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2006-04-05
Um dos mais audaciosos projetos econômicos do Acre, a usina Álcool Verde mostra sinais de seu vigor: um quinto da área de cana-de-açúcar necessária ao início da operação das caldeiras já foi plantado e até maio de 2008 estarão sendo produzidos 45 milhões de litros de álcool hidratado, utilizado como combustível de carro.

Com algumas adaptações, a usina poderá produzir o açúcar e álcool anidro, usado O projeto reúne pequenos produtores rurais, usineiros de outros estados, fazendeiros e o governo estadual em uma parceria resultante de anos de estudos e esforços que envolveram instituições e parlamentares estaduais e federais e empresários.

Ao final da fase de implantação os investidores terão aplicado cerca de R$ 60 milhões e se os cálculos estiverem corretos, a Álcool Verde irá abastecer, além do próprio mercado acreano, os Estados do Amazonas e Rondônia.

O governo local estimula o empreendimento por se tratar de negócio que tem vários aspectos positivos: recupera um patrimônio que se encontrava aos escombros; cria uma cadeia de produção, gerando trabalho e renda para milhares de pessoas, e é ambiental correto porque produzirá energia renovável.

"Esse projeto não entra em choque com a floresta", disse o governador Jorge Viana, que acompanhou uma comitiva de empresários e envolvidos com o projeto a uma visita à sede da empresa, localizada na extinta Alcobrás. Atualmente a Álcool Verde é o resultado de dois grandes grupos do setor sucroalcoleiro representadas pelos empresários Eduardo Farias, do Pernambuco, e Maurílio Biagi Filho, de São Paulo. Farias detém 65% da cota de participação societária; Biagi possui 10%; o Governo do Acre, 5%, e os empresários acreanos, 25%. O consórcio é liderado pelo Grupo Farias.

O processo de soerguimento começou quando, através de acordo com o governo federal, o governo do Acre assumiu a massa falida da Alcobras e, mais tarde, conduziu o processo de transferência para a iniciativa privada. Na área de 11,5 mil hectares da usina foram criados dois projetos de assentamento. Os assentados irão realizar parte do plantio da cana-de-açúcar e fornecimento de mão-de-obra em conjunto com produtores rurais de médio e grande, em sua maioria criadores de boi.

Chegou a industrialização - Entre os integrantes da comitiva, não há mais dúvida que instalou-se no Acre a era da consolidação do setor produtivo. "O Estado vice agora a fase da industrialização", disse o secretário de Agricultura, Mauro Ribeiro.

Jorge Viana calcula que existem mais de dez empreendimentos industriais no Vale do Acre, a maioria localizada no eixo da Estrada do Pacífico -uma das rotas de exportação em estudo pelo Grupo Farias.

"Desde nossas usinas em Goiás até os portos de Santos ou Paranaguá são 1,5 mil quilômetros. Dali, os navios, com morosidade, chegam ao Canal do Panamá e dali para aos portos do Pacífico. Pela Estrada do Pacífico o caminho será mais curto para os mesmos destinos", disse Eziquiel Alves da Siva, procurador da Grupo Farias. Desde Rio Branco até os portos do Peru são cerca de 1,5 mil quilômetros.

Álcool Verde é patrimônio do Acre
O Grupo Farias mandou inscrever na placa da usina a frase "patrimônio do Acre", uma garantia, segundo o usineiro Eduardo Farias, de que o negócio não é somente mais um empreendimento da iniciativa privada mas um projeto de alcance econômico e social. "E é isso que queremos, que a Álcool Verde seja um patrimônio do Acre. Estamos resgatando ele para isso", disse Farias.

De acordo com ele, o projeto entre agora em uma nova e difícil etapa, que é de produção de mudas. Há 14 variedades de cana-de-açucar sendo plantadas na área da usina e nas terras dos agricultores parceiros -a empresa fornece as mudas, faz o acompanhamento e ao final compra a produção. Atualmente, as mudas (em talos) chegam de carretas vindo de Estados do Centro-Oeste, especialmente Mato Grosso e Goiás.

