Colocação de arame farpado em torno de represas de Caxias do Sul esbarra na lei
2006-04-05
Uma barreira legal poderá impedir o Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto
(Samae) de instalar cerca de arame farpado por 25 quilômetros em torno das
áreas das represas do Faxinal e da Maestra. O Código de Posturas do Município,
em vigor desde agosto de 2003, proíbe o uso de arame farpado em áreas dentro do
perímetro urbano caxiense - o caso de quase toda a Maestra e da parte do Faxinal
vizinha à zona populacional do bairro Ana Rech.
O diretor-geral do Samae, Marcus Vinicius Caberlon, diz que os técnicos do
órgão vão estudar o empecilho para descobrir se também se aplica à obra.
Caberlon considera a legislação genérica, o que poderia abrir a brecha, por
exemplo, para o uso do arame farpado em divisas com propriedades rurais que
ficam ainda no perímetro urbano.
- Jamais vamos desrespeitar a lei. Onde houver conflito, vamos substituir o
arame farpado por arame liso - compromete-se Caberlon, que já descarta o uso do
recurso em regiões com concentração populacional.
Se depender da opinião de vereadores da oposição, o diretor já pode
providenciar a troca do material, determinado pelo edital de licitação
publicado em 10 de fevereiro. Eles acreditam que o Código de Posturas deixa
claro o impedimento.
- A proibição ocorre porque o arame farpado é perigoso e pode machucar crianças
e adolescentes. Em outras cidades, já se registrou até a perda de visão em
razão da cerca - explica o parlamentar petista Renato de Oliveira.
Oliveira e o colega Alfredo Tatto (PT), diretor do Samae em parte da gestão de
Gilberto Pepe Vargas, usam a ilegalidade como argumento para mostrar
contrariedade à medida. Os dois petistas também questionam a eficácia da medida
e acreditam que o setor tem outras prioridades, como o reforço no tratamento
de esgoto e água.
Argumentos prós e contras
O Samae deve cercar as três principais barragens caxienses?
SIM
- A cerca servirá para sinalizar os limites das propriedades do Samae.
Isso ajudará a evitar a depredação do patrimônio público, a destruição dos
recursos naturais e o uso indevido das barragens. O órgão costuma flagrar
depósito de lixo, atividades pastoris e banho nos locais, arriscados em razão
dos perigos das águas paradas das represas
- A cerca tornará a fiscalização mais eficaz, porque contribuirá para que os
fiscais tenham a certeza do que se trata de área do Samae ou de outros
proprietários
- O investimento nas cercas não comprometerá o investimento em outras áreas,
como a ampliação no tratamento de esgoto e a captação de água. O Samae projeta
gastar R$ 120 milhões nos próximos cinco anos na construção de estações de
esgoto, com recursos de financiamentos
- A escolha de muro no Dal Bó se deve a alternativas anteriores, como a
colocação de telas, não terem resistido ao vandalismo. As outras duas áreas,
por terem menor densidade populacional na vizinhança, permitem a instalação de
cerca de arame
NÃO
- Não é prioridade. O Samae gastaria melhor se investisse em redes de água ou
esgoto
- R$ 800 mil equivalem a dois terços do custo da adutora bruta que ampliará a
capacidade da Estação de Tratamento de Água Parque da Imprensa, cuja instalação
em fevereiro deixou a maior parte de Caxias do Sul sem água
- Para evitar o uso e a ocupação irregular das áreas próximas à bacia, a melhor
estratégia é reforçar a fiscalização. A destinação do dinheiro para ampliar o
número de fiscais registraria melhores resultados do que a instalação de cercas
- O recurso também poderia servir para a criação de programas para estimular o
uso sustentável das áreas pela população. Isso reforçaria a consciência
ecológica dos vizinhos das represas e de outros moradores de Caxias do Sul e
reduziria a depredação e a destruição da natureza nos locais
- A construção do muro no Dal Bó pode estimular as ações irregulares, como o
depósito clandestino de lixo, porque reduziria as chances de flagrante pela
comunidade.
Muro retiraria vista do Dal Bó
O vereador Alfredo Tatto (PT) critica a construção do muro com altura de 2,2
metros e com extensão de 770 metros em uma das margens do sistema Dal Bó. Para
ele, a obra acabará com a vista da represa, o que estimularia o uso irregular
da área.
- O muro não vai conseguir restringir a utilização da área. Até pelo contrário,
porque o pessoal não vai mais conseguir enxergar o outro lado - reforça o
parlamentar.
O diretor-geral do Samae, Marcus Vinicius Caberlon, defende a necessidade do
muro, feito em material pré-moldado ao estilo do muro do Zoológico de Sapucaia
do Sul, na Grande Porto Alegre, porque tela e corrimão não resistiram ao
vandalismo em tentativas anteriores.
- É hora de fazer uma obra de caráter definitivo. Devemos parar de investir em
obras que não sejam assim, uma regra geral de administrações passadas - responde
Caberlon.
(Pioneiro, 05/04/06)