Ambientalistas denunciam autorizações de corte ilegal no Paraná
2006-03-31
O Instituto Ambiental do Paraná tem autorizado o corte ilegal de centenas de hectares de mata nativa, incluindo a Floresta com Araucária. Esta informação consta em um dossiê contendo os dados das autorizações dadas pelo IAP entregue por lideranças ambientalistas durante encontro na última quarta-feira (29/03) com o diretor de fiscalização do Ibama, Flávio Montiel, o superintendente do Ibama do Paraná, Marino Gonçalves e o presidente do IAP/PR, Rasca Rodrigues.
Os dados foram coletados pela equipe de fiscalizacão do Ibama, que constatou as irregularidades durante a operação Araucária 6, realizada nos meses de janeiro e fevereiro deste ano. Durante a operação, que cobriu 848.604 hectares do território paranaense, foram encontrados 54 tratores de esteira, 13 tratores de pneu, 34 caminhões com toras de madeira nativa ou lenha e 631 fornos de carvão, informa Gonçalves. Nestas áreas o IAP autorizou o corte de 29.654 metros cúbicos de lenha e 14.264 metros cúbicos de madeira de espécies nativas, inclusive araucária.
“O governo do Paraná não quer transgênico, mas autoriza a derrubada de floresta com araucária”, protesta a ambientalista Teresa Urban. “Este governo terá que responder à história porque acabou a floresta com araucária, símbolo do Estado do Paraná”, aponta Teresa. Há indícios de que a área remanescente seja menor do que a anunciada – de 0,8% teria passado para 0,3% de ambientes naturais remanescentes.
Rasca admitiu que o governo não reconhece a Floresta Ombrófila Mista como parte do bioma Mata Atlântica, por isso vêm autorizando os desmatamentos sem respeitar as leis que protegem estes ecossistemas. “O Estado do Paraná foi campeão de desmatamento na Mata Atlântica por vários anos e o IAP é um dos órgãos que jogam contra a proteção do bioma no País”, observa Mario Mantovani, diretor de mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica.
O presidente do IAP informa que o governo baixou na quarta-feira (29/03) uma portaria limitando o corte aos 15 metros cúbicos da resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente e que serão investigados os casos de contravenção. Rasca provavelmente será o próximo secretário do meio ambiente do Estado, ocupará o lugar de Luis Eduardo Cheida, que será candidato nas próximas eleições a deputado estadual pelo PMDB.
“Essa portaria adiantará muito pouco, porque, não há garantias de que agora será cumprida”, rebate Miriam Prochnow, coordenadora da Rede de ONGs da Mata Atlântica. Como exemplo ela cita a autorização do corte de 95 hectares de mata nativa em estágio inicial de regeneração. “Como pode se autorizar a retirada de 1.200 metros cúbicos de madeira de uma área de estágio inicial? Ela explica que não existe madeira em estágio inicial. Nesta fase, os troncos das árvores atingem no máximo 8 centímetros de diâmetro. "Quem são os engenheiros florestais que autorizaram isso? ” indaga.
“Isso reflete um situação crônica vivida no Paraná. Temos uma grande frustação quando nos deparamos com uma situação dessa”, queixa-se Clóvis Borges, diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem. E pergunta: “se o IAP não cuidar, quem vai conservar?” O presidente do órgão afirma no final da reunião: “não posso fundar um novo IAP”.
Com informações de Silvia Marcuzzo (RMA) e Ana Ligia Scachetti (SOS Mata Atlântica)