Greenpeace denuncia: óleos Soya e Liza são feitos com soja transgênica
2006-03-31
Ativistas entregaram dossiê ao governo comprovando a utilização de soja transgênica nas fábricas da Bunge e Cargill; organização exige que os produtos dessas empresas sejam retirados dos supermercados e que a lei que garante a informação ao consumidor seja cumprida
O Greenpeace denunciou ontem (30) a utilização de soja transgênica na fabricação das duas marcas líderes de óleo de cozinha no Brasil. Cerca de 20 ativistas representando o consumidor brasileiro e empurrando 20 carrinhos de supermercado cheios de latas de óleos Soya, fabricado pela Bunge, e Liza, fabricado pela Cargill, desceram a rampa do Congresso e se posicionaram próximos à entrada da Câmara dos Deputados enquanto a denúncia era entregue aos parlamentares.
O Greenpeace entregou um dossiê de denúncia e uma carta ao Ministério da Justiça e aos deputados Fernando Gabeira (PV-RJ) e João Alfredo (PSOL-CE), da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, reivindicando o cumprimento da lei que determina a rotulagem dos produtos fabricados com matéria-prima transgênica. O material do dossiê traz amostras de soja, documentos e um vídeo com declarações de caminhoneiros e imagens da realização de testes. As evidências entregues ao governo comprovam que a soja transgênica está sendo usada pela Bunge e pela Cargill na fabricação de diversos produtos, como os óleos Soya, Liza, Primor e Olívia, e que não há qualquer rotulagem dos produtos oferecidos ao consumidor.
“Essa denúncia do Greenpeace é muito séria e procedente, uma vez que o Brasil está respondendo de forma inadequada à Lei de Rotulagem. Todo o mundo diz que é a favor, mas ninguém se mexe para fazer a fiscalização”, afirmou o deputado Fernando Gabeira, ao receber o dossiê das mãos de Gabriela Couto, da campanha de engenharia genética do Greenpeace. “As duas multinacionais usam matéria-prima transgênica, mas os brasileiros não ficam sabendo porque nem a empresa nem o governo estão cumprindo as leis que garantem a informação ao consumidor”, disse Gabriela.
O dossiê também foi encaminhado à Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado e aos ministérios de Meio Ambiente, da Saúde e da Agricultura. O Ministério Público Federal e as Comissões de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Agricultura da Câmara dos Deputados e a Associação Nacional de PROCONs receberam cópias do dossiê com as denúncias.
“O Greenpeace demanda que os órgãos governamentais cumpram suas obrigações e a lei. É fundamental que o consumidor seja informado sobre o que está comprando para poder exercer o seu direito de escolha. Isso está garantido pelo Código de Defesa do Consumidor e precisa ser respeitado”, declarou Gabriela. “Quanto aos óleos Soya e Liza, que são transgênicos mas estão sendo vendidos sem o devido rótulo, o Greenpeace exige que sejam retirados das prateleiras dos supermercados, já que estão em situação ilegal”.
TESTES
Em julho de 2005, o Greenpeace coletou amostras de soja de diversos caminhões e realizou testes de fita Trait/SDI, que detectam transgênicos. O resultado foi positivo em todas as fábricas investigadas, com exceção da unidade da Bunge em Campo Grande/MS, que fabrica produtos para exportação e é certificada pela empresa SGS. As demais amostras, que apontaram a presença de transgênicos, foram coletadas nas fábricas de processamento de soja da Bunge m Ourinhos/SP e Dourados/MS, e na fábrica da Cargil em Três Lagoas/MS.
“A Bunge tem lugar que aceita e tem lugar que não aceita transgênicos. Em Campo Grande, não aceita transgênicos. Tem que ir pra Dourados”, confirmou E.S.J., caminhoneiro que estava descarregando soja transgênica na unidade da Bunge em Ourinhos/SP.
De acordo com o Decreto de Rotulagem 4.680/03, em vigor desde abril de 2004, todos os produtos fabricados com mais de 1% de transgênicos devem trazer essa informação no rótulo. No entanto, as empresas fabricantes de óleo alegam que o processo de fabricação “purifica” a soja transgênica, e se recusam, assim, a rotular seus produtos.
“O óleo fabricado com soja transgênica tem componentes químicos diferentes do óleo feito com a soja convencional. Ele pode não conter o DNA no produto final, mas mesmo assim tem alterações químicas que o tornam diferente do óleo da soja não transgênica”, disse o Prof. Nagib Nassar, geneticista da Universidade de Brasília (UnB).
“A Bunge e a Cargill têm que cumprir a lei. As empresas podem até optar por continuar usando matéria-prima transgênica e rotular seus produtos, mas correm o risco de perder mercado, uma vez que mais de 74% dos brasileiros não querem comer transgênicos”, afirmou Gabriela, com base na Pesquisa ISER/ julho 2004. “O mais coerente é que elas deixem de usar a soja transgênica para fabricar os óleos de cozinha que os brasileiros usam todos os dias, e passem a oferecer o mesmo padrão que têm para o mercado externo”.
Atualmente, a Bunge é responsável por 25% de toda a soja esmagada no Brasil e possui duas linhas de produtos: uma não transgênica, voltada para clientes do mercado externo, que exigem controle efetivo para evitar a contaminação. A outra linha, sem qualquer garantia e controle, é vendida no mercado interno. “Se as empresas podem oferecer produtos sem transgênicos para o mercado externo, também podem fazer isso para os consumidores brasileiros”, concluiu Gabriela.
(Jornal do Meio Ambiente, 30/03/06)