Livro trata das "encruzilhadas" da CDB
2006-03-30
Com a perspectiva de termos ainda um bom caminho pela frente até que se chegue a um consenso no âmbito da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) em relação ao acesso ao patrimônio genético e a repartição de benefícios, o lançamento do livro As Encruzilhadas das Modernidades é um das mais bem vindas iniciativas entre as publicações lançadas durante a Conferência das Partes da CDB/COP8, em Curitiba.
Para a CDB e todos os envolvidos na questão do ABS (do inglês, Access to Genetic Resources and Benefit-sharing, ou Acesso aos recursos genéticos e repartição de benefícios), as encruzilhadas são várias e se manifestam em todos os debates: conhecimentos tradicionais, tecnociência, cultura, propriedade intelectual, acordos bilaterais de comércio, biodiplomacia global e legislação.
Estes são os temas do livro organizado pelos pesquisadores Fernando Mathias e Henry de Novion com a colaboração de vários especialistas em cada uma das áreas. Nada mais oportuno para uma convenção que deverá postergar suas decisões mais importantes, na melhor das hipóteses, para daqui a dois anos.
A obra lançada na terça-feira (28/03) integra a série Documentos ISA, elaborada pelo Instituto Socioambiental, uma das mais importantes organizações ambientalistas brasileiras, para dar argumentos teóricos ao debate sobre sociobiodiversidade – um dos principais eixos da CDB.
‘Encruzilhadas’ é fruto de um seminário realizado em outubro de 2005 pelo ISA com o objetivo de lançar luzes à nebulosa questão que envolve o uso de patrimônio genético e conhecimentos tradicionais nos países com megadiversidade, entre os quais o Brasil figura como um dos mais importantes por razões já bem conhecidas: enorme diversidade de espécies, habitats e comunidades tradicionais.
As falas coletadas no seminário foram transcritas e editadas. Entre elas, pontuam-se artigos assinados por argutos observadores que ajudam o leitor a literalmente a “pôr o pé no chão” da taba e olhar a questão sem o viés dos discursos oficiais que muitas vezes mais nublam do que esclarecem o tema muitas vezes resumido a cifras, apenas cifras.
De acordo com Juliana Santilli, que faz uma das apresentações do livro, a “invisibilidade dos saberes tradicionais só começou a diminuir quando a biotecnologia – que utiliza a biodiversidade como matéria prima – passou a considerá-los úteis para o desenvolvimento de novos fármacos e produtos agrícolas”. Segundo ela, os conhecimentos ancestrais só despertaram a atenção da ciência quando vistos com o enfoque utilitarista. Com esse olhar, até mesmo o sagrado dos povos tradicionais podem virar monopólio. Onde tudo isso vai dar, bem é melhor pegar a bússola.
Por Jaime Gesisky, Assessoria de Imprensa COP8/MOP3