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2006-04-04
Os pesticidas, “venenos da lavoura” ou “agrotóxicos”, são compostos utilizados na agricultura para combater plantas, insetos ou fungos indesejáveis (herbicidas, inseticidas e fungicidas, respectivamente) visando garantir maior produtividade. Nas áreas de cultivo de soja, cana-de-açúcar, algodão e milho na região do planalto que circunda a planície pantaneira, bem como nas áreas de arroz irrigado na própria planície (como no Pantanal do rio Miranda), o uso excessivo desses compostos está contaminando uma das mais importantes e ainda conservadas áreas úmidas do mundo, o Pantanal Mato-Grossense. Os princípios ativos desses compostos foram detectados no fundo dos rios (sedimento) em pesquisa realizada pela Embrapa Pantanal em conjunto com a UFMT, na ação de pesquisa “Monitoramento Limnológico¹ e Ecotoxicológico² da Bacia do Alto Paraguai (BAP)”, que faz parte do projeto “Respostas ecológicas de longo prazo a variações plurianuais das enchentes no Pantanal Mato-Grossense”, financiado pelo CNPq (Programa Ecológico de Longa Duração - PELD), para o período 2000-2009.

Nos últimos 40 anos, a intensa atividade agropecuária na região de planalto, em geral, não tem respeitado a legislação que obriga a manter conservadas as áreas de proteção permanente, como as matas ciliares (matas ao longo dos rios e córregos) e as áreas de nascentes, bem como as áreas de reserva legal. O mau uso do solo ainda inclui o uso de pesticidas e fertilizantes, sem adotar as chamadas “boas práticas agrícolas”, sendo utilizados em quantidades desnecessariamente maiores e em épocas diferentes das tecnicamente recomendadas. Além disso, dentro dessas “boas práticas agrícolas”, dever-se-ia implantar as curvas de nível (terraceamento), para minimizar o efeito de lavagem do solo pelas enxurradas. Assim, o carreamento de fertilizantes (nutrientes como nitrogênio total - NT e fósforo total - PT) e material em suspensão (partículas de solo) para os cursos d’água em níveis que alteram suas concentrações naturais, caracteriza a poluição dos mesmos, além da contaminação por pesticidas que são substâncias com diferentes níveis de toxicidade.

Para as análises de pesticidas, amostras de água e sedimento dos principais tributários do rio Paraguai em toda a BAP foram coletadas na área de transição planalto-planície, antes da entrada para o Pantanal, sendo realizadas no Laboratório de Análise de Resíduos de Biocidas da UFMT. Foram amostrados 16 rios: os tributários da margem direita do rio Paraguai (rios Jauru, Cabaçal e Sepotuba) e os da margem esquerda, como os pertencentes à bacia do rio Cuiabá (rios São Lourenço, Vermelho, Itiquira, Correntes e Piquiri), e os rios Taquari (com seus afluentes Coxim e Jauru), Negro, Miranda (e seus afluentes Aquidauana e Salobra), Apa, além do próprio rio Paraguai. Amostras foram coletadas durante o início do período de chuvas, quando os pesticidas, nutrientes e solo são mais facilmente lixiviados/carregados para dentro dos rios com as primeiras enxurradas, nos anos de 2001-02 e 2004. Os pesticidas mais utilizados na região são os herbicidas (como trifuralina e simazina), que podem alterar a fotossíntese de plantas aquáticas, e o inseticida endossulfan, que possui alto potencial de toxicidade para peixes. Ao todo 32 princípios ativos foram analisados, sendo 9 herbicidas e 23 inseticidas.

Os resultados das coletas de 2001-02 indicaram que 83%, das 46 amostras de água analisadas, estavam contaminadas com pelo menos um desses compostos, alguns em concentrações abaixo do limite máximo estabelecido pela legislação brasileira (Resolução 357/2005 do CONAMA), a qual contempla apenas alguns princípios ativos e somente em amostras de água. Em 2004, foram detectados também alguns piretróides (lambda cialotrina- LC, cipermetrina e deltametrina- DE) em diversas amostras de sedimento. Os piretróides são inseticidas de uso muito intenso na agricultura, porém não são substâncias muito persistentes, tendo meia-vida no solo variando de 1 a 6 semanas. Entretanto, LC apresenta alta toxicidade para peixes e invertebrados aquáticos e DE possui também alta toxicidade para peixes e afeta insetos herbívoros aquáticos.

