Santa Maria: nova espécie é batizada com nome de professor
2006-03-30
O mal de Alzheimer, o mal de Parkinson e a doença de Chagas são, como todos os outros males e doenças, com
certeza indesejáveis, mas, além disso, estas enfermidades têm em comum o fato de terem recebido o nome de seus
descobridores. O professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Sydney Hartz Alves, doutor em
Microbiologia, recebeu honraria semelhante. O microorganismo Phaeoacremonium alvesii (que é a forma latinizada de
Alves) foi batizado com o seu sobrenome.
Tudo começou em 2002, quando um representante comercial de Passo Fundo que teve um rim transplantado foi afetado
por uma lesão no pé, cujo diagnóstico foi dificultoso. Uma médica enviou então uma amostra de pus da região afetada
para o Laboratório de Pesquisas Micológicas (Lapemi) da UFSM. O fungo causador foi isolado, mas houve dificuldade na
sua identificação. Sydney sabia que tratava-se de uma espécie rara.
Uma amostra foi enviada à Espanha, para o taxonomista Josep Guarro, considerado um dos maiores identificadores de
fungos do mundo. Lá o microorganismo foi identificado como um Phaeoacremonium aleophilum. O caso foi publicado em
2003 em uma revista científica americana.
O assunto poderia ter acabado aí se uma outra amostra não tivesse sido enviada para o instituto holandês Centralbureau
Voor Schimelcultures (CBS). Neste local, pesquisadores americanos e europeus, através do estudo do DNA, chegaram
a outra conclusão: que travava-se de uma espécie desconhecida. Ao nomearem a nova espécie, eles homenagearam o
pesquisador que enviou-lhes a amostra. O caso mereceu citação em 2005 no Journal of Clinical Microbiology, renomada
publicação nesta área.
“A descoberta de que era uma espécie nova aconteceu na Holanda. Eu fiz apenas o diagnóstico e enviei para lá, mas eu
não sabia que era uma coisa desconhecida. Certamente a gente fica envaidecida com a homenagem do nome. O papel
de um cientista é, quando achar uma coisa que desconhece, levar adiante. A gente sempre acha que tem alguém que
sabe mais do que nós, então você envia para quem sabe mais.”
O professor Sydney esclarece que o P. alvesii representa risco à saúde apenas para pacientes imunocomprometidos, ou
seja, cujo sistema imunológico esteja comprometido por alguma circunstância, como no caso deste transplantado. O
fungo causou-lhe cistos subcutâneos. No tratamento foram usadas doses mais altas de antifúngicos. O professor
ressalta que o fungo não causa a lesão, mas manifesta-se em uma lesão já existente.
“Isso na verdade representa um avanço na ciência. Como o transplante passou a ser uma coisa comum hoje em dia, há
um número cada vez maior de pacientes imunocomprometidos. Nesses pacientes acontecem coisas que para nós não
passariam de uma pequena inflamação. Neles, isso se reveste de doenças graves, podendo inclusive matá-los.”
(A Razão, 30/03/06)