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2006-04-03
Blumenau entrega o Rio Itajaí-Açu a Gaspar mais poluído do que recebe de Indaial. Entre os limites da cidade, as águas recebem mais 2 mil coliformes fecais a cada 100 mililitros (ml) - o que equivale a um aumento de 33% no total de bactérias analisadas. A presença de coliformes fecais indica o lançamento de esgoto doméstico no rio.

O Itajaí-Açu já chega poluído a Blumenau. O número de coliformes fecais encontrados no limite com Indaial é de 6 mil por 100 ml. O índice é seis vezes maior do que o máximo determinado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para um rio identificado como classe 2, classificação dada ao Itajaí-Açu de acordo com o uso que se faz dele.

Os números foram revelados em duas análises bacteriológicas feitas pelo Samae, na quinta-feira pela manhã, a pedido do Santa. No limite com Indaial, as amostras continham 6 mil coliformes fecais por 100 ml de água. No limite com Gaspar, eram 8 mil coliformes.

A diferença, 2 mil coliformes fecais por 100 ml, é o lançamento feito em 28,5 quilômetros do rio - extensão do rio em Blumenau.

A explicação está no número de moradores, conforme Silvio Josino de Souza, coordenador do laboratório do Samae que realizou a análise. Os coliformes fecais significam exatamente o esgoto residencial jogado diretamente no rio.

Hoje, Blumenau trata só 3% do esgoto que produz e possui uma população estimada em 292 mil habitantes. Os dados são da Estimativa 2005 do IBGE.

Conforme a Diretora de Monitoramento e Controle da Poluição da Faema, Rosalene Zumach, os empresários sem consciência, que não fazem o tratamento de efluentes de sua produção, também matam pouco a pouco o rio, na medida em que jogam os rejeitos direto na água.

A poluição dos ribeirões, todos afluentes do Itajaí-Açu, também contribue diretamente para sua deterioração.

A análise realizada pelo Samae representa uma amostragem do nível de poluição, mas não tem valor científico. Para tanto, precisariam ser feitas seis análises em dias consecutivos.

Segundo Rosalene, a presença de coliformes fecais varia muito de um dia para outro, dependendo de fatores como o volume de água. Em dias de chuva, por exemplo, estão mais diluídos.

O Samae também realizou a análise físico-química da água - que não considera a poluição por bactérias. A amostra apresentou resultados parecidos nos dois limites da cidade. O pH ficou próximo ao neutro, ou seja, água nem ácida, nem básica. A turbidez da água e a dureza (quantidade de cálcio) também estão dentro do ideal para abastecimento da população e definido pelo Conama para um rio de classe 2.

Limite de coliformes é extrapolado em seis vezes
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) limita em mil coliformes fecais para cada 100 ml de água o índice tolerável em rios de classe 2, como é a classificação do Itajaí-Açu. As águas dos rios de classe 2 podem ser destinadas ao abastecimento para consumo humano, após tratamento; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário e à atividade de pesca.

No caso de rios com mais de 2,5 mil coliformes fecais por 100 ml de água, a água só poderia ser destinada à navegação e à harmonia paisagística.

A secretária executiva do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí, Beate Frank, explica que a classificação é feita de acordo com o uso, e não com a análise da água.

- O índice indicado para a classe 2 é o que temos de chegar para usarmos o rio como pretendemos - completa a secretária.

Apesar do alto índice de poluição, o Samae garante que o consumidor pode abrir a torneira e beber água sem medo. A água é analisada a cada 30 minutos nas estações de tratamento do Samae. Para se tornar potável, o recurso hídrico passa por sete etapas de tratamento.

Pescaria interrompida pela espuma branca
- As espumas brancas que parecem nata estão aí todos os dias. Às vezes, ficam bem grandes e por toda a parte. Desde que elas começaram a aparecer, a gente parou de pescar no rio. Não sabemos se o peixe tá bom de comer. Mas isso já vai pra 10 anos. Naquela época era bom demais. Já peguei uma carpa de 12 quilos. O peixe estava na mesa quase todo dia.

O autor do depoimento é Ademir Schneider. Ele mora próximo às margens do Rio Itajaí-Açu, perto da balsa, no Bairro Passo Manso, em Blumenau. Aliás é ele que, no braço, leva a balsa de uma margem a outra do rio.

Do Itajaí-Açu, o ex-pescador carrega apenas uma má lembrança:

- Há uns seis anos, estava atravessando o rio de canoa, levando passageiros. Era por volta de 21h. E de repente vimos um corpo boiando. Eu ajudei a retirá-lo da água. Espero nunca mais ter de fazer isso.
(Jornal de Santa Catarina. 01/04/06)

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