Espécie de peixe é descoberta em Santos
2006-04-07
Pesquisadores da Universidade Santa Cecília descobriram uma espécie de peixe na zona estuarina de Santos. Classificado como Opsanus brasiliensis, o animal foi identificado após dois anos de pesquisa sobre a ocorrência das espécies na Baía de Santos e o impacto ambiental causado na vida marinha pelo porto, o maior da América Latina.
A descoberta foi feita pelos biólogos Marcos Matheus Rotundo, Luis Alberto Zavalla-Camin e o estudante Mário Spinelli. Inicialmente, os pesquisadores pensaram tratar-se de uma espécie migrante da região do Golfo do México para a costa brasileira. No entanto, logo descobriram não haver relato de ocorrência em nenhum outro lugar do mundo de um peixe com essas características.
"Percebemos que ele não fazia parte das ocorrências taxonômicas, então enviamos para outros pesquisadores", conta Rotundo. "Há algum tempo existem relatos de pescadores, pois ele é fácil de ser capturado na zona estuarina."
CARACTERÍSTICAS
O gênero Opsanus é um dos 19 da ordem Batrachoidiformes. A espécie brasiliensis tem hábitos noturnos. Adaptou-se ao meio e sofreu modificações em relação a outras espécies conhecidas, como Opsanus phobetron, Opsanus pardus e Opsanus beta. A coloração é mais escura que os demais do gênero provavelmente em função do tipo de sedimento do fundo do mar da região, pois o peixe usa o meio para se camuflar. Ele tem nove vértebras pré-caudais (as outras espécies têm 10 ou 11) e alterações nos padrões biométricos, como tamanho das nadadeiras, cabeça e distância entre os olhos.
Para Rotundo, o Opsanus brasiliensis pode ter vindo para o Brasil na água de lastro (que dá estabilidade às embarcações e é dispensada no mar quando necessário) de navios retirada na América Central, região de ocorrência das outras espécies do gênero. "Provavelmente chegou na forma de ovos ou larvas, caiu no estuário e se desenvolveu", diz.
A espécie foi enviada para centros de pesquisa e museus no Brasil e no exterior, como o National Oceanic & Atmospheric Administration (NOAA), nos Estados Unidos, o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e o Museu Nacional, no Rio. "Isso mostra que ainda há muito a ser explorado no ambiente marinho", diz o biólogo e professor da USP José Lima de Figueiredo. "Esse é um conhecimento obtido vagarosamente."
Os pesquisadores pretendem agora iniciar a investigação da espécie. Serão analisados outros hábitos do Opsanus brasiliensis, como a alimentação e a reprodução.
(O Estado de S. Paulo, 06/04/06)