Com 6% das reservas de urânio, Brasil precisa de política para o minério, diz Eletronuclear
2006-03-31
O assistente da presidência da Eletronuclear Leonam dos Santos Guimarães disse hoje que o Brasil precisa ter uma política para uso do urânio, porque dispõe de quase 6% das reservas mundiais desse minério. A liderança do ranking é exercida pela Austrália, com 24,6% do total, seguida pelo Cazaquistão, com 14,4%.
Somente com duas minas atualmente em operação - Itataia (CE), e Lagoa Real (BA) -, o Brasil produz 309,4 mil toneladas de urânio, em uma área prospectada de 30% do território nacional, até 100 metros de profundidade. A área geologicamente promissora remanescente equivale a 50% do país, estimando-se um potencial na região Norte brasileira de 500 mil toneladas de urânio.
Leonam Guimarães disse que as reservas "especulativas" (potenciais) nacionais alcançam 800 mil toneladas, o que pode levar o Brasil a ser a 2ª ou 3ª maior potência em reserva nuclear do mundo.
O assistente da presidência da Eletronuclear listou entre as vantagens que justificam a existência das usinas nucleares a proteção contra a volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis (em especial o petróleo), a contribuição para a redução de gases causadores do chamado efeito estufa na atmosfera, o aumento da autonomia pela produção local, e tarifa de geração compatível com as demais fontes de energia. Além disso, o fato de a geração ficar próxima dos centros consumidores elimina dificuldades de transporte do combustível e oferece baixo custo de transmissão, segundo Guimarães.
Para Eletronuclear, Brasil deve esperar avanço tecnológico para resolver problema de resíduos
No último dia 21, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) da Câmara dos Deputados aprovou relatório sobre a segurança das instalações nucleares brasileiras. O documento fez alertas quanto à segurança da população, do meio ambiente e dos trabalhadores do setor, apontando a inexistência de locais próprios para o depósito de lixo radioativo, entre outras denúncias.
Hoje (29), em palestra para jornalistas, o assistente da presidência da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, disse que o Brasil não desenvolveu ainda uma alternativa para a deposição dos rejeitos radiativos no país porque só sofrerá o problema em cerca de três décadas, e as autoridades preferem esperar até lá, quando deverá haver alternativas tecnológicas mais eficientes para resolver o problema. "Nenhum país do mundo tem uma política de deposição definitiva de rejeitos radioativos", disse ele.
"A gente resolve o problema (de gerenciamento de rejeitos) quando ele existe. Hoje, a gente não está pensando em resolver um problema que vai ter daqui a 30 anos", argumentou Guimarães, durante Seminário sobre o Sistema Elétrico para Jornalistas, em Furnas Centrais Elétricas.
De acordo com o relatório da Câmara, só existe no país um único depósito definitivo de rejeitos nucleares, que é o de Abadia de Goiânia (GO). No local, está depositado o lixo radioativo resultante do maior acidente do gênero ocorrido no país, em 1987, quando uma cápsula do elemento químico césio 137, desativada, foi manipulada por catadores de lixo, provocando contaminação em cerca de 300 pessoas. Outros oito depósitos funcionam sem licenciamento, segundo o relatório, que aponta que "a questão dos rejeitos nucleares é tratada de forma provisória, improvisada".
O texto do relatório tem como autor o deputado Edson Duarte (PV/BA) e se baseou em visitas de um grupo de deputados a instalações nucleares e debates com entidades civis, entre outras ações, empreendidas desde abril de 2005. O relatório propõe nove projetos de lei para corrigir as falhas que teriam sido encontradas na operação do setor nuclear no Brasil.
O especialista da Eletronuclear explicou que "o problema da deposição definitiva de combustível usado se coloca quando você já tem uma quantidade de rejeito muito grande que não consegue armazenar dentro das centrais". O primeiro país a enfrentar esse problema atualmente são os Estados Unidos, disse ele. "As soluções propostas hoje certamente são piores do que as que vão estar disponíveis em 30 anos."
Segundo Guimarães, o Brasil poderá vir a se beneficiar das experiências de outros países que enfrentarão esse tipo de problema numa etapa anterior. A política vigente no Brasil estabelece que, até 2011, o depósito inicial dos rejeitos de baixa e média radioatividade seja construído próximo às fontes produtivas, isto é, as usinas nucleares de Angra I e II, localizadas no município de Angra dos Reis, na Costa Verde Fluminense. Esses depósitos, em maior volume, têm a guarda de responsabilidade da Eletronuclear.
Após 2011, os rejeitos serão transferidos para um depósito final, sob a responsabilidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). O local de construção desse deposito está sendo definido pela Cnen, com a ajuda da Eletronuclear.
Já os rejeitos de alta radioatividade ficam guardados em uma piscina no interior das unidades produtoras. O segundo passo para os resíduos desse tipo é um depósito intermediário de longa duração. No relatório da Câmara, os deputados analisam que as piscinas que guardam os rejeitos de Angra I e II são provisórias, mostrando capacidade que poderá não ultrapassar o ano de 2015.
Guimarães afirmou que, nesse depósito final que a Cnen vai administrar, ficarão armazenados não só os rejeitos das centrais nucleares, mas também os rejeitos de aplicações nucleares em medicina, agricultura, saúde etc. "E a Cnen é responsável por recolher e gerenciar esses rejeitos", lembrou, acrescentando que esse gênero de resíduo é menor em quantidade, mas pior devido à facilidade de dispersão.
(Radiobras, 29/03/06)