Petrobrás cria robôs para fiscalizar as riquezas amazônicas
2006-04-11
Se ainda hoje há tribos indígenas isoladas que estranham a presença de um homem branco em suas reservas, o que pensar quando eles se depararem com um robô? Isso deverá acontecer brevemente - estima-se que até 2008 -, quando a Petrobrás der corpo e movimento ao robô ambiental híbrido. É uma espécie de Robocop, que terá a missão de vigiar as riquezas naturais da Amazônia.
A idéia causou estranheza no gerente do Ibama no Acre, Anselmo Forneck, que disse nunca ter ouvido falar no projeto. Mesmo assim, o Projeto Cognitus, imaginado como uma iniciativa artística por José Wagner Garcia, evoluiu para um plano de construção de dezenas de robôs, provavelmente de três modelos distintos, para não apenas vigiar áreas específicas da Amazônia, como também para a realização de estudos e experiências inovadoras em computação, sensoriamento remoto, bioquímica, nano e biotecnologia.
"Será complicada a situação para esses robôs. Eles terão que aprender a pilotar barcos, andar na mata, tomar cuidado com os bichos selvagens e a lama, se proteger da chuva para não enferrujar, enfim, terá muitas dificuldades", brinca Forneck, para quem o projeto parece mais um projeto romântico dos ambientalistas futuristas da década de 70.
Ignorando ou não o Ibama acreano, a Petrobrás garante que o objetivo é melhorar o seu próprio poder de fiscalização sobre a região para prevenir e impedir desastres ambientais caso ocorra algum acidente na produção ou transporte de combustível. A Petrobrás enfrenta desafios cada vez maiores na Amazônia desde pelo menos 1988, quando começou a atuar na bacia do Rio Solimões, onde se localiza a província mineral de Urucu, a 650 quilômetros a sudoeste de Manaus (AM).
Em busca do ouro negro
A Amazônia é palco de grande extração de petróleo em terra firme e possui uma das maiores reservas de gás natural do mundo. Para o aproveitamento desses recursos energéticos, duas grandes obras estão em planejamento: os dutos Coari/Manaus e Urucu/Porto Velho, que vão fazer o transporte da matéria-prima da floresta para as áreas de processamento.
No caso do Acre, além do interesse na sondagem de poços de petróleo (projeto da Petrobras desde o início da década de 80), a empresa quer proteger os rios Solimões e Negro. No caso de uma tragédia capaz de criar um vazamento inesperado, a contaminação alcançará o rio Amazonas e chegará ao oceano passando por uma enorme destruição no imenso manguezal do estuário.
Para enfrentar o tremendo desafio de prevenir para não ter que remediar, a Petrobras colocou em atuação o laboratório de robótica do seu centro de pesquisas tentando projetar equipamentos capazes de percorrer a floresta e os rios de forma independente da presença humana.
Esses equipamentos foram chamados "AmazonBots", encarregados de detectar anomalias ambientais, especialmente as provocadas por vazamentos de gás ou óleo em qualquer quantidade, além de promover pesquisas científicas de vários tipos.
Não são poucos os requisitos exigidos desses soldados protetores da selva: não podem ser ruidosos, precisam ter risco zero de poluição, têm que se comunicar com perfeição com os comandos na Amazônia e no Rio de Janeiro através de satélite, possuir alta resistência, facilidade de manutenção e capacidade de manobra para se locomover na água e na lama, inclusive em condições impossíveis para qualquer ser humano.
(A Tribuna – AC, 10/04/06)