Brasil fará parte de programa mundial de combate a espécies invasoras
2006-04-03
Há muitos anos espécies animais e vegetais migram de várias partes do
mundo para outras sem causar problemas aos ecossistemas em que se
instalam. Nos dias atuais, entretanto, o comércio mundial e os diversos
meios de transporte usados pelo homem têm feito aumentar de forma
preocupante o trânsito dessas espécies. Após se instalar em um novo
ambiente e ter condições de proliferar, a espécie exótica assume o papel
de invasora e, por deixar os predadores em seu ambiente de origem,
compete de forma desleal com as espécies nativas, causando sérios danos
ao ecossistema local. Em evento paralelo da COP8, o Programa Global de
Espécies Invasoras (Gisp, na sigla em inglês), organização internacional
formada por diversas instituições ambientais, discutiu a séria questão
das espécies exóticas invasoras e as medidas necessárias para combatê-las.
Por acreditar no grande impacto causado à biodiversidade por essas
espécies, o Gisp está recrutando um grupo de 10 países para trocar
informações e discutir meios de combater o problema. No evento paralelo,
o Brasil anunciou sua participação no grupo. “O governo tem feito vários
estudos sobre espécies invasoras no país e tem contribuições a dar ao
grupo”, disse o gerente de biodiversidade do Ministério do Meio
Ambiente, Bráulio Dias, em nome da ministra Marina Silva. Dias afirmou
que o tema sempre foi analisado pela óptica econômica e da saúde e que
só recentemente a vertente ambiental tem sido discutida. A África do Sul
também se comprometeu a ajudar o grupo dos 10 países.
Além dos danos ambientais causados pelas espécies invasoras, sua
introdução em determinado local pode gerar grandes prejuízos à economia
e à saúde. De acordo com números do GISP, os gastos no Brasil com
combate às pragas exóticas na agricultura chegam a US$ 50 bilhões por
ano. Os danos à saúde também geram enorme prejuízo.
Segundo a coordenadora do Gips para a América do Sul, Sílvia Ziller, da
organização não-governamental The Nature Conservancy, algumas medidas
simples ajudariam a evitar a invasão de espécies exóticas. Uma delas
seria trocar a água de lastro dos navios em alto-mar e não nas regiões
portuárias. Esse procedimento poderia ter evitado, por exemplo, a
invasão do mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), um molusco de água
doce de origem asiática que tem causado sérios problemas econômicos e
ambientais aos países da bacia do rio Paraná. Outras medidas incluem
aplicar spray desinfetante em aviões para matar possíveis insetos,
tratar a madeira usada na fabricação de caixotes, ampliar o controle nas
fronteiras e, principalmente, disseminar informações sobre espécies
invasoras entre os países.
O sapo-cururu (Bufo marinus), espécie natural das Américas, foi
exportado para a Austrália para combater pragas das lavouras de
cana-de-açúcar. No entanto, começou a se reproduzir descontroladamente e
hoje representa uma ameaça para as espécies locais.
Na pauta da COP8 está incluído, no âmbito da Convenção sobre Diversidade
Biológica (CDB), um item específico sobre espécies invasoras. Uma das
metas é criar uma legislação internacional sobre o assunto, para
definir, por exemplo, quem paga a conta quando uma espécie sai de um
país e invade outro, causando prejuízos a este segundo.
Além disso, a intenção é identificar as principais espécies invasoras e
suas rotas de invasão, alimentar um banco de dados sobre essas espécies
e dar aos países condições de lutar contra elas. Outro item da pauta da
CDB relacionado com o tema é a iniciativa mundial sobre taxonomia, com o
objetivo de padronizar a classificação dos seres vivos. O debate dessa
questão na COP8 é fundamental para identificar e combater esses
visitantes indesejados.(Ciencia Hoje)