Implantação de florestas exóticas no Pampa Gaúcho é debatida no Ministério Público Federal
2006-04-11
O plantio de florestas de eucaliptos na região do pampa gaúcho colocou em planos antagônicos representantes de empresas refloretadoras, de um lado, e ambientalistas e a UFRGS, de outro. O evento ocorreu na última sexta-feira (07/04) na sede da Procuradoria da República no Rio Grande do Sul. Convidados para explicarem seus projetos, os representantes das empresas foram os primeiros a falar.
O engenheiro florestal da Stora Enso João Fernando Borges, que ocupa o cargo de diretor florestal para a América Latina, iniciou mostrando que a empresa é lider mundial no setor com a produção de 16,9 milhões de toneladas/ano de cartões e papéis e disse que o Rio Grande do Sul e o Uruguai foram selecionados após a avaliação de 16 diferentes regiões da América do Sul.
Pela empresa Votorantim Celulose e Papel, os engenheiros floretais José Maria Arruda Mendes Filho, diretor florestal e Fausto Rodrigues Alves Camargo, gerente de meio ambiente, explicaram que em fevereiro deste ano, a empresa adquiriu 80 mil hectares no Rio Grande do Sul, distribuídos em 15 municípios e que o objetivo é introduzir o florestamento como mais uma alternativa de renda á economia regional, evitando competir com áreas de agricultura. A Votorantim já possui uma área plantada de 22.220 hectares, com área média de preservação permanente de 50%. O investimento anual é de R$ 160 milhões.
Também falaram os representantes do movimento ambiental, Carla Villanova, do Núcleo Amigos da Terra e Ana Paula Fagunges, da ONG Defesa Bio Gaúcha, além do professor da cadeira de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Valério De Patta Pillar. Eles questionaram os argumentos da empresas florestadoras. Segundo Valério Pillar, os campos do sul do Brasil formam o bioma Pampa. "As partes mais altas do planalto, onde estão associados a florestas com Araucária, constituem o extremo sul do bioma Mata Atlântica. Hoje sabemos que os campos, por alguns atribuídos ao desmatamento, são ecossistemas naturais que já existiam quando aqui chegaram os primeiros grupos humanos. Por isso, os campos apresentam uma diversidade biológica muita rica que precisa ser conservada".
Participaram do encontro, coordenado pelos procuradores da República do Núcleo de Meio Ambiente, Patrimônio e Cultura, Carlos Eduardo Copetti Leite e Carolina Medeiros, e também os procuradores do Grupo de Trabalho que avalia a implantação de florestas exóticas na região do Pampa Gaúcho, representando as procuradorias da República de Porto Alegre, Rio Grande, Santa Maria, Santana do Livramento, Santa Cruz do Sul, Caxias do Sul, Erechim, Uruguaiana, Bagé e Pelotas.
Os procuradores da República entenderam que ainda há uma série de questionamentos surgidos, em função das exposições ocorridas, a serem feitos, tanto às empresas quanto aos órgãos públicos envolvidos no tema, o que deverá ocorrer nas próximas semanas.
Por Juarez Tosi, assessor de Imprensa MPF/RS