Desmatamento reduz a biodiversidade nos trópicos, apesar do aumento da temperatura
2006-03-31
O desflorestamento provoca uma redução das espécies de plantas nas zonas tropicais, apesar do aquecimento global, que deveria aumentá-las, revelou na quinta-feira (30/03) um estudo realizado no Brasil e na Colômbia, publicado na revista "Science". "A maior diversidade vegetal sempre está vinculada à temperatura. Quanto mais quente, maior a quantidade de espécies", explicou à EFE o geólogo colombiano Carlos Jaramillo, autor do estudo.
"Durante o aquecimento global, o trópico se expande. No entanto, está acontecendo algo paradoxal. Ele está dimunindo e isto se deve ao desflorestamento", afirmou Jaramillo, no Instituto de Pesquisas Tropicais do Instituto Smithsonian (STRI), no Panamá. "O problema é muito grave. Os ecossistemas experimentam uma perda da biodiversidade que pode durar milhões de anos", indicou.
As conclusões sobre os efeitos do desflorestamento e do aquecimento climático se basearam no estudo de pólen fossilizado encontrado em perfurações de rocha, com 82 milhões de anos de idade. Jaramillo, um geólogo da Universidade da Colômbia, e o grupo de cientistas do STRI fizeram depois uma correlação da biodiversidade do pólen, comparando-a com as temperaturas que prevaleciam em cada período.
O estudo, realizado em zonas tropicais da Colômbia e da Venezuela, determinou que a biodiversidade sempre aumenta quando ocorrem períodos de aquecimento global, segundo o cientista. "Descobrimos que a diversidade do pólen corresponde às variações da temperatura global ao longo de milhões de anos. Mas há um mistério. Embora as temperaturas globais variem enormemente, as médias dos trópicos não mudam muito", observou.
Isso significa que, apesar do aquecimento global, a quantidade de espécies não deve variar muito, assinalou Jaramillo. É "como se estivéssemos num período de resfriamento, quando o número de espécies diminui. O desflorestamento está reduzindo a cobertura de forma dramática e a biodiversidade diminui no que resta de florestas", assinalou. Jaramillo, cuja pesquisa foi financiada pelo Instituto Colombiano do Petróleo, previu que "o desflorestamento vai promover extinções em massa nos trópicos. Estamos perdendo a biodiversidade que tanto nos enriquece".
Segundo William Laurance, do STRI, participante de um projeto sobre "Dinâmica Biológica da Fragmentação Florestal" no Brasil, o estudo de Jaramillo proporciona uma perspectiva evolutiva. Jaramillo e os outros cientistas participantes do projeto "sugerem que a rápida perda contemporânea, assim como a fragmentação das florestas tropicais, conduzirá a uma trágica queda da biodiversidade a longo prazo", previu Laurance.
Mas o cientista colombiano afirmou que "a guerra não está perdida" e ainda há tempo para resolver o problema. "Os Governos dos países tropicais, não só da América mas de outros continentes, podem tomar medidas para proteger as florestas e a biodiversidade", pediu. Jaramillo citou como exemplo a seguir a Costa Rica, um país que transformou seu biodiversidade em uatração turística e asotou uma série de leis para proteger suas matas virgens.
(EFE, 30/03/06)
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