Acordo nuclear EUA-Índia sai em má hora, diz Alemanha
2006-03-30
O acordo nuclear civil firmado neste mês entre Estados Unidos e Índia teve o defeito de ser concluído em meio às negociações para conter o programa atômico iraniano, segundo o ministro alemão de Relações Exteriores. "Não há dúvida de que, à luz da continuação das conversas sobre o programa nuclear iraniano, o momento do acordo indo-americano não foi útil", disse o ministro Frank-Walter Steinmeier ao jornal alemão Handelsblatt.
Ele ressaltou que não estava condenando o acordo propriamente dito, pois esse tipo de pacto pode incentivar países a aderirem ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear. "Não sou ingênuo de pensar que a Índia assinará o tratado nos próximos dois anos. Mas o fato de que o país está colocando a maior parte das suas usinas nucleares civis sob controle internacional é definitivamente um passo à frente." O Paquistão e Israel são outros dois países que sabidamente têm armas nucleares e não participam do Tratado de Não-Proliferação.
A entrevista, à qual a Reuters teve acesso, será publicada na quinta-feira (30/03). O histórico acordo de 2 de março entre Washington e Nova Délhi permitirá que a Índia receba tecnologia e combustível atômicos norte-americanos. Enquanto isso, EUA, União Européia e outros países tentam ampliar a pressão para que o Irã abandone o seu programa nuclear, suspeito de incluir o desenvolvimento de armas atômicas. Teerã diz que o programa é exclusivamente pacífico.
Na quinta-feira, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, mais a Alemanha, se reúnem em Berlim para discutir o programa nuclear iraniano. Steinmeier também pediu a Washington e Teerã que aproveitem um possível diálogo sobre o futuro do Iraque para discutir a questão nuclear. Ambos os países, porém, já descartaram tal hipótese. "Acho que a questão internacional mais urgente diante de nós, o programa nuclear, não deve ser deixada de fora dos contatos planejados entre norte-americanos e iranianos", afirmou o ministro.
Até agora, os EUA preferem que o trio europeu composto por Grã-Bretanha, França e Alemanha negocie diretamente com o Irã. Alguns diplomatas europeus acreditam que o envolvimento norte-americano seria a única forma de romper o impasse. Os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com o Irã após a Revolução Islâmica de 1979, quando um grupo de estudantes radicais invadiu a embaixada dos EUA em Teerã e manteve dezenas de funcionários como reféns durante 444 dias.
(Reuters, 30/03/06)
http://www.swissinfo.org/spt/swissinfo.html?siteSect=143&sid=6589354&cKey=1143673519000