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2006-04-05
As explosões de celulares ocorridas nos últimos meses chamam a atenção para um outro problema pouco discutido: o descarte de baterias. Elas podem causar danos ao meio ambiente, já que contêm metais, como cádmio, lítio e cobalto, e solventes orgânicos, produtos nocivos também à saúde. Porém, muita gente joga as baterias no lixo comum ou larga no fundo de gavetas.

É pensando nisso que o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, está reformulando a resolução 257, que trata do tema. Nesta quarta-feira (5), a nova versão deve ficar pronta e pode obrigar os fabricantes de celular a reforçar as campanhas por reciclagem de baterias.

- Vamos incluir claramente a questão das baterias de celulares, abordando de uma forma global o tema, da coleta às campanhas de conscientização. De acordo com a lei de Crimes Ambientais, quem produz tem de dar um destino para esses materiais - afirma Ruth Tabaczenski, assessora técnica do Conama.

De acordo com ela, a idéia é tornar a resolução mais abrangente, para que campanhas de conscientização da população sejam mais freqüentes. Pelo lado dos fabricantes, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) afirma que as indústrias de pilhas e baterias associadas à entidade não estão obrigadas a fazer o recolhimento. Elas seriam responsáveis pela coleta de pilhas e baterias cujos teores de metais ultrapassem os limites estabelecidos na própria Resolução 257. Mas, no caso das baterias de celulares, pesquisadores recomendam que todas as unidades sejam recolhidas.

- Em locais inapropriados, essas baterias podem explodir, devido ao sol e à deterioração, e chegar ao lençol freático, de onde pode contaminar os alimentos que consumimos - explica a pesquisadora Maria de Rosário Hurtado, do CPqD, centro desenvolvimento e certificação de produtos para telecomunicações e outros setores, de Campinas, no interior de São Paulo.

- Os metais, em baixa quantidade, não chegam a causar problemas para o organismo. Mas eles têm efeito cumulativo, ficam no corpo, o que pode gerar problemas - afirma a pesquisadora Maria de Fátima Rosolen, também do CPqD.

- Elas também não podem ser deixadas dentro de gavetas. Ainda não há estudos para saber o que ocorre com esse material quando fica parado - acrescenta Maria do Rosário.

Assim como os pneus, que foram achados aos montes jogados dentro do Rio Tietê durante as obras de aprofundamento da calha, as baterias de celular correm o risco de se transformar em uma nova fonte de poluição para a cidade.

- No Brasil todo, são 90 milhões de linhas celular em operação. Considerando que muita gente tem mais de um aparelho ou de uma bateria, calculamos que haja 180 milhões de baterias em circulação. Isso tudo não pode ir para a natureza - diz Maria do Rosário.

Só no estado de São Paulo são 21,7 milhões de linhas de celulares ativas - o que significa que um em cada dois moradores de São Paulo carrega um celular na bolsa ou no bolso. O problema é ainda maior quando se vê que o aparelho se tornou objeto de moda. Ou seja, um só consumidor chega a trocar de aparelho pelo menos uma vez por ano para levar sempre no bolso o último modelo, o mais high-tech. Aparelho usado não chega a ter exatamente um mercado comprador, já que as operadoras oferecem facilidades para a compra de um novo em folha. Resultado: uma penca de aparelhos pode estar indo para o lixo comum, junto com suas baterias.

Quando alguém compra um celular novo, o manual do proprietário orienta a fazer o descarte da bateria apenas nas lojas da rede. Orientam também sobre os cuidados para evitar acidentes. O problema é que pouca gente lê manual de instrução e faltam campanhas ostensivas para levar aos usuários essas informações. Mesmo nas lojas de venda de aparelhos novos, poucas têm um lugar visível onde baterias velhas e fora de uso podem ser deixadas. São exceção as que indicam o local onde o descarte pode ser feito. Além disso, dificilmente os vendedores orientam o consumidor sobre os cuidados com a bateria, tanto no uso quanto na hora de jogar fora.

- É visível que falta esforço das empresas para promover a reciclagem desses materiais. É o princípio da precaução. A Lei de Resíduos Sólidos está parada há anos no Congresso, mas não pode ser usada com alegação pelos fabricantes para não promover a conscientização - afirma Aron Belinky, gerente de projetos especiais do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.

No caso das pilhas, a Abinee informa que algumas delas podem ser tratadas como lixo doméstico. Nesses casos, há um símbolo na embalagem mostrando que elas podem ser jogadas em um cesto comum. Quando levam componentes tóxicos, a entidade afirma que há uma explicação de como proceder.

A associação, no entanto, alerta para o perigo de produtos piratas, que representam quase 33% do mercado de pilhas e baterias do Brasil. Esses produtos podem ser reconhecidos pelos baixos preços, por embalagens que não estão em português e que não têm orientação sobre o que fazer com o produto esgotado, por terem nomes estranhos e não trazerem indicações sobre o país de origem ou importador. (Globo Online, 5/4)

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