Madeireiras ilegais têm prazo esticado para regularizar situação
2006-04-05
Madeireiras de Mato Grosso com toras ilegais em seus pátios têm até o final do
mês de maio para regularizar sua situação junto à Secretaria Estadual de Meio
Ambiente (Sema). O prazo inicial, de 30 dias, deveria ter sido encerrado em 31
de março, mas deputados estaduais correram para estender esse período alegando
que grande parte das empresas não procurou a Sema em tempo. Aprovaram na
Assembléia Legislativa mais 60 dias para os madeireiros ilegais enquadrarem-se
na lei.
Mesmo com a chance de abater 70% da multa ao se declarar infratores, poucos
demonstraram interesse no programa Pró-Regularização. A iniciativa obriga o
responsável a pagar uma taxa de reposição florestal de R$ 26,27 por metro
cúbico desmatado, mas assim mesmo a Sema garante que a proposta é vantajosa
financeiramente. Suspeita-se que uma das razões para a baixa adesão tenha a ver
com o receio de, admitindo irregularidades, eles tivessem a madeira apreendida
e virassem alvo de investigações do Ministério Público.
Mas ampliar o prazo para os madeireiros resolverem suas irregularidades foi uma
idéia temerária. Com a estação das chuvas chegando ao fim, começa a época de
derrubadas, o que aumenta o risco de os madeireiros aproveitem o tempo extra
para encher os pátios.
Para o deputado petista Saguas Moraes de Souza, um dos defensores do artifício,
o aumento do prazo foi necessário porque os madeireiros não tinham clareza
sobre as vantagens do Pró-Regularização. “Não há nenhum mal no aumento desse
prazo. O setor madeireiro está paralisado”, justifica.
Curioso é que o programa da Sema foi estendido sem a concordância da própria
secretaria. O órgão estadual julgava mais prudente estender o prazo por no
máximo 30 dias, não o dobro disso. Agora que a lei foi aprovada, as declarações
oficiais garantem que está tudo sob controle. Mas para impedir uma investida
contra as florestas de olho no prazo de regularização, a Sema reconhece que
precisa haver um esforço de fiscalização, atribuição compartilhada com o Ibama.
Segundo Félix Resende, supervisor de Transporte de Produtos Florestais, as
chuvas e as estradas ruins têm impedido a retirada de madeira. “Até o fim de
maio pode até parar de chover, mas a mata não seca da noite para o dia. Só mesmo
a partir de junho o corte começa”, opina. Mas como mostrou O Eco em 2005, não
se deve descartar a possibilidade do corte antecipado. Resende também confia no
impacto da ilegalidade no bolso dos madeireiros. “Irregulares, eles vão
continuar perdendo dinheiro. Se não ajeitarem a situação, não poderão serrar
nem transportar o que já têm. É pior pra eles”.
Quem está na ponta da fiscalização diz que a história não é bem assim. As
madeireiras ilegais, responsáveis por cerca de 70% dos desmatamentos em Mato
Grosso, operam com volume reduzido se comparado ao ano passado, mas operam.
“Elas estão funcionando, observamos movimentação de caminhões com carga ilegal,
mas várias madeireiras estão em situação precária”, relata José Geraldo Araújo,
gerente regional do Ibama em Sinop.
No que depender da Assembléia Legislativa, elas ganharam uma nova chance de
esquentar sua prática ilegal a preço de banana. Resta ver se repetirão a
estranha recusa de aderir à primeira versão do Programa. E saber como estarão
seus pátios ao final do mês de maio.
(Andreia Fanzeres, O Eco, 04/04/06)
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