"Mas tudo é superável", completou o empresário, demonstrando grande motivação no negócio que num primeiro momento, a partir de 2008, estará gerando cerca de dois mil empregos com carteira assinada e outras centenas indiretamente em toda a região do Alto Acre, com ênfase para os municípios de Senador Guiomard e Capixaba, este a sede da companhia.

Negócio ambientalmente correto
A produção de cana-de-açúcar no Acre deverá ampliar a oferta de créditos de carbono no Estado, prevê Maurílio Biagi, sócio da Álcool Verde. Para ele, a cultura gera energia renovável e o álcool, um dos produtos extraídos da planta, é um combustível não poluente. Há uma tendência mundial de substituição dos combustíveis fossilizados por causa principalmente dos prejuízos ao ambiente e pela escassez: as reservas de petróleo estão diminuindo no mundo inteiro -e, por isso, a necessidade de se produzir combustíveis alternativos. "O Brasil está avançado porque detém uma importante tecnologia, de produção de álcool", disse.

Pacífico - Ele vê com grande otimismo a possibilidade de se promover exportações a partir da Estrada do Pacífico, considerando que a distância por essa rota aos portas do Pacífico é menor que pelas outras. "O Acre passa de fim de linha para centro produtor e exportador", avaliou.

Integrantes da comitiva que visitou a usina da Álcool Verde na manhã desta segunda-feira foram unânimes em afirmar que se trata de um grande negócio e que o futuro do Acre se afirma a partir desse projeto:

"Estive visitando uma usina em Presidente Figueiredo, no Amazonas, e quando vi a Álcool Verde fique impressionado como as coisas estão avançadas. É um grande negócio, que vai gerar muita renda e trabalho para nossa população" Luiz Tchê, presidente da Comissão de Agricultura da Assembléia Legislativa do Acre

"Estou muito feliz com o que pude ver aqui. Venho aqui sempre e peço a Deus para que tudo dê certo porque vai ajudar muita gente em nossa região". Dinha, deputada estadual do PL

"O mais importante para nós é que com certeza em relação a emprego e renda vamos de 10% para 100%". Joais Santos, prefeito de Capixaba

"Esse é um negócio que envolve uma cadeia produtiva muito importante para o Estado e significa um novo tempo para a economia da região" Assuero Veronez, presidente da Federação da Agricultura do Acre

"Este momento é um fator histórico para o Estado do Acre. Além desta usina, recebemos outra boa notícia de que o Grupo Farias pretende construir outra usina na Estrada de Boca. São coisas muito importantes para nós". Sidnei Sanches Zamora, empresário rural

"Desenterramos mais uma cabeça de burro, recuperando essa usina, com destaque para o trabalho da Assembléia Legislativa, que ajudou a criar as condições para tornar real esse projeto" Edvaldo Magalhães, líder do Governo na Assembléia Legislativa

NÚMEROS
2 Mil empregos diretos, com carteira assinada, serão gerados pela usina a partir de 2008. A informação é de Eziquiel Alves, procurador da Álcool Verde. Atualmente, nesta fase de reformas e formação do viveiro de mudas, a empresa mantém 50 pessoas sob contrato.

14 Variedades de cana estão sendo plantadas em área que chega a 100 hectares, na usina e em sítios ao seu entorno. Até o dia 30 de julho deste ano, o plantio no viveiro deve chegar a 500 hectares de mudas para que, em 2008, existam cerca de 15 mil hectares prontos para o corte. Todas as espécies cultivadas se adaptaram bem no Acre mas a variedade SP86155 apresenta grande rendimento até este momento.

45 Milhões de litros de álcool hidratado serão produzidos em maio de 2008 pela usina, cuja moenda processa 120 toneladas de cana por hora. Nas bombas, o preço do álcool acreano será 65% menor que o da gasolina nos postos.
(A Tribuna – AC, 04/04/06)

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