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2006-04-10
Um projeto de pesquisa criado em parceria pela Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Sindicato Intermunicipal das Indústrias Madeireiras do Estado (Sindimadeira-RS), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade de Freiburg (Alemanha) vai monitorar nos próximos dez anos os níveis da umidade do solo nas florestas de pinus da empresa Celulose Cambará, em Cambará do Sul, plantados no Estado.

O projeto, coordenado pelos pesquisadores Mauro Schumacher (UFSM) e Peter Trueby (Freiburg), tem previsão de investimentos de R$ 800 mil até 2016. Os recursos serão aplicados na compra e manutenção de equipamentos específicos como um cromatógrafo iônico, utilizado para medir a qualidade da água em áreas de campo.

Segundo o presidente da Ageflor, Roque Justen, a pesquisa tem o objetivo de minimizar as dúvidas existentes sobre o real impacto ambiental dos projetos de florestamento. A plantação de florestas de pinus, eucalipto e acácia destinadas às indústrias moveleira, química e de celulose; é alvo de críticas de ambientalistas que apontam as florestas como responsáveis por problemas de ressecamento de solo e diminuição da água absorvida pelo subsolo.

Justen admite que parte da literatura científica existente sobre o assunto referenda os argumentos dos ecologistas, mas afirma que é preciso buscar novos conhecimentos sobre o tema. Além disso, Justen acredita que o estudo deve fornecer novos parâmetros para as técnicas de manejo florestal. “Teremos informações que podem apontar a necessidade de correções nos métodos hoje utilizados, a fim de incrementar a produtividade das plantações”, avalia.

Para realizar a pesquisa, serão feitas medições quinzenais dos volume das chuvas nos locais de mata nativa, em plantações novas e em florestas já desenvolvidas. A intenção é comparar o quanto de água é absorvida pelo solo nas três situações. Também serão feitas avaliações da composição química do solo e da qualidade da água infiltrada.

Os dados permitirão o mapeamento da evolução das variáveis ambientais ao longo do desenvolvimento da árvore de pinus - do plantio até a época do primeiro corte da árvore, com dez anos de idade.

“Precisamos conhecer como ocorre a interação entre o florestamento e os ecossitemas locais”, explica Mauro Schumacher, professor de Engenharia Ambiental da UFSM. Ele alega que os resultados de pesquisas realizadas em outros continentes, que já apuraram problemas ambientais nas florestas de eucaliptos e pinus, não servem de parâmetro para o Brasil. “Os estudos têm que ser feitos de acordo com o solo e o clima daqui”, completa.

Resultados darão subsídio para discussões ambientais
O resultado dos estudos que estão sendo elaborados pelas empresas gaúchas, servirá para produzir informações sobre a cultura do eucalipto, apontada por ambientalistas como nociva ao meio ambiente. “Existem paradigmas com relação às florestas que são fruto do manejo inadequado feito em algumas plantações”, observa João Afiune Sobrinho, gerente operacional da unidade florestal extremos sul da Votorantim Celulose e Papel (VCP). Para ele, muitas vezes os efeitos de ressecamento de solo são provocados pelo cultivo de variedades inadequadas da árvore para a região onde vive. “Existem mais de 400 espécies de eucalipto”, ressalta Afiune.

A implantação de bases florestais no Estado é contestada pelos movimentos ambientalistas. Segundo a engenheira agrônoma Luciana Picoli, integrante da ONG Amigos da Terra, as áreas do pampa, que receberão plantações da Stora Enso e da VCP, já sofrem com déficit hídrico, ou seja, o volume de água que evapora é superior ao das chuvas. Ela enfatiza que o manejo das florestas, feito com produtos dessecantes, provoca erosão e assoreamento do solo. “A solução para o desenvolvimento da Metade-Sul deveria sim passar pelo apoio à pecuária, que não afeta o ecossistema”, defende Luciana.
(JC, 10/04/06)

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