Porém, a simples detecção de resíduos de pesticidas é preocupante, pois, em termos ecológicos, o efeito crônico (ao longo do tempo) da contaminação, mesmo sob concentrações baixas (sub-letais), é muito difícil de se determinar a curto e médio prazo, mas pode originar alterações imperceptíveis e de longo prazo, como a diminuição do potencial biológico (diminuição do sucesso reprodutivo ou maior suscetibilidade a doenças, por exemplo) de espécies tanto animais quanto vegetais. Um possível resultado negativo seria, por exemplo, a diminuição da produtividade pesqueira, com conseqüências tanto ecológicas quanto econômicas. É importante ressaltar ainda, que a presença, mesmo em níveis baixos, de resíduos de pesticidas em amostras de água e sedimento do Pantanal, onde tais substâncias não são geralmente usadas, é uma indicação de que está havendo o transporte do planalto, onde as atividades agrícolas são desenvolvidas, para a planície.

A entrada de nutrientes como NT e PT também foi avaliada. Estes nutrientes são usados nas lavouras como insumos (fertilizantes), mas podem também ter origem na contaminação por esgotos urbanos. Os rios Coxim, Miranda, Salobra e Cuiabá apresentaram altas concentrações de NT (900-1.800 mg/L), atingindo o triplo das concentrações observadas no rio Paraguai (300-500 mg/L), próximo à Cáceres (MT); já o PT foi aproximadamente seis vezes maior nos rios São Lourenço e Vermelho (cerca de 600 mg/L). A concentração de material em suspensão (ou sedimento em suspensão) também foi mais alta nestes rios, incluindo o Coxim, entre 400-800 mg/L. Tais resultados mostram uma expressiva entrada de material alóctone, ou seja, proveniente do sistema terrestre, nos rios que drenam para o Pantanal.

O Pantanal está sendo, então, contaminado contínua e gradativamente. Caso as boas práticas agrícolas não sejam amplamente adotadas em toda a parte alta da BAP, bem como nos arrozais nas áreas de inundação (várzea) da planície, essa situação só tende a se agravar. A conservação das matas ciliares e das nascentes, o terraceamento do solo e a adoção de técnicas de plantio direto nas áreas de agricultura aumentam a capacidade de infiltração da água de chuva, a capacidade de retenção/absorção dos pesticidas e fertilizantes no solo. Além disso, a chamada agricultura de precisão torna mais eficiente o uso desses compostos. Essas “ótimas práticas” evitam/diminuem o carreamento veloz de água, solo, nutrientes e pesticidas para dentro dos rios, com conseqüente perda de solo e assoreamento (entupimento) dos mesmos. No solo, a possibilidade de que estas substâncias sejam degradadas química e biologicamente é maior, transformando-as, muitas vezes, em substâncias menos nocivas. Por outro lado, há também a possibilidade de contaminação do lençol freático e do aqüífero subterrâneo, no caso o Aqüífero Guarani, inserido em boa parte da BAP, pelos pesticidas e nutrientes infiltrados. Já o uso de pesticidas em áreas de cultivo de arroz na planície de inundação do rio Miranda é uma fonte direta de contaminação, em especial nas fases de enchente e cheia.

Os rios do Pantanal ainda apresentam certa qualidade ambiental (saúde ambiental) o que os torna capazes de “auto-depuração” (ou “auto-limpeza”), que é a capacidade de metabolizar, decompor e/ou utilizar os poluentes provenientes das lavouras e cidades. Isso se dá, pois a relação entre quantidade de poluentes, volume de água e saúde ambiental ainda é favorável, resultando em processos ecológicos ainda conservados. Contudo, esta saúde está sendo gradativamente enfraquecida pelas várias ações humanas. Os resultados já representam um sinal de alerta preocupante.

¹ Limnologia: estudo da qualidade física e química das águas dos rios, córregos e lagos e de suas relações ecológicas com os organismos aquáticos.
² Ecotoxicologia: estudo dos efeitos das substâncias tóxicas nos organismos (biota) e na qualidade ambiental.

(Envolverde, 03/04/06)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=15801&edt=34

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