Religiosos lançam documento contra obras no Rio São Francisco
2006-03-31
Setenta e seis bispos e pastores de quatro igrejas cristãs diferentes lançaram ontem (30) um documento com críticas e propostas sobre a questão da terra no Brasil. Um dos pontos do documento, de 15 páginas, é a obra de integração do rio São Francisco a outras bacias.
O texto acusa o governo federal de querer "beneficiar políticos" por meio do projeto. Dom Luis Cappio é um dos 76 bispos que assina o documento que "se posiciona contra a transposição do Rio São Francisco", ressalta o presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Tomás Balduíno.
"Os direitos humanos, no caso o direito a água, não podem estar sujeitos às injunções da política e às pressões de empresas interessadas em transformar a água em negócio. Reafirmamos nossa posição contrária à transposição das águas do rio São Francisco", diz o documento.
"Muito ao contrário de saciar a sede dos sertanejos, a transposição visa saciar a sede de políticos, das empreiteiras, das empresas de consultoria, dos irrigantes e criadores de camarão em cativeiro", continua o texto.
O presidente da CPT ressalta que o documento é de responsabilidade dos bispos. "É diferente de uma corporação de todos os bispos de uma determinada igreja. Posso ter uma posição com relação a problemática da terra que não é mais comungada pela conferência episcopal. O documento, com a força que o episcopado tem, na opinião pública se torna mais livre e mais contundente. Ao meu ver mais profético", diz.
Esta não é a primeira vez, que as igrejas católica e evangélica se unem em prol de um tema. "Já tem havido declarações conjuntas sobre a água e encontros de caráter ecumênico.
Governo vai esperar publicação de documento de bispos e pastores para comentar críticas
O governo federal decidiu não comentar o documento "As Igrejas e os Problemas da Terra" assinado por 76 bispos e padres das igrejas católica e evangélica. No texto, eles criticam a política de reforma agrária, se dizem contrários à transposição do rio São Francisco e classificam como "vergonhosa" a conclusão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Terra.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) afirmou que não vai se pronunciar sobre o documento. O Ministério do Desenvolvimento Agrário disse que só vai se manifestar quando o documento inteiro for publicado.
(Agência Brasil, 30/03/06)