Produto natural auxilia no controle de pragas
2006-04-10
A utilização de produto natural para o controle de pragas, principalmente em
hortaliças, é o objeto de pesquisa do professor do Cescage, Aldaci Leite Torres,
doutor em agronomia, com concentração em entomologia, pela Unesp de
Jaboticabal. Ele está estudando a utilização de frutos da árvore Nim, da
família do cinamomo, mogno e cedro, na região.
Conforme o professor, o uso dos frutos do Nim tem resultados bastante
interessantes junto a hortaliças. Através da extração do óleo ou da maceração
das sementes em água e aplicação na horta, é possível inibir o aparecimento de
insetos nas plantações. Entre as ações dos princípios ativos da planta sobre as
pragas, estão a repelência para alimentação e ovoposição (os insetos
dificilmente se alimentam ou botam ovos em plantas protegidas pela solução),
interrupção do desenvolvimento (quando se alimentam da planta onde foram
aplicados os princípios ativos do Nim, é interrompido o desenvolvimento dos
insetos) e interrupção da ecdise (troca de pele, fazendo com que o inseto não
cresça adequadamente e até acabe morrendo). Além disso, a ingestão da solução
causa redução da fertilidade nos insetos (coloca menos ovos que o normal) e pode
gerar alterações no comportamento, como atraso de cópula. O Nim ainda reduz o
desenvolvimento de fungos e bactérias.
Os benefícios gerados às hortaliças pela utilização do Nim são resultado da
presença de um grupo de substâncias, cuja principal é a azadiractina, que
afetam o desenvolvimento dos insetos. Segundo o professor, os produtos químicos
normalmente encontrados no mercado geralmente têm um princípio ativo que atua
no combate de pragas. Isso faz com que alguns insetos consigam criar
resistência a essa substância e dificilmente sejam afastados das plantações.
“Já no Nim, por serem vários princípios ativos atuando, o inseto dificilmente
cria essa resistência”, explica.
De acordo com o professor, o Nim é originário da Índia e foi introduzido no
Brasil pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) em 1986. Como é uma planta
de clima árido, a pesquisa de Leite Torres tem como foco a adaptação do Nim aos
Campos Gerais.
Para tanto, dentro de alguns dias serão plantadas mudas da árvore na
Fazenda-escola do Cescage. Como o projeto é de longo prazo, já que a planta
leva em torno de seis anos (no clima da região; em regiões como o Norte do
Estado, são quatro anos) para começar a produzir frutos, alguns experimentos já
começaram a ser feitos. O professor explica que conseguiu sementes do Nim,
provenientes de São Paulo, e já iniciou os trabalhos.
Entre os experimentos, foram aplicadas a amêndoa e a torta (que é o que sobra
da prensagem da amêndoa para a extração do óleo) no solo. Isso faz com que a
planta absorva as substâncias presentes no Nim e fique protegida. Outro teste
foi feito com a pulverização com óleo sobre as plantas.
Segundo o professor, o melhor resultado obtido foi com a aplicação da amêndoa
diretamente no solo, em doses divididas entre o momento do plantio e a metade
do ciclo. Torres explica que os resultados foram mais interessantes nesse
experimento por a amêndoa ser mais rica nos princípios ativos.
A árvore do Nim
Cresce de 15 a 20 metros de altura
Tem tronco com 30 a 80 centímetros de diâmetro, de coloração marrom-avermelhada
Diâmetro da copa varia de 8 a 12 metros
80% da produção da azadiractina está concentrada nos frutos
As folhas também produzem a substância
Ação da azadiractina sobre as pragas
Repelência para alimentação e oviposição
Interrupção do desenvolvimento
Interrupção da ecdise (troca de pele)
Redução da fertilidade
Alterações de comportamento, como atraso de cópula
Redução de desenvolvimento de fungos e bactérias
Deformação de insetos adultos
(Diário dos Campos, 07/04/06)
http://www.diariodoscampos.com.br/20060407/magri.htm#02