Renasce tensão entre Uruguai e Argentina por conta das Papeleiras
2006-04-05
Em uma decisão que fez recrudescer a tensão no Cone Sul, o governo uruguaio
anunciou ontem (04/04) que a reunião entre os presidentes Tabaré Vázquez
(Uruguai) e Néstor Kirchner (Argentina) não será realizada. O encontro estava
previsto para ocorrer hoje (05/04) ou amanhã (06/04). O anúncio do cancelamento,
feito pelo secretário da Presidência do Uruguai, Gonzalo Fernández, acabou com
a expectativa de que ocorreria uma cúpula presidencial para tentar pôr fim à
maior crise diplomática entre os dois países nos últimos 50 anos.
O pivô do conflito é a construção de duas fábricas de celulose no município
uruguaio de Fray Bentos, às margens do Rio Uruguai, na fronteira com a
Argentina. Em Montevidéu, as fábricas são consideradas "cruciais" para a
recuperação econômica uruguaia. Mas, em Buenos Aires, Kirchner opõe-se
visceralmente às instalações, alegando que elas poluirão o rio.
Segundo Fernández, a Argentina quer um estudo mais detalhado sobre o impacto
ambiental das fábricas, trabalho que exigirá tempo. O secretário da Presidência
citou a resistência da Botnia (finlandesa) em suspender a construção da fábrica
por um prazo prolongado como o principal fator de tensão. A companhia anunciou
que se dispunha a paralisar suas obras por 10 dias - o que lhe causaria perdas
de US$ 15 milhões. Mas o governo argentino exigia um prazo de 45 dias. Desta
forma, naufragaram as negociações para iniciar o processo de apaziguamento.
- A Botnia não entendeu a gravidade do conflito binacional - lamentou Fernández.
A outra empresa, a espanhola Ence, já havia suspendido a construção. Esta é a
segunda reunião cancelada entre os dois presidentes. Na ocasião anterior, o
encontro foi suspenso unilateralmente por Kirchner.
Manifestantes podem retomar bloqueios de pontes
Ontem, analistas políticos indicavam que, diante do impasse, a tensão entre os
dois países tenderá a crescer drasticamente. Há risco de os moradores argentinos
da fronteira - especialmente os da cidade argentina de Gualeguaychú -
retomarem os piquetes que, em fevereiro e março, bloquearam duas das três pontes
que ligam os dois países. No pequeno Uruguai, os piquetes permanentes
realizados durante 45 dias foram encarados como um "bloqueio econômico" do
vizinho "grande e prepotente" - a Argentina.
(ZH, 05/04/06)