Educação ambiental ainda tem muito a trilhar
2006-04-10
O 5º Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental terminou sábado (8), em Joinville. Durante quatro dias, quase cinco mil pessoas de 23 países da América Latina, Portugal e Espanha debateram e apresentaram propostas para a contribuição da educação ambiental à sustentabilidade planetária. Antes da plenária de encerramento, que definiu a Argentina como o país-sede da próxima edição, em 2009, o Coral Ciser fez uma apresentação focando na conscientização e lançando desafios para a solução dos problemas ambientais.
Muito se falou sobre a questão da educação ambiental, mas o que o congresso deixa de conclusão num relatório final, que será encaminhado aos países participantes, segundo o coordenador do evento, Marcos Sorrentino, do Ministério do Meio Ambiente, é que ainda existe uma carência muito grande de recursos para a educação ambiental e principalmente de respostas de políticas públicas. "Há uma carência de legislação ambiental também. O Brasil é um dos poucos que tem uma política nacional de meio ambiente", ressaltou Sorrentino.
Sociedade sustentável - Para ele, houve um amadurecimento, principalmente no que diz respeito ao processo de diálogo entre os movimentos ibero-americanos e à Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU). "O entendimento de uma educação para o desenvolvimento sustentável remete apenas à idéia de desenvolvimento por meio da educação. Já o congresso focou na sociedade sustentável, que significa levar em conta o desenvolvimento humano. É um diferença sutil, mas uma grande diferença. Um fala em geração de emprego, nós em geração de trabalho e renda", observou o coordenador.
Formação tem de começar pelos professores, defende especialista
A educação ambiental deve ser pensada "a partir" do meio ambiente, e não "para", "de" ou "com" ele. Esse é o entendimento da coordenadora geral de educação ambiental do Ministério da Educação, Rachel Trajber, que participou, no sábado, da mesa-redonda "Educação Ambiental na Escola", dentro do congresso em Joinville. Representantes de instituições relacionadas à educação da Espanha, Colômbia, Portugal e México ainda apresentaram experiências de educação ambiental realizadas em seus países.
Para Rachel, um desafio é evidente: como desenvolver a educação ambiental se os próprios professores, na sua formação, não a recebem? Quando isso ocorrer, de forma sólida, aí sim a transversalidade da educação ambiental, ou seja, sua presença, ainda que implícita, em todas as outras disciplinas, será possível no dia-a-dia escolar, segundo ela. "Quem vai ser professor tem de ter a educação ambiental aprofundada", observa. Para ela, geografia, por exemplo, é um "prato cheio" para abordar questões ambientais. A coordenadora propõe a implantação de uma área de educação ambiental em todos os cursos de licenciatura, permeando todas as disciplinas.
Rachel pontuou que o número de iniciativas escolares abordando a educação ambiental tem aumentado no Brasil nos últimos anos. De acordo com o Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o número de projetos em educação ambiental em escolas brasileiras em 2001 era de 7.386. Em 2004, subiu para 10.943. Paradoxalmente, regiões como Norte e Nordeste apresentaram, nesse mesmo período, um aumento no número de escolas que abordam a questão ambiental destinando à queima seu próprio lixo.
A coordenadora afirma ainda ser necessária uma transformação de valores por parte das pessoas. Para ela, esse é um dos desafios da Política Nacional de Educação Ambiental.
(A Notícia, 09/04/06)