Por Luciana Di Ciero *
A polêmica em torno do avanço do cultivo da soja na floresta amazônica e no cerrado brasileiro é motivo de discussão e pesquisa por parte de cientistas, ONGs, empresas e do próprio Governo. O assunto ocupa um espaço importante na agenda positiva dos temas sociais brasileiros.
Por esta razão, é bom esclarecer a população e informá-la. Iludi-la com manchetes enganosas ou até mesmo culpar o cidadão comum pela devastação da Amazônia não constrói, não ajuda a formar cidadãos. Um exemplo claro desta situação é o relatório “Comendo a Amazônia”, divulgado pelo Greenpeace, que responsabiliza empresas e o cidadão que gosta de comer nuggets de frango pela devastação da região.
O documento traz denúncias, mas não informa, não apresenta dados que auxiliem o leitor a chegar a uma conclusão sobre o assunto. O desmatamento está aumentando na região amazônica em função do plantio da soja? Em que localidades? Por quais razões? O relatório não consegue responder.
Em dezembro de 2005, o ministério Meio Ambiente anunciou que o desmatamento na Amazônia regrediu. O índice para o período 2004-2005 teve uma queda de 31%. A área desmatada foi reduzida de 27.200 km2 para 18.900 km². Os dados do Ministério, que têm como base levantamentos de satélite feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apontam que houve uma queda acentuada em todos os estados da região amazônica, com redução expressiva do desmatamento nas áreas próximas à rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163).
No início do ano passado, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, (IPEA) publicou o estudo “Crescimento Agrícola no Período 1999-2004, Explosão da Área Plantada com Soja e Meio Ambiente no Brasil”. O trabalho revela que a expansão, nos últimos três anos, das áreas cultivadas com soja, que cresce a uma média anual de 13,8%, não provocou o aumento do desmatamento da floresta amazônica nem do cerrado. Segundo o IPEA, o cultivo do grão avançou principalmente sobre pastagens degradadas e não sobre "áreas virgens". A cultura do grão vem se revelando como uma alternativa para o desenvolvimento da Amazônia e do Cerrado e para a recuperação de solos e pastos degradados.
A soja não é inimiga da floresta
O receio de que a expansão agrícola da soja possa ameaçar a floresta amazônica é infundado e gera resistência à melhoria da infra-estrutura de acesso às áreas envolvendo a floresta, como por exemplo, o asfaltamento da BR-163.
O asfaltamento desta rodovia, além de viabilizar a cultura da soja, colaborará para que a política de preservação ambiental, proposta pelo Governo, se torne mais eficiente, pois indiretamente vai contribuir para a eliminação dos fatores que realmente provocam o desmatamento da região: a agricultura itinerante, de baixo nível tecnológico e que emprega o fogo para abertura de áreas; a extração irracional de madeira e a atividade pecuária de baixo nível técnico e destruidora dos recursos naturais.
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Luciana Di Ciero é agrônoma e vice-presidenta da Pró-Terra, Associação Brasileira de Tecnologia Meio Ambiente e Agronegócios - www.proterra.org.br.