiros”, anuncia o projetista visual e publicitário Nirvan Giacomini. A idéia de fazer esse apanhado da biblioteca particular de Carneiro surgiu em novembro do ano passado, durante a Ecofesta, evento paralelo à Feira do Livro, realizada junto aos armazéns do Cais do Porto, em Porto Alegre.

A pesquisa inicia abordando a fauna, a partir de publicação de edital da Campanha de Proteção à Natureza, lançada em 1941 por Henrique Luiz Roessler, considerado o “pai da ecologia” no Rio Grande do Sul. Em seguida, a flora mostra-se ameaçada em matérias de jornais sobre Itapuã, margens do Rio dos Sinos, Reserva do Lami, lago Guaíba, com denúncias e manifestações de ambientalistas da Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural), criada no início da década de 70, tendo à frente José Lutzenberger.

A história se repete
As inúmeras palestras de Lutzenberger no RS e no Brasil foram divulgadas nos anos 70, com alertas sobre a crescente poluição da água e do ar, causada pelo progresso. Um exemplo destacado é a inauguração da Borregard no início de 1972, na cidade de Guaíba (RS), sob alertas ambientais que culminaram na interdição da empresa no final de 1973, mesmo após a destruição de 10 mil hectares de paisagem nativa, para dar lugar a plantações de eucaliptos, em área da Fazenda Barba Negra. Essa mesma área foi invadida há poucos dias pela Via Campesina, num protesto contra a destruição do ecossistema Pampa, ameaçado pela introdução de monoculturas de eucaliptos para a fabricação de papel.

Ainda durante a apresentação do “Existe porque a gente insiste”, estão registrados alertas por alimentos sadios e por um mundo sem transgênicos, incluindo fotos feitas por agricultores ecologistas.

No quadro Paisagens Preservadas, impossível ignorar a cena do estudante mineiro Carlos Dayrell, em protesto contra a derrubada de jacarandás junto ao viaduto da Avenida João Pessoa, também em Porto Alegre.

A pesquisa nos arquivos de Augusto Carneiro também registra a primeira reportagem contra a poda irregular das árvores da Rua Vieira de Castro, em Porto Alegre. A entrevista publicada em 26 de junho de 1971 traz o alerta do engenheiro-agrônomo José Lutzenberger de que “a poda está matando nossas árvores”.

Entre os fatos destacados durante a apresentação-resgate do Movimento Ecológico Gaúcho estão a conservação do prédio histórico do Mercado Público e a campanha do Lixo Limpo iniciada em abril de 1976 pela ADFG (hoje Núcleo Amigos da Terra/NAT/Brasil) na vila Assunção, em Porto Alegre. A apresentação do projeto encerra-se com fotos da Mata Atlântica, do Cerrado, da Amazônia e do Ecossistema Pampa que “a gente quer que continue existindo, a gente insiste”.

Para ambientalistas, sistema de consumo é insustentável
“Tudo o que não queríamos está acontecendo.” A afirmação é de Flávio Lewgoy, ao citar a música “Como nossos pais”, cantada por Elis Regina. Lewgoy foi um dos painelistas do “Existe porque a gente insiste” sobre Ambientalismo: Conquistas Marcantes.

Para o ambientalista, o RS teve o privilégio de ter Lutzenberger e outros idealistas combatendo o capitalismo, “que vê no lucro a finalidade máxima da existência”. Assim, entre indiferenças e individualismos, esse otimista-realista lamenta estar acontecendo tudo o que foi alertado, do derretimento da neve ao lançamento excessivo de metano na atmosfera, destruindo a camada de ozônio.

“Somos reféns de papéis e celulares. É preciso mudar a estrutura sistêmica predominante, que nos coage a continuar comprando das grandes corporações”, anuncia Lewgoy, que teve a jornalista e escritora Lilian Dreyer como colega de painel. Lilian explica que, para existir, o consumo se centra na propaganda, “cuja mensagem é o individualismo”. Assim, para ela, “além de questionar as informações que estamos recebendo, é preciso voltar a sentir a natureza”. Esse ato é como um antídoto à sociedade baseada no consumo.

Para Lara Lutzenberger, a complexidade dos problemas ambientais aumentou e, como conseqüência, o distanciamento da natureza. “Precisamos rever nossa concepção de felicidade e o nosso papel no mundo e nos reaproximarmos da natureza”, diz Lara, ao salientar a coerência entre o defender e o agir no cotidiano. “Quando deixo de andar de carro, devo ter a consciência de estar reduzindo a poluição e a ingestão de gases tóxicos pelas pessoas. Quando diminuo o tempo do banho e não deixo escapar poluentes químicos pelos ralos, sei que garanto água de melhor qualidade para beber”, exemplifica Lara.

Para a filha de José Lutzenberger, o modelo econômico tem que se voltar para a produção local, que reduz custos e garante qualidade, com equilíbrio ambiental e social. Além disso, “o contato e a vivência na natureza nos fazem sentir expandidos”.

O ambientalista Augusto Carneiro encerrou o encontro, anunciando a evidência de que “tudo está acabando” e de que “99% das pessoas não vai deixar de ir aos estádios de futebol”. Carneiro lembra que em 1927, Porto Alegre tinha 200 mil pessoas. Hoje são mais de 1 milhão e 300 mil habitantes. Para um período de 30 anos, ele prevê a piora da violência e do banditismo. “Só a crise é a necessária e única arma para salvar a natureza”, finaliza Carneiro.
(Adriane Bertoglio Rodrigues, Ecoagência, 12/04/06)
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1535&Itemid=2

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