Pesquisa científica é confundida com biopirataria
2006-04-13
Centro e três exemplares da fauna amazônica, coletados pelo pesquisador André Raveta na primeira expedição científica à Reserva de Desenvolvimento Sustentável Cujubim (AM), foram apreendidos no Aeroporto Internacional de Belém, nesta segunda-feira (10), por fiscais da Receita Federal e do Ibama. O caso vem sendo amplamente divulgado como biopirataria e tráfico de animais.
André Raveta, jovem e dedicado pesquisador da organização ambientalista Sociedade para Pesquisa e Proteção do Meio Ambiente (Sapopema), é mestre em primatas da Amazônia, com dissertação defendida na pós-graduação em Zoologia - curso organizado pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e a Universidade Federal do Pará (UFPA) -, e como todos os demais pesquisadores participantes da expedição, tinha autorização do Ibama para a coleta e transporte do material biológico. Os especialistas em mamíferos do Museu Goeldi, instituição vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), orientaram Raveta quanto às espécies mais interessantes a coletar e o certificaram com documentação que garantia o interesse da instituição em receber o material coletado.
A licença de coleta e transporte foi emitida pelo Ibama de Manaus (AM) com a informação de que o material seria depositado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT).
Inexperiente nos procedimentos do órgão fiscalizador, o pesquisador se esqueceu de um elo importante no processo – não solicitou ao Ibama a licença para transportar o material biológico até o depósito do Museu Goeldi, em Belém do Pará. O lapso colocou em risco o recebimento, a guarda, a catalogação e o estudo do material coletado. Entre os exemplares coletados por Raveta - material de alto interesse científico - encontra-se, inclusive, uma espécie pouco registrada no Brasil.
O Museu Goeldi manifesta sua preocupação com este episódio - e a interpretação equivocada que está tendo por parte da imprensa, e com as condições inadequadas de guarda de valioso material para a pesquisa científica, que em pouco tempo pode ser danificado, se não for abrigado em prédio equipado com imunizadores e temperatura estabilizada em 18 graus. Na região amazônica, apenas o Museu Goeldi e o Inpa têm condições de receber e acondicionar o material biológico e, por isso, são considerados pelo governo federal como fiéis depositários.
"Os espécimes apreendidos pelo Ibama representam a base para que pesquisas cuidadosas sobre a biodiversidade amazônica possam ser desenvolvidas. Esta é a primeira coleção de mamíferos de uma região nunca antes visitada por qualquer cientista", ressalta Ima Vieira, diretora do Museu Goeldi.
(Envolverde, 11/04/06)