Trinta e sete pessoas são indiciadas por invasão da Aracruz
2006-04-10
O inquérito policial que apurou os responsáveis pela invasão do Horto Florestal Barba Negra, de propriedade da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro, no dia 8 de março, determinou o indiciamento de 37 pessoas, sendo quatro estrangeiros. "As diligências, nestes 30 dias, mostraram que todos tiveram participação na autoria e na materialidade dos autos", destacou ontem o delegado regional de Camaquã, Rudymar de Freitas Rosales. O inquérito agora será encaminhado ao Ministério Público para uma possível instauração de processo criminal e denúncia ao poder Judiciário.
A investigação realizada pela Polícia concluiu que a ação na Aracruz vinha sendo planejada desde dezembro de 2005. "Os movimentos citados no processo, que são o braço da Via Campesina, realizaram mais de uma reunião para o planejamento da destruição", revelou Rosales, que ontem recebeu a imprensa, junto com a delegada Raquel Vanconcellos Dornelles, na DP de Barra do Ribeiro. Dos indiciados, a Polícia averiguou que 18 pessoas foram identificadas como lideranças dos movimentos.
Um dos indiciados, que poderá responder pelo crime de danos qualificados e cárcere privado, é o líder do MST, João Pedro Stédile. "Ele declarou publicamente o apoio", adiantou Rosales. Para o delegado, os documentos que sustentaram o inquérito estavam na sede da Associação de Mulheres Trabalhadores Rurais do Estado, em Passo Fundo.
Os estrangeiros indiciados são Corinne Chantal Dobler, jornalista suíça que tem visto provisório de profissional para estágio no Brasil, recentemente prorrogado por mais 180 dias; a dominicana Juana Ferrer de Sanches; o basco Paul Charles Nicholson; e o indonésio Henry Saragih. Os três últimos integram a Via Campesina e participaram da II Conferência Internacional de Reforma Agrária, realizada em Porto Alegre.
Dos 37 indiciados no inquérito policial sobre a invasão e destruição do Horto Florestal Barba Negra, da Aracruz, em Barra do Ribeiro, seis podem ter prisão preventiva decretada. "Eles não foram localizados. Os nomes foram tirados das listas fornecidas pelos ônibus que levaram os manifestantes até o local. Às vezes, o RG não fechava ou nem mesmo o endereço", afirmou, ontem, o delegado regional de Camaquã, Rudymar de Freitas Rosales.
Junto com a delegada de Barra do Ribeiro, Raquel Vasconcellos Dornelles, ele encaminhou o inquérito, um mês após o ato de vandalismo, ao Ministério Público Estadual.
Rosales disse que foram averiguados mais de mil nomes identificados nas provas materiais reunidas pela Polícia. "Dentro dos documentos que obtivemos, dos depoimentos, a conclusão do inquérito nesse prazo foi um grande avanço", disse Rosales. Para ele, o Ministério Público dispõe de elementos suficientes para dar andamento ao processo: oferecer denúncia, solicitar diligência ou pedir o arquivamento.
Os crimes cometidos pelos indiciados, segundo apurou o inquérito policial, composto por mais de cinco caixas de documentos e provas, são de danos qualificados e cárcere privado. São citadas no inquérito seis associações e entidades que compõem o braço da Via Campesina como responsáveis pela articulação da invasão no horto da Aracruz e da luta pela causa da extinção da monocultura do eucalipto.
Constam no inquérito os nomes do Movimento das Mulheres Camponesas, Movimento dos Pequenos Agricultores, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Movimento dos Atingidos pelas Barragens, Pastoral da Juventude Rural e Comissão da Pastoral da Terra.
A direção da Aracruz, por meio de sua assessoria de comunicação, informou que não irá se pronunciar enquanto não analisar o resultado do inquérito. Contudo, mantém a decisão inicial de buscar o ressarcimento dos prejuízos causados à empresa com a destruição. O cálculo da Aracruz é de R$ 6 milhões, se a empresa não levar adiante os planos de ampliação. O prejuízo pula para R$ 20 milhões se a Aracruz continuar com a previsão de investir no Estado, visto que terá que repor equipamentos destruídos.
A coordenação do MST informou que não comentará o resultado das investigações, que indiciou o líder do movimento, João Pedro Stédile, como um dos "mentores da ação". A Via Campesina, que teve seu nome várias vezes relacionado através dos seis movimentos citados no processo, espera conhecer detalhes do inquérito para falar.
(CP, 08/04/06)