Gelos derretem cada vez mais e mais rápido, confirma estudo
2006-04-10
Praias, ilhas e continentes diminuem enquanto o nível dos oceanos aumenta devido ao acelerado derretimento de gelos polares e geleiras. Muitas das principais cidades do mundo, entre elas Bangcoc, Londres, Miami, e Nova York, podem ser inundadas até o final deste século, segundo uma nova análise das atuais temperaturas na região do mar Ártico publicada na revista científica norte-americana Science. Nessa oportunidade, as temperaturas globais serão, em média, três graus mais elevadas do que as registradas atualmente, ou tão quentes quanto a 130 mil anos atrás, quando o nível dos oceanos estava entre quatro e seis metros mais elevado.
“Provavelmente nossas estimativas sobre o aumento do nível do mar feitas há cinco anos foram muito conservadoras”,
disse Jonathan Overpeck, pesquisador da Universidade do Arizona que participou do estudo divulgado pela Science no
dia 24 de março. Pesquisas anteriores previam uma elevação do mar de menos de um metro até 2100. O estudo de
Overpeck e de outros autores revela que as temperaturas mais quentes estão em vias de derreter boa parte do gelo do
mar Ártico, incluindo a camada de gelo da Groelândia, além de derreter e causar colapso de partes da camada de gelo
antártica, no Pólo Sul, que é menos estável.
Os novos dados deveriam chamar a atenção para a urgência de se reduzir as emissões de dióxido de carbono na
atmosfera, afirmou o especialista. O dióxido de carbono é um dos gases causadores do efeito estufa, que capturam o
calor dos raios solares e reaquecem a atmosfera, provocando complexas modificações conhecidas como mudança
climática. “Mais de cem milhões de pessoas poderiam ser afetadas pelo aumento de quase um metro no nível do mar”,
afirmou Gary Griggs, diretor do Instituto de Ciências Marinhas na Universidade da Califórnia.
“Não há esperanças práticas de salvar pequenos países insulares como as Ilhas Maldivas”, no oceano Índico, disse
Griggs à IPS. “Este é um problema novo e de grande importância”. Os impactos da elevação do mar já são um perigo
próximo e atual. Nos últimos 12 anos, ilhas do Pacífico Sul, como Tonga e Tuvalu, experimentaram aumento de 10
centímetros, segundo o Projeto de Controle do Nível do Mar e do Clima no Pacífico Sul. Em fevereiro, uma inundação
sem precedentes nas ilhas Salomão fez com que fossem evacuadas duas mil pessoas. Boa parte da terra cultivável
dessas ilhas agora está contaminada pelo sal marinho.
Nos últimos 20 anos, as praias de areias brancas de algumas ilhas sofreram erosão e foram arrastadas pelas correntes
oceânicas, por ondas enormes e pelo mar que avança, informou Loti Yates, diretor do Escritório Nacional para a
Administração de Desastres das Ilhas Salomão. No final de março, marés de 3,48 metros de altura alagaram a maior
parte de Tuvalu, uma série de atóis do Pacífico cujo ponto alto tem 4,5 metros acima do nível do mar. Muitas das praias
com palmeiras desapareceram e a elevação das águas torna mais perigosas as tempestades. Está em debate o
reassentamento de toda a população do país, cerca de 11.600 pessoas. Varias centenas de abandonaram a
ilha.
A cerca de 1.200 quilômetros de distância, em Fiji, um arquipélago do Pacífico com superfície de 18.250 quilômetros
quadrados, a elevação do mar é de oito centímetros e espera-se que aumente mais 30 centímetros até 2050. As
inundações foram um fenômeno de custo multimilionário nos últimos anos. Devido à sua geografia, toda a região
Ásia-Pacífico é particularmente vulnerável aos impactos da mudança climática, com a elevação do nível do mar, as
tempestades mais intensas e manifestações mais extremas de seca e inundações, segundo recente relatório do Banco
Mundial.
“A maior parte das megacidades (da região), especialmente na China, fica no litoral, e estas são as principais
candidatas a sofrer com o aumento do nível do mar e desastres climáticos a ele relacionados”, diz o informe. Vietnã,
Tailândia, Indonésia e Camboja, junto com a China, poderiam sofrer severas perdas em seu produto interno bruto como
resultado destes fenômenos, já que as principais atividades produtivas se concentram em zonas costeiras, acrescentou
o Banco Mundial. Do outro lado do mundo, as águas afogarão muitas praias atlânticas do Canadá até 2030, disse à IPS
John Shaw, integrante da Pesquisa Geológica deste país. A essa tendência se soma o fato de que grande parte do
território oriental da América do Norte está afundado devido à última era do gelo.
“As praias estão bastante baixas, e com este rápido aumento do nível do mar simplesmente ficarão debaixo d’ água”,
disse Shaw em uma entrevista. Devido às mais freqüentes e intensas tempestades está sendo batido o recorde de
inundações na área, acrescentou. Essas mesmas tempestades causam erosão das linhas costeiras e as empurram
terra adentro cerca de 12 metros por tempestade. Estas são notícias muito ruins para quem tem propriedade no litoral
por sua magnífica vista. As linhas costeiras e as praias sempre se movem, mas atualmente o fazem mais rápido do que
nunca, ressaltou Shaw. Desde a última era do gelo, os níveis globais dos mares aumentaram lentamente, o que permitiu
o desenvolvimento costeiro em boa parte do mundo sem grandes dificuldades, explicou Griggs. Mas o ritmo da elevação
marinha cresceu muito nas últimas décadas, gerando um problema multimilionário, acrescentou.
As cidades localizadas no litoral marinho baixo sofrerão importantes desastres devido às tempestades, previu Griggs. As
ondas de oito metros provocadas pelo furacão Katrina, que em agosto passado açoitaram a costa do golfo do México,
ao sul dos Estados Unidos, mataram 1.400 pessoas e provocaram prejuízos de US$ 200 bilhões. Os planos anunciados
para construir diques que protejam a devastada Nova Orleans (uma das mais afetadas) custarão US$ 10 bilhões e nem
mesmo protegerão toda a cidade. “Eu não reconstruiria Nova Orleans no lugar onde está”, afirmou Griggs.
(Envolverde, 07/04/06)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=16000&edt=34