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2006-04-05
É possível conciliar a vida neste início de século XXI com o respeito aos limites da ética ecológica e humanitária? Uma rotina normal permite preservar o meio ambiente, não maltratar os animais, produzir menos lixo, não ingerir agrotóxicos, reduzir o consumo de energia e a emissão de gases poluentes? Dá para passar um ano inteiro sem comprar nada produzido por trabalhadores subempregados de países pobres? Boicotar empresas que sustentam a indústria de armas, o desmatamento da Amazônia ou o governo antiecológico de George W. Bush?

O jornalista inglês Leo Hickman, do The Guardian, aceitou o desafio de transformar sua rotina num bastião da ética e da correção política e ambiental. O resultado está no livro A Life Stripped Bare, inédito no Brasil. Trata-se de um relato irônico e ponderado das possibilidades reais de seguir, no cotidiano, os preceitos estabelecidos pelas patrulhas ambientalistas e pela onda politicamente correta. A conclusão é surpreendente: sim, quase sempre é possível.

O título do livro tem dois sentidos: uma vida reduzida a nada ou uma vida despida . O primeiro faz referência às privações necessárias para viver de forma politicamente correta. O segundo brinca com a devassa feita na intimidade do autor pelo time de consultores que o ajudou na experiência.

Cada detalhe da casa da família Hickman foi devassado por um trio de profissionais que incluía a diretora de uma rede de lojas de produtos orgânicos, um dos diretores da ONG Amigos da Terra e a editora de uma revista para o consumo responsável. Hábitos de alimentação, produtos de limpeza, o talco usado no bumbum da filha recém-nascida, as peças de roupa no armário da mulher, o conteúdo da geladeira, a marca do fogão, da TV e do computador, os bancos em que Hickman guardava dinheiro, tudo foi examinado. "É impressionante como fazemos coisas no cotidiano sem pensar no impacto que esses hábitos têm na natureza ou na vida dos outros", disse Hickman a ÉPOCA.

Ele teve de mudar tudo. Viu-se soterrado por um sem-número de restrições. No supermercado, não podia comprar alimentos importados, transportados por caminhões ou aviões que emitem poluentes. Devia comer apenas frutas e legumes orgânicos, cultivados sem agrotóxicos. Praticamente virou vegetariano. Teve de abandonar fraldas descartáveis, responsáveis por uma quantidade imensa de lixo. Passou a vestir roupas ecologicamente corretas, feitas de algodão cultivado sem inseticida.

Tirou do roteiro produtos das companhias Pepsi, Nestlé, Procter & Gamble, Toshiba, Nissan e Fuji, acusadas pelos consultores de financiar experiências com animais ou desmatamentos florestais. Como se não bastasse, Hickman precisou engajar-se em trabalho voluntário e dar aulas para filhos de imigrantes no bairro.

Adotando esses e alguns outros hábitos, Hickman estaria contribuindo, segundo os consultores, para diminuir a destruição do planeta e melhorar a qualidade de vida de toda a humanidade. Ao longo do experimento, ele percebeu que muitas mudanças são viáveis e nem exigem tanto sacrifício assim. Outras são mais complicadas. Hickman chegou até a comprar um "minhocário" para fazer uma lixeira ecológica - as minhocas comem os restos de comida da casa e transformam tudo em adubo para o jardim. Só que o minhocário atrai moscas e ratos. No verão, fede.

Uma coisa, no entanto, ficou clara: a experiência vale para quem tem algum dinheiro e vive em países ricos. A vida politicamente correta e sem culpas custa caro. Produtos orgânicos são vendidos pelo dobro do preço de frutas e legumes normais. Carnes sem hormônio são um luxo para poucos. Trocar o carro pelo transporte público (ou, melhor ainda, por uma bicicleta) é uma decisão que depende da qualidade do asfalto, dos ônibus e do metrô.

"É claro que, em países como o Brasil, existem questões sociais que precedem as roupas ecológicas ou a comida sem agrotóxico", afirma Hickman. "As pessoas comem o que é mais barato porque precisam sobreviver." Como vive num país rico, Hickman consegue, satisfeito, dizer que está fazendo sua parte. Veja a seguir algumas dicas de Leo Hickman sobre como tornar-se uma pessoa ecologicamente correta:

Trocar fraldas descartáveis por fraldas de pano. Por que?
Leo Hickman - Fraldas descartáveis representam uma imensa produção de lixo. Apenas na Inglaterra, 8 milhões de unidades são jogadas fora todos os dias
É viável?
Hickman - Sim, mas apenas de dia. Fraldas de pano não seguram o xixi de uma noite inteira de sono do bebê.

Comprar apenas frutas da estação. Por que?
Hickman - Frutas cultivadas fora da estação demandam grandes quantidades de agrotóxicos. Muitas são importadas, trazidas por caminhões, que poluem o ar.
É viável?
LH - Sim, principalmente num país de clima quente como o Brasil. Frutas da estação são mais baratas e saborosas.

Limpar banheiros com vinagre e suco de limão. Por que?
LH - Alguns produtos para faxina contêm triclosan, substância química que ataca o organismo e é mais nociva que as próprias bactérias eliminadas por ela.
É viável?
LH - Sim. Vinagre e limão são desinfetantes eficientes, e servem também para limpar vidros.

Diminuir (ou suspender) o consumo de carne. Por que?
LH - A carne é outra grande inimiga dos ecologistas. Pastos destroem florestas, animais são criados em meio a doenças e a silagem polui os rios.
É viável?
LH - Depende. Quem não vive sem um bifinho deve optar por carnes orgânicas, de gado criado sem hormônios.

Ter em casa um "minhocário" para transformar lixo orgânico em adubo. Por que?
LH - É uma reciclagem doméstica. As minhocas comem restos de comida e produzem húmus nutritivo para plantas.
É viável?
LH - Apenas para quem tem quintal ou jardim e vai usar o adubo. As minhocas podem demorar a processar os restos de comida, o que junta moscas.

Trocar o carro por transporte público ou bicicleta. Por que?
LH - Gases emitidos por automóveis são um dos maiores poluentes e vilões do aquecimento global.
É viável?
LH - Depende. Em cidades com transporte público eficiente, é uma solução prática e econômica. Outra opção é ter apenas um carro por família.

Ter um sistema para captar e guardar a água da chuva. Por que?
LH - A escassez de água é a grande preocupação do novo milênio. E água de chuva não custa nada.
É viável?
LH - Para moradores de casas, sim. A água da chuva é melhor para regar plantas (porque não tem cloro) e ainda ajuda a reduzir a conta no fim do mês.

Abolir as viagens de avião. Por que?
LH - Cientistas calculam que, até 2015, a poluição produzida por aviões será responsável por metade da taxa anual de destruição da camada de ozônio.
É viável?
LH - Não. Impossível não andar de avião nos dias de hoje. Mas, em alguns casos, pode-se optar por ônibus ou trem.
(Época, 03/04/06)

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