(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2006-04-05
Três municípios goianos da região do Entorno apresentam índices altos de devastação do cerrado. Cabeceiras, Valparaíso e Abadiânia perderam mais de 60% de cobertura vegetal nativa. O desmatamento afeta diretamente os moradores do Distrito Federal. Vem dos municípios goianos a maior parte da água que os brasilienses consomem. A falta do verde também prejudica a fauna, já que os animais precisam de corredores naturais para se alimentarem e procriarem.

O alerta é da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) de Goiás. Com base em fotos aéreas e dados do Sistema Integrado de Alerta ao Desmatamento (Siad), atualizados em 2005, a secretaria mapeou toda a área verde dos 246 municípios goianos. Metade tem menos de 20% do bioma original. Na outra ponta, os números indicam que apenas seis cidades têm mais de 80% de seus territórios preservados, e 18 conservam entre 60% e 79,99% de sua área.

Apesar de estar em uma posição intermediária no ranking do desmatamento, com 64,42% de mata nativa preservada, Águas Lindas, distante 39km do Plano Piloto, é o município do Entorno que mais preocupa os técnicos goianos e os ambientalistas brasilienses. Os loteamentos da cidade estão muito próximos da Barragem do Descoberto, de onde sai a água que abastece 65% do DF. Loteamentos irregulares

Diferente dos municípios do sul e oeste goiano, onde o grande vilão é a monocultura de grãos, a causa do desmatamento em Águas Lindas e na maioria das cidades do Entorno é a ocupação desordenada do solo. Fruto da proliferação de loteamentos irregulares, a população saltou de 5 mil moradores no início da década passada para 160 mil em 2005 – crescimento de 3.200%. Apesar das tímidas investidas do governo para conter a grilagem e da falta de infra-estrutura (pavimentação, esgotamento sanitário, etc), ainda há muita gente de malas prontas para se mudar para lá, atraída pela especulação imobiliária.

Os órgãos ambientais de Goiás e do governo federal tentam barrar novas construções próximas ao lago do Rio Descoberto. Os lotes em condomínios de classe baixa são oferecidos por meio de faixas nas ruas e avenidas da cidade. “O problema é que o município não tem rede de esgoto. Os moradores fazem fossas de 7m, 10m, que contaminam o lençol freático e a água que bebemos”, observa a geógrafa Mara Moscoso, diretora do Fórum das ONGs Ambientalistas do DF e Entorno.

O desmatamento provocado pelo crescimento desordenado também ameaça a saúde dos moradores do Entorno. A existência de clubes e chácaras às margens do Ribeirão Saia Velha pode comprometer o manancial, inviabilizando o seu uso para o abastecimento público de Valparaíso e Cidade Ocidental. A Empresa de Saneamento de Goiás (Saneago) considera que as margens e as nascentes do Ribeirão Saia Velha estão bastante degradadas.

Em Valparaíso, um dos afluentes do Saia Velha, o Córrego do Mangal, está sendo engolido por casas construídas em áreas invadidas. Alguns moradores levam o esgoto da residência direto ao córrego, por meio de precárias tubulações. Outros jogam o lixo nas margens e dentro do riacho. Eles destruíram toda a mata ciliar ao longo dos 300m de córrego que corta o bairro surgido na antiga Chácara Ipiranga.

Mau cheiro - Até 10 anos atrás, quando barracos começaram a ser erguidos a toque de caixa no morro ao lado, o córrego tinha água cristalina e pura. As poucas famílias de chacareiros bebiam dela. Também pescavam e lavavam suas roupas. “A gente tirava muito peixe daí, principalmente bagre. Hoje, não dá nem para chegar perto, por causa do mau cheiro”, reclama o servente de pedreiro Valdeci Cândido da Silva, 50 anos, que, há três décadas se mudou para uma das chácaras da região com os pais e sete irmãos. Hoje, mora em um dos barracos à beira do Mangal.

As agressões alteraram o curso do córrego. Afunilado pelo lixo, ele ameaça transbordar a cada chuva forte. “Um dia, ás águas vão subir tanto que entrarão nas casa daqui”, prevê o pedreiro Antônio Nilson Ferreira Soares, 37 anos. Ele conta que o Mangal já chega poluído ao bairro onde mora com a família. “Ele recebe todo o esgoto da Cidade Jardim (bairro de Valparaíso). Por isso não posso mais tomar banho nele com meus três filhos, como eu fazia quando cheguei aqui”.

Livres da soja - O mapeamento dos técnicos ambientais de Goiás também mostra um aspecto positivo: dos 15 municípios com maior percentual de cobertura vegetal nativa no estado, três estão no Entorno. Santo Antônio do Descoberto, com 81,26% de área conservada, aparece em primeiro lugar, seguido de Cocalzinho, com 73%, e Planaltina (Brasilinha), 72,83%.

O Entorno ainda está em uma condição privilegiada porque não sofre tanta pressão dos plantadores de soja, segundo o superintendente de Biodiversidade da Secretaria de Meio Ambiente goiana, Emiliano Lobo de Godoi. “Ainda próxima da região há, por exemplo, o Vão do Paranã, a área mais preservada do estado”, destaca. Ele diz também que o governo estadual tem criado leis para frear o desmatamento.

Uma delas, que entrou em vigor em maio do ano passado, exige que os municípios destinem 10% de seu território como Área de Preservação Permanente (APP). Já os fazendeiros são obrigados a manter 20% da vegetação nativa em sua propriedade. “Com isso, temos pelo 30% de área preservada, o mínimo necessário”, comenta Godoi.

Extinção - Goianira, na região metropolitana de Goiânia, e Damolândia, no centro do estado, têm cobertura vegetal original próxima do zero. Com uma preservação abaixo de 10%, espécies que poderiam ter algum tipo de potencial econômico são eliminadas por serem endêmicas (ocorrem somente em determinado local). Cidades com menos de 20% de área preservada são consideradas críticas para o bioma, que a partir desse índice começa a sofrer severos danos nos seus recursos genéticos. “A fragmentação do bioma provoca erosão genética. As espécies começam a se isolar, reduzindo o seu número e com isso iniciando um processo de extinção”, explica Emiliano Godoi.
(Correio Braziliense, 04/04/06)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -