Prefeitura ajuda a mobilizar índios da Reserva da Guarita
2006-04-05
Os índios da Reserva da Guarita contam desde a semana passada com o apoio
logístico da Secretaria do Indígena de Redentora para resistir à decisão da
Justiça Federal que declarou ilegal um acordo de assistência técnica mantido há
dois anos entre líderes indígenas, fornecedores de insumos e agricultores
brancos.
A secretaria, comandada pelo descendente indígena Paulo Ribeiro, mobilizou os
caingangues durante os atos de protesto contra a decisão judicial. Redentora,
Tenente Portela e Miraguaí são os três municípios por onde se espalham os 25
mil hectares da Reserva da Guarita, na qual vivem 7 mil índios atualmente em
conflito com as autoridades. A Polícia Federal (PF) foi enviada para a reserva
para acompanhar a colheita e coletar provas da ilegalidade do acordo.
O acerto, que teve o secretário como um dos seus articuladores, possibilitou o
plantio de 3 mil hectares de soja na Guarita, que devem produzir cerca de 90 mil
sacas. O principal objetivo da secretaria é tornar o índio um agricultor
profissional que cultive a sua lavoura de sobrevivência e a de soja para vender.
O acordo é a ferramenta que propiciaria os créditos necessários para os índios
se tornarem produtores profissionais, explicou o secretário.
- O acordo é legal, e se existir alguém ilegal, que seja punido. Reivindicamos
o direito que o colono tem de ter crédito para financiar a sua lavoura. Queremos
ter os mesmo direitos que os nossos vizinhos - comentou Ribeiro, filho de um
índio com uma branca.
A posição de Ribeiro é apoiada pelo cacique dos caingangues, Valdonês Joaquim,
e pelo prefeito de Redentora, Adelar Paschoal (PMDB).
- Os índios da Guarita representam 50% da nossa população e um terço do nosso
colégio eleitoral. Não posso virar as costas a esta realidade. E o acordo é uma
maneira de acabar com a miséria na comunidade - declarou o prefeito.
Ribeiro recordou que há pouco tempo a reserva da Guarita virou notícia
internacional porque morriam, em média, 30 crianças de desnutrição por ano.
Programas sociais conseguiram acabar com a mortalidade. Para ele, a miséria
voltará se a PF continuar incomodando os fornecedores dos índios porque eles
não irão financiar as futuras lavouras.
- Os índios da Amazônia têm peixe e frutas para comer. Nós temos de plantar,
somos agricultores. E precisamos de crédito - disse.
A criação da Secretaria do Indígena em Redentora é criticada por Ivonete
Campregher, coordenadora executiva do Conselho Estadual dos Povos Indígenas:
- A criação da secretaria é uma manobra para favorecer os arrendamentos
clandestinos na Guarita.
O atual conflito na Reserva da Guarita
> Ao acompanhar a colheita da safra de soja na Reserva Indígena da Guarita, a
Polícia Federal busca provas de que o contrato de assistência técnica entre
brancos e índios, em vigor há dois anos, é uma fórmula de arrendamento
clandestino das terras da União. A presença dos federais foi determinada por
uma medida liminar conseguida pelo Ministério Público Federal na Justiça
Federal
> Inicialmente, a medida cautelar determinava que toda a safra fosse depositada
nos galpões da Cotrijuí e que o dinheiro da venda ficasse retido até que a
situação fosse esclarecida.
> Os caingangues conseguiram flexibilizar o comprimento da ordem judicial
trancando um trecho da RS-330 na quinta e na sexta-feira.
(ZH, 05/04/06)