Brasil pode ganhar troféu “Bola Murcha” do Greenpeace na COP8, diz coordenador
2006-03-31
O Brasil corre o risco de repetir o desempenho de quatro anos atrás e ganhar o troféu "Bola Murcha" da COP8 - 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, que será concedido nesta sexta-feira (31) pela organização ambientalista Greenpeace à delegação com a pior atuação no evento.
"O Brasil não está apoiando qualquer referência sobre desmatamento e extração ilegal de madeira no documento final. O país, provavelmente, é a favor que se trate disso, mas não está dando suporte ao único instrumemento internacional que temos no momento", disse o coordenador da Campanha de Florestas do Greenpeace, Christoph Thies, em entrevista exclusiva à Agência Brasil.
Segundo ele, o país anfitrião também vetou referência à relação entre desmatamento e mudanças climáticas. "Quando escutamos os ministros falando, temos a impressão de que está tudo indo muito bem e todos estão fazendo muito, mas a negociação real é o extremo oposto", denunciou o represntante do Greenpeace.
Além do Brasil, outro grupo de países vem recebendo críticas dos ambientalistas: Canadá, Austrália e Nova Zelândia, considerados "um time de marionetes cujo mentor intelectual são os Estados Unidos, que sequer são membros da CDB e fazem conspiração nos bastidores", disse Thies. No penúltimo dia da conferência, acrescentou, com o apoio de um "exército de advogados", os três países obstruíram as negociações e atrasaram a adoção de um acordo sobre acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios. Também bloquearam o reconhecimento de que cabe à CDB a identificação de reservas marinhas em áreas além das jurisdições nacionais. E impediram qualquer referência, na COP-8, sobre a relação entre comércio e destruição e exploração da biodiversidade.
"Este grupo tem feito, quase sempre, um jogo destrutivo. Mas o Brasil também tem feito um jogo muito destrutivo", afirmou Thies, lembrando que há quatro anos, quando o Brasil ganhou o "Bola Murcha", o tema principal da conferência era biodiversidade das florestas. "A delegação brasileira passou as duas semanas inteiras da conferência tentando evitar qualquer acordo internacional que representasse avanços na proteção à biodiversidade, sob o argumento de que isto enfraqueceria a soberania nacional. Todos os países do mundo têm soberania nacional, mas esse argumento não pode ser mal utilizado", explicou. Na última COP, em 2004, em Kuala Lampur (Malásia), o "Bola Murcha" não foi entregue porque o Greenpeace considerou satisfatórios os resultados da conferência.
Nesta quinta-feira (30), o Greenpeace promoveu ato simólico com 27 jovens de diferentes países no saguão do Expotrade, onde estão reunidos os negociadores. Simulando empurrar um ampulheta gigante, o grupo Jovens pelas florestas pediu que os delegados tomem medidas concretas em defesa da vida no planeta.
(Agência Brasil, 30/03/06)