Santa maria pode ter novo local para armazenar lixo
2006-04-11
Santa Maria pode ter um novo local para armazenar lixo até o fim deste ano. Não,
não é de nenhuma promessa do governo do Estado ou da prefeitura que estamos
falando. Os planos são da PRT Prestação de Serviços, empresa responsável pela
coleta de resíduos na cidade e pela administração do lixão da Caturrita. Como o
velho aterro está com os dias contados, deve ser para o novo empreendimento que
serão levados os detritos dos santa-marienses. O custo que teria levar o lixo
para outra cidade torna o novo aterro da PRT favorito em uma futura licitação.
Nas próximas semanas, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) deve dar
a licença prévia para que o projeto possa ser detalhado ao órgão e comece a
ser construído, mais tarde. Questões burocráticas à parte, a empresa quer criar
um lugar para receber, separar e aterrar o lixo de Santa Maria e cidades
vizinhas e vender tudo que pode ser reaproveitado.
A Central de Tratamento de Resíduos da Caturrita (CTRC) - como já foi batizado
o empreendimento - será construída em frente ao Lixão da Caturrita, terá
capacidade para receber 300 toneladas de lixo por dia e custará cerca de R$ 3
milhões à empresa. O terreno foi comprado pela PRT, que não quis informar
quanto pagou pela área.
A estrutura contará com três núcleos independentes: o de separação e limpeza de
materiais recicláveis (como papel, plástico e metal), o de produção de adubo e
o aterro, que abrigará só o lixo que não pode ser reaproveitado.
O novo projeto tem a pretensão de resolver um dos problemas ambientais mais
sérios de Santa Maria: a destinação do lixo. Um novo local para armazenar os
resíduos é uma necessidade antiga da cidade que vem sendo adiada pelos últimos
três prefeitos.
Prefeitura deve abrir licitação para coleta
Mas, segundo a própria empresa e a secretária de Proteção Ambiental, Ester
Olívia Fabbrin, a construção da CTRC não significa que os resíduos produzidos
pelos santa-marienses sejam levados para lá.
- Temos de abrir uma licitação dentro de alguns meses novamente, tanto para
coleta e transporte quanto para a destinação dos resíduos. Nada impede que
outra empresa vença - explica a secretária.
O responsável pelo setor de engenharia da PRT, Leomyr Girondi, explica que a
intenção é criar uma central regional e atender, principalmente, Santa Maria.
- Não temos negociações com a prefeitura, mas criamos o projeto para ajudar a
acabar com este problema ambiental. O lixão não pode mais receber lixo, e a
gente quer criar uma opção mais comprometida com o meio ambiente e com as
pessoas - diz o engenheiro civil.
As diferenças entre o novo projeto e o atual lixão são ligadas, principalmente,
ao armazenamento dos resíduos. O que acontece hoje é que todo o material que
chega ao Lixão da Caturrita é colocado no mesmo lugar, e os catadores precisam
"se misturar" aos restos para separar o que é reciclável. Na CTRC, os catadores
(contratados pela empresa) farão a triagem assim que o material chegar ao local.
A separação, inclusive, é uma das primeiras etapas do processo.
Lixão só tem validade até o final deste ano
O lixão da Caturrita, agora, tem prazo de validade. Segundo a secretária de
Proteção Ambiental, Ester Olívia Fabbrin, a Justiça e a Fepam, vence no fim
deste ano. Portanto, a prefeitura é obrigada a encontrar, até lá, outro local
para depositar os resíduos.
Desde fevereiro, um grupo de trabalho nomeado pelo prefeito Valdeci Oliveira
estuda o que é mais viável para a cidade: construir e administrar um novo aterro
ou terceirizar o serviço. O mais provável, conforme a secretária de Proteção
Ambiental é a segunda alternativa:
- Por mais vontade que tenhamos de encaminhar um projeto, conseguir aprovação
dos órgãos ambientais, encontrar uma área. Não dá tempo de fazer tudo isso em
menos de um ano. Sem contar que não contamos, ainda, com dinheiro para uma obra
desse porte - explica Ester.
A Justiça também interviu na situação dos catadores que coletam materiais do
lixão, no ano passado. A entrada deles ficou proibida durante dois meses, mas,
diante da falta de alternativa para o sustento de aproximadamente 200 famílias,
a medida foi cancelada. Atualmente, há mais de 300 pessoas trabalhando no local.
Há cerca de três anos, a prefeitura se manifestou disposta a construir um aterro
com usina de triagem, parecida com a projetada agora pela PRT. A intenção,
porém, nem mesmo virou projeto. Nenhuma área foi escolhida, a documentação
exigida pela Fepam não foi encaminhada e não houve nem mesmo a liberação da
licença prévia.
Projeto das células não saiu do papel
No ano passado, a intenção era cavar novas células (espécies de miniaterros,
com proteção extra e drenos) no próprio lixão. O projeto foi aprovado pela
Fepam, mas não saiu do papel. Ainda não há previsão de colocar a idéia em
prática, já que falta dinheiro para o empreendimento - cerca de R$ 1,5 milhão,
que está na lista dos pedidos de financiamento da prefeitura para o Banco
Mundial.
Nos últimos meses, o Lixão recebeu reparos para deixar de fazer tanto mal ao
meio ambiente. Mas eles não são suficientes para que o prazo de uso do local
seja esticado:
- Colocamos novos drenos (canos), fazemos compactação, temos alguns cuidados
com os resíduos. O serviço não é como deveria ser, mas também não é mais um
lixão como era no passado - diz Ester.
Catadores precisam da ajuda de todos
Entre as ações propostas pela prefeitura, na época da interdição do lixão,
estava a criação de uma Central de Comercialização de Resíduos, que ainda não
entrou em funcionamento. Ela seria instalada no complexo do Km 2, onde um salão
já foi reformado. Mas ainda falta comprar trituradores de papel e compactadores
para plásticos. A intenção seria agregar valor ao material e vendê-lo direto
para as usinas de reciclagem, tirando os "atravessadores" do processo e
trazendo mais lucro às associações de catadores. Segundo a secretária de
Proteção Ambiental, Ester Fabrin, falta dinheiro para colocar o projeto em
prática, pelo menos por enquanto:
- Estamos pleiteando dinheiro em um projeto da Petrobras, assim como diversas
outras cidades. Temos de esperar, não há recurso destinado para isso.
Enquanto a Central de Comercialização não sai do papel, as 17 associações de
catadores da cidade vão se virando como podem. No Km 2, ao lado de onde deve
ser instalado o empreendimento, os integrantes da Associação de Reciclagem
Seletiva de Lixo Esperança (Arsele), faturam, em média, R$ 100 por mês cada um.
Para driblar a falta de dinheiro, usam da criatividade, força de vontade e
contam com a ajuda de projetos sociais. Três vezes por semana, a Arsele
distribui sopão para famílias cadastradas com ingredientes que ganham do Fome
Zero. Os filhos dos associados recebem leite do mesmo projeto. Todas as noites,
integrantes do grupo dão aulas para colegas que ainda não sabem ler. Aos
sábados, jovens e adolescentes têm aulas de dança.
Quantas pessoas separam o lixo?
Eles também são uma das 17 associações cadastradas em outro projeto para os
catadores: o da coleta seletiva. Em junho do ano passado, a prefeitura anunciou
uma espécie de "renascimento" para a modalidade, mas faltou divulgação e apoio.
Hoje, não se sabe quantos participam da coleta:
- Queremos divulgar melhor o projeto, lançar uma campanha para que um maior
número de pessoas possa colaborar - afirma Ester Fabrin.
(Diário de Santa
Maria, 11/04/06)