O Greenpeace expôs ontem (06/04) o papel do McDonalds, maior cadeia de fast-food do mundo, na destruição da Amazônia. O relatório
Comendo a Amazônia, publicado pelo Greenpeace Internacional, revela como a demanda mundial por soja produzida na Amazônia alimenta a destruição da maior floresta tropical do mundo, incentivando o desmatamento, grilagem de terras e violência contra as comunidades. A investigação mostra como a soja amazônica vai parar nas prateleiras de supermercados e redes de fast-foods da Europa.
Como resposta, dezenas de frangos de dois metros de altura invadiram várias lanchonetes do McDonalds na Inglaterra e se acorrentaram às cadeiras. Durante a noite, centenas de voluntários do Greenpeace panfletaram as ruas do país, distribuindo folhetos com uma ilustração do Ronald McDonald segurando uma motosserra. Na Alemanha, ativistas também se reuniram em frente à sede européia do departamento de assuntos ambientais do McDonalds e exigiram que a rede de fast foods pare de destruir a Amazônia.
O relatório Comendo a Amazônia é resultado de uma investigação sigilosa realizada durante um ano, nas regiões de produção e consumo de soja, baseada em análise de imagens de satélites, sobrevôos, análise de dados do governo e pesquisas em campo.
O documento revela o papel de três multinacionais norte-americanas de commodities agrícolas – ADM (Archier Daniels Midland), Bunge e Cargill – na invasão da Amazônia, impulsionando o desmatamento ilegal – muitas vezes, feito com trabalho escravo, a grilagem de terras públicas e a violência contra comunidades locais. ADM, Bunge e Cargill controlam 60% da produção de soja no Brasil e mais de três quartos da indústria de processamento na Europa, fornecendo farelo e óleo de soja para alimentar animais.
“Estamos destruindo a maior floresta tropical do planeta para dar lugar à soja – uma espécie exótica, que será transformada em ração para alimentar gado e frango na Europa”, disse Paulo Adário, coordenador da campanha da Amazônia, do Greenpeace. “Depois, este gado e este frango será vendido no McDonalds mais próximo e você pode estar comendo um pedaço da Amazônia”.
A Cargill construiu ilegalmente seu porto às margens do rio Tapajós, em Santarém, no Pará, de onde exporta soja para seu terminal em Liverpool, na Inglaterra. De lá, a soja vai até a produtora de alimentos Sun Valley, também de propriedade da Cargill que, por sua vez, utiliza a soja para alimentar frangos para produzir McNuggets, distribuídos para as lanchonetes do McDonald’s em toda a Europa.
Relatório recente da revista científica Nature, de 23 de março de 2006, alerta para o fato de que 40% da Amazônia serão perdidos até 2050 se a fronteira agrícola continuar se expandindo no mesmo ritmo, representando uma ameaça à biodiversidade e agravando o quadro de mudanças climáticas. Algumas fazendas cultivam soja transgênica na Amazônia.
“Este crime começa na Amazônia e se estende por toda a indústria de alimentos da Europa. Redes de supermercados e de fast foods, como o Mc Donalds, devem se certificar que não estão usando soja produzida na Amazônia em seus produtos se não quiserem ser cúmplices de crimes ambientais e sociais, como trabalho escravo e outros abusos aos direitos humanos”, disse Gavin Edwards, coordenador da campanha de Florestas do Greenpeace Internacional.
Greenpeace acompanhou soja que saiu da Amazônia até McDonalds da Europa
O Greenpeace têm evidências que confirmam que a soja cultivada na Amazônia é exportada através do porto de Santarém para a Europa, juntamente com soja produzida em outras regiões do País. De março de 2005 a fevereiro de 2006, a Cargill exportou mais de 220 mil toneladas de soja brasileira de Santarém para Liverpool, na Inglaterra.
O Greenpeace monitorou a soja de Santarém desde a unidade da Cargill em Liverpool até a fábrica de ração animal, onde os frangos são transformados em Chicken McNuggets e outros produtos pela Sun Valley. Um antigo funcionário da Sun Valley disse ao Greenpeace que 25% da ração dos frangos vem da unidade da Cargill em Liverpool. A Sun Valley abastece o McDonalds com carne de frango em toda a Europa.
Através de unidades separadas do McDonald’s em Wolverhampton e Orleans, na França, a Sun Valley é a maior fornecedora de aves do McDonald’s na Europa, produzindo metade de todos os produtos de frango utilizados pela rede de fast-foods em toda a Europa. Em uma reunião realizada na semana passada entre o Greenpeace da Inglaterra e o McDonald’s, a companhia não negou que seus frangos sejam alimentados com soja produzida na Amazônia. O Greenpeace questionou o McDonald’s pela primeira vez sobre a ração utilizada para alimentar seus frangos há três meses.
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(2) O relatório “Comendo a Amazônia” está disponível em inglês em: http://www.greenpeace.org/international/press/reports/eating-up-the-amazon
O sumário executivo em português pode ser lido em:
http://www.greenpeace.org.br/amazonia/comendoamz_sumexec.pdf
(Informações do Greepeace)