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2006-04-04
Desde a inauguração oficial de Angra 2, no último mês de julho, a utilização da energia nuclear no Brasil voltou a ser tema freqüente na imprensa. Além da antiga polêmica em torno do custo de construção da usina (mais de R$ 10 bilhões, sendo quase R$ 7 bilhões de juros), cientistas apontam a necessidade de o país investir em pesquisa e formação especializada nessa área. "Há quinze anos tínhamos mais pessoas preparadas para lidar com energia nuclear do que agora", afirma Anselmo Paschoa, ex-Diretor de Rádio-proteção da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) e professor da PUC-Rio.

Os mais céticos, como Luiz Pinguelli Rosa, vice-diretor da Coordenadoria dos Projetos de Pós-graduação em Energia da UFRJ (Coppe), dizem que há alternativas a serem consideradas além da energia nuclear. "Apenas 25% do potencial hidrelétrico do Brasil é aproveitado", argumenta, em declaração à Folha de S. Paulo (23/07/00). Pinguelli ressalta que em Angra 2, para cada quilowatt gerado, são investidos US$6 mil, enquanto numa hidrelétrica essa relação é de US$100/kW. O governo justifica a necessidade de construção de usinas nucleares para atender a uma demanda crescente, com projeção de déficit no suprimento de energia já em 2001.

A preocupação mundial em buscar fontes alternativas às convencionais (carvão, petróleo e hidrelétricas) baseia-se no caráter não renovável dos combustíveis fósseis, na tentativa de diminuição da emissão de gás carbônico (CO2), no aumento da demanda por energia e na escassez, em alguns países, de recursos fósseis e hídricos.

Entre as alternativas para geração de energia em larga escala, a opção nuclear é a de maior custo por causa dos investimentos em segurança dos sistemas de emergência, do armazenamento de resíduos radioativos e do descomissionamento (desmontagem definitiva e descontaminação das instalações) de usinas que atingiram suas vidas úteis. A energia gerada pela recém inaugurada Angra 2, por exemplo, terá um custo de R$ 45,00 por MW/h em contraposição aos R$ 35,00 por MW/h da energia fornecida por uma hidrelétrica.

O longo e custoso processo de implantação das usinas nucleares no Brasil revela o gerenciamento inadequado desta alternativa, fato que aquece ainda mais o debate brasileiro. Angra 2, por exemplo, teve seu custo triplicado devido aos juros pagos e à sua manutenção. O único ponto favorável talvez seja o fato de que a Siemens, fabricante da maior parte dos equipamentos da usina, atualizou continuamente a tecnologia a partir dos avanços técnicos realizados nesta área na Alemanha. Desde 1976, a empresa forneceu o equivalente a US$1,27 bilhões em equipamentos e serviços.

Segundo Kleber Cosenza, superintendente de operação da Eletronuclear, a possível construção de Angra 3 teria um custo menor, em torno de RS$2,5 bilhões, pois boa parte do equipamento foi comprado junto com o de Angra 2. Destes, já foram gastos RS$1,3 bilhões em equipamentos comprados com os de Angra 2, na década de 80. Eles representam 60% do que é necessário para a usina e estão estocados no Brasil e na Alemanha.

Além do custo, um dos fatores apontados é o baixo aproveitamento dos recursos hídricos no Brasil.

Segundo a Eletronuclear, o objetivo desta fonte alternativa não é o de concorrer, a curto prazo, com as hidrelétricas, e sim o de complementar e diversificar este sistema. Um dos fatos que atestam a necessidade de investimentos em fontes alternativas de energia é a baixa capacidade de expansão da produção hidrelétrica no sudeste, região de maior consumo do país. As usinas nucleares de Angra podem estabilizar o fornecimento para a região e diminuir riscos de blecautes.

No caso dos recursos hídricos, a maior parte deles concentra-se na região Norte/Amazônia (70%) e Centro Oeste (15%). A exploração deste potencial apresenta inúmeros inconvenientes, como o alto custo de transmissão da energia e o prejuízo ambiental que acarretará. Ao já conhecido impacto sofrido pela população e pelo ambiente nas regiões inundadas, somam-se recentes estudos que apresentam inesperados problemas ocasionados pelas hidrelétricas. A tese de doutoramento de Marco Aurélio dos Santos em Ciências e Planejamento Energético (UFRJ-Coppe) é um desses estudos. O trabalho, Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa Derivadas de Hidrelétricas, foi defendido em março deste ano e demonstra a liberação de dióxido de carbono e metano (gases causadores de efeito estufa) pela biomassa depositada no fundo dos reservatórios da hidrelétrica.

A energia nuclear, apesar de não colaborar para a emissão desses gases, precisa lidar com o incômodo problema dos resíduos radioativos, que requerem uma solução para o armazenamento a longo prazo e investimentos em segurança, além de implicarem no fantasma de um acidente nuclear.

Optar pela energia nuclear no Brasil tem como ponto favorável o fato de possuirmos a sexta maior reserva mundial de urânio (cerca de 300 mil toneladas), suficiente para nos assegurar a independência no suprimento de combustível por muito tempo. Além disso, dois terços do território permanecem inexplorados quanto à presença do metal. No entanto, o Brasil ainda importa o urânio enriquecido (necessário para se fazer o elemento combustível), embora a tecnologia para o enriquecimento já seja aplicada no país, em escala laboratorial, para a produção de combustível de reatores de pesquisa.

Fontes renováveis de energia, como vento, energia solar e biomassa, freqüentemente são apontadas pelos ambientalistas como uma alternativa que merece maior atenção. A grande preocupação de grupos como o Greenpeace com a energia nuclear é o risco de acidentes. As fontes alternativas, no entanto, não são capazes de fornecer energia em larga escala e têm a desvantagem de serem dispersas, não fornecerem energia de forma contínua e necessitarem de uma grande área para sua implantação.
(ComCiência, 03/04/06)

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