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2006-04-10
Um diagnóstico assustador foi apresentado pela Organização das Nações Unidas na abertura da 8ª Conferência das Partes da Convenção de Diversidade Biológica (COP8) realizada em Curitiba entre 20 a 31 de março. Uma extinção em massa está em curso em função do uso irracional dos recursos biológicos e da destruição de ambientes naturais.

Desde de 2000, foram destruídos seis milhões de hectares por ano de florestas nativas, boa parte em função do avanço da agricultura (transgênica e convencional). Os ecossistemas costeiros e marinhos estão sendo fortemente impactados pela ação humana e já há uma degradação significativa de algas, da fauna marinha e de corais. Estima-se que pelo menos 35% dos mangues foram perdidos nos últimos vinte anos.

De acordo com o II Panorama Mundial sobre Diversidade Biológica, a demanda global por recursos biológicos já excedeu em 20% a capacidade de regeneração do planeta.

Dos 24 serviços dos ecossistemas avaliados, 15 estão em decréscimo. Entre eles a água potável, a pesca marinha, a qualidade de lugares com valor espiritual e religioso, a capacidade da atmosfera de eliminar os poluentes, o controle dos perigos naturais, a polinização e a capacidade dos sistemas agrícolas de controlar pragas.

A perda de biodiversidade afeta mais as comunidades rurais, pois elas dependem diretamente dos serviços da natureza. Há uma relação direta entre os problemas ambientais e sociais. “A destruição do meio ambiente aumenta a pobreza no mundo e dificulta o crescimento econômico dos países”, alerta o estudo da ONU.

O Brasil é o país mais megadiverso do mundo, mas ninguém sabe dizer com exatidão quantas plantas e animais existem por aqui. A mais recente estimativa aponta 1,8 milhões de espécies no país, o equivalente a 13,1% da biota mundial, segundo o professor Thomas Lewinsohn, da Unicamp. No entanto, somente 168 mil a 212 mil são conhecidas.

Nem o número de espécies conhecidas é exato. Isto se deve há falta de taxonomistas, o profissional que descreve as espécies descobertas com metodologia científica adequada, para revisar a literatura existente no país para ajustar os dados. Falta mão de obra especializada. Anualmente, são descritas 1.500 novas espécies no Brasil. Nesta velocidade, seriam necessários pelo menos oito séculos para completar o catálogo da biodiversidade brasileira. Tempo demais diante da acelerada perda de espécies.

Bioprospecção
Outros dois temas que dominaram a COP8 em Curitiba foram o acesso aos recursos genéticos e a repartição dos benefícios para as comunidades indígenas e locais. Um caso emblemático é o da rã verde (Phyllomedusa bicolor) encontrada na Amazônia principalmente no período das chuvas, sob árvores próximas aos igarapés. Elas coaxam por toda noite e na madrugada costumam ser "colhidas" por índios que utilizam a sua secreção cutânea para fazer a “vacina do sapo”, usada para fins medicinais nas aldeias. Na floresta este anfíbio tem diversos nomes: kampu, kambô e wapapatsi. O efeito da tal “vacina do sapo” é curto, porém muito forte. Quem a toma diz que se sente mais leve e mais disposto.

A secreção deste anfíbio tem atraído cientistas de todo o mundo, pois ela contém uma série de substâncias até então desconhecidos da ciência. A dermorfina é um potente analgésico e a deltorfina pode ser aplicada no tratamento da isquemia. (um tipo de falta de circulação sanguínea e falta de oxigênio, que pode causar derrames). As substâncias da secreção do sapo também possuem propriedades antibióticas e de fortalecimento do sistema imunológico. Pelo menos dez patentes já foram registradas no exterior envolvendo as duas substâncias que já estão sendo vendidas, até pela internet, de forma sintética.

E as comunidades indígenas que tem a “vacina do sapo” em sua cultura centenária ganham quanto com este comércio? Se não fossem elas, estes novos remédios nunca teriam sido descobertos. Vai demorar ainda alguns anos até que uma regra internacional seja pactuada em regime de consenso na ONU, no entanto o Brasil assumiu a frente destas negociações e, segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o tema é prioritário. Mesmo antes de um acordo mundial, uma legislação brasileira está sendo elaborada para regrar a bioprospecção dos recursos genéticos no país. Mais informações disponíveis no site www.mma.gov.br/port/cgen .

Biodiversidade
A diversidade biológica, ou biodiversidade, é o nome que se dá à variedade de organismos vivos que existem na Terra. Este conceito ecológico trata da combinação das formas de vida e a interação que há entre elas e o meio ambiente. Os ecossistemas terrestres fornecem as condições necessárias para a vida, proteção contra os desastres naturais e as doenças. Eles são, na verdade, o fundamento da cultura humana e por isso devem ser preservados.

Herança Ambiental
• A partir de 1945, mais terras foram convertidas em lavouras do que nos séculos XVIII e XIX juntos. Os sistemas cultivados cobrem um quarto da superfície terrestre do planeta.

• Aproximadamente 20% dos recifes de corais do mundo foram perdidos e outros 20% foram degradados nas últimas décadas do século XX e aproximadamente 35% das áreas de manguezais foram perdidas nesse período.

• O volume de água confinada em diques quadruplicou desde 1960, e o volume de água retida em reservatórios é de três a seis vezes maior que em rios naturais. A extração de água dos rios e lagos duplicou desde 1960; boa parte da água utilizada (70% do uso mundial) vai para a agricultura.

• Desde 1960, os fluxos de nitrogênio reativo (biologicamente disponível) nos ecossistemas terrestres dobraram e os fluxos de fósforo triplicaram. Mais da metade do volume de fertilizantes sintéticos à base de nitrogênio utilizados no planeta foram utilizados a partir de 1985.

• Desde 1750, a concentração atmosférica de dióxido de carbono aumentou cerca de 32% (de aproximadamente 280 para 376 partes por milhão em 2003).

Texto do jornalista Roberto Villar Belmonte, publicado no jornal Extra Classe do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul.
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1524&Itemid=2

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