Terceiro Setor nos EUA é comparável a 6ª economia mundial
2006-04-12
Pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Associações Filantrópicas dos Estados Unidos mostra que o terceiro setor no país contabilizou, em 2003, US$1.76 trilhão em investimentos, com gastos que superam 945 bilhões de dólares. O estudo United States Nonprofit Sector foi realizado a partir dos relatórios anuais de impostos entregues pelas entidades sociais, cujo número chegou a 837.027 no mesmo ano.
Em um cruzamento de dados, a movimentação dos recursos do terceiro setor americano é maior do que economias como a do Brasil, Rússia, Canadá, México e Coréia do Sul. Para Audrey Alvarado, diretora executiva do Conselho Nacional de Associações Filantrópicas, o setor compreende um vasto e diverso leque de organizações, o que justifica os altos recursos investidos. “A Sociedade americana começou a entender que o setor privado e o setor público não são diabólicos e percebeu o esforço dos três setores. O tamanho da economia do terceiro setor, quando casado ao impacto social de sua atuação, evidencia que a América confia nas entidades sociais e vê nelas um instrumento de mudança”, explicou a rede GIFE - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas.
O que sustenta os argumentos de Audrey é um dos pontos mais importantes do estudo: a origem dos recursos. Do total de investimentos, apenas 14% provém de contribuições privadas, e menos de 10% são de doações do governo americano. Assim, 72% provém da renda proveniente de programas e serviços, ou como chamam “fees for service” (algo como "pagamento por serviço"), em que recebem fundos destinados a ações sociais. Esses fundos unem investimentos do setor privado e público, além de doações individuais por meios de incentivos fiscais.
“Os dados mostram que o terceiro setor já deixou de ser um setor nascente e passou a ser estruturado como qualquer outro”, comenta Luiz Carlos Merege, coordenador do Centro de Estudos do Terceiro Setor da Fundação Getúlio Vargas (Cets/FGV). Segundo ele, é um caminho natural dos países com economia forte, o que, é um sinal positivo para o Brasil. Embora a importância do terceiro setor seja reconhecida, não há um estudo similar no Brasil. O mais próximo da análise norte-americana foi o realizado pela Johns Hopkins University em 35 países, coordenado no Brasil pelo Instituto de Estudos da Religião – Iser, em 1995. De acordo com ele, o terceiro setor movimentou US$ 10,6 bilhões, valor equivalente a 1,5% do PIB daquele ano.
No entanto, esse dado não foi atualizado, mais de uma década depois de lançado. Dentre as pesquisas mais atuais se destaca a “As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil (Fasfil)”, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o GIFE e a Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong).
Segundo o levantamento, o número de associações sem fins lucrativos chegou a 276 mil em 2002, dando empregos diretos a 1,5 milhão de trabalhadores, cuja média salarial é de 4,5 salários mínimos mensais - superior à média das empresas em geral de 4,3 salários por mês. Os números mostram que, só em remuneração, elas movimentam R$ 17,5 bilhões anualmente.
(Informativo mater natura, 11/04/06)