"Canadá foi incompetente ao administrar seus recursos naturais", diz membro do Greenpeace
2006-03-31
Começou no último fim de semana, no Canadá, a caça anual às focas.
Apesar de ser considerada um "massacre" pelos ecologistas e grupos de
defesa dos direitos dos animais, a caça é permitida e incentivada pelo
governo do país e vai matar a pauladas pelo menos 325 mil focas.
Os caçadores, que vendem seus produtos para os comerciantes de peles,
preferem os filhotes por causa dos pêlos mais macios e brancos. Apesar
de 85% dos canadenses ser contra a morte de focas com menos de um ano
(segundo dados da organização respect for animals), os filhotes estão
"liberados" para morrer a partir de duas semanas de vida.
O método é cruel: os filhotes são mortos com pauladas na cabeça, para
não estragar a pele. Muitos tentam fugir, não são abatidos no primeiro
golpe e agonizam por muito tempo antes de morrer. O governo tentou
"humanizar" a matança obrigando os caçadores a usar um bastão chamado
hakapik, "mais eficiente e humano", mas não patrocinou a compra destas
armas. A maior parte dos caçadores usa pedaços de pau ou até mesmo o
cabo da espingarda para matar as focas.
O governo canadense justifica o massacre dizendo que o número de focas
precisa ser controlado e que o comércio de peles é uma importante fonte
de renda para a população local. "Eles alegam que estão criando novos
empregos em áreas economicamente degradadas", diz Farah Obaldullah,
ativista do Greenpeace que conversou com o UOL Bichos pelo telefone.
"Mas a verdade é que a caça às focas representa menos de 5% da receita
destas comunidades", completa.
A indústria da pesca, outra fonte de renda para as populações das
províncias em que é realizada a caça às focas, é mais lucrativa e também
serve de desculpa para a matança. Segundo Farah, "O governo diz que
precisa controlar a população de focas porque elas estão acabando com a
pesca, mas a verdade é que a pesca está acabando porque no passado o
Canadá foi incompetente ao administrar seus recursos naturais".
Farah, que participa da Conferência das Partes da Convenção sobre
Diversidade Biológica (COP8), em Curitiba, disse que o governo do Canadá
não apresentou nenhuma boa proposta para a manutenção da biodiversidade
do país. "Eles deveriam tentar criar alternativas econômicas
sustentáveis. Se a matança continuar neste ritmo, a caça às focas não
será sustentável a longo prazo", explica a ativista.
Além dos cruéis caçadores, as focas precisam enfrentar as mudanças
climáticas e a diminuição de sua fonte natural de alimento. Farah
explica ainda que o governo só contabiliza como mortas as focas cujas
peles são coletadas, mas que não há nenhum controle rigoroso de quantos
animais realmente são eliminados. "Há muita caça ilegal, porque os
caçadores não respeitam o limite de idade dos filhotes. Também não
entram na contagem do governo as peles que foram danificadas durante a
matança e abandonadas", diz Farah. "Além disso, as áreas onde a caça
ocorre são de difícil acesso. É improvável que eles saibam tudo que
realmente ocorre lá", explica.
Farah terminou a entrevista com um apelo: "Peço às pessoas que escrevam
para o governo canadense ou para as embaixadas do Canadá em seu país
pedindo o fim da caça às focas. O Greenpeace é contra a caça comercial
de focas e tem esperanças de que, se houver pressão suficiente, o
governo canadense irá considerar o fim desta prática".
(AFP, 28/03/2006)