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2006-03-30
A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) anunciou ontem um investimento de US$ 250 milhões num amplo projeto de reflorestamento, que prevê o plantio de árvores numa área de 200 mil hectares no Pará e no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. O anúncio, feito durante um dos eventos paralelos à COP 8, a Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, em Curitiba, sintetiza a tentativa do setor privado de se tornar mais atuante nas iniciativas de conservação ambiental, alinhadas às políticas de responsabilidade corporativa.

A idéia central do projeto da Vale, batizado de Florestar, é a preservação da floresta, aliada a ganhos econômicos. Serão plantados 50 mil hectares de espécies nativas e outros 150 mil de eucaliptos, em áreas já degradadas, como no chamado Arco do Desmatamento, no Pará.

O plantio de eucaliptos, segundo Maurício Reis, diretor de Meio Ambiente da Vale, alimentará a produção de ferro-gusa da região, aliviando a pressão sobre a mata nativa. Também será uma fonte de subsistência para a população da região, uma vez que o eucalipto pode ser colhido em sete anos.

Desde a semana passada, quando teve início a COP 8, as iniciativas empresariais têm sido mostradas como fundamentais, junto com ações de ONGs e governos, para reduzir os danos à biodiversidade.

ARAUCÁRIAS
O conglomerado financeiro Citigroup, por exemplo, se uniu à The Nature Conservancy (TNC) e a outras sete ONGs e vai aportar inicialmente R$ 200 mil num programa de conservação da floresta de araucárias no Sul do País, que tem o objetivo de criar alternativas de renda para produtores rurais da região, de modo a conter o avanço sobre os remanescentes de mata nativa. Hoje, a extração ilegal de madeira e o avanço da agricultura são as principais ameaças às araucárias.

A intenção é aumentar a cobertura dos remanescentes florestais em 30%, em dez anos. Para os próximos quatro anos, a meta é restaurar 2 mil hectares de mata, em 36 municípios do Paraná e de Santa Catarina. O projeto prevê, a médio prazo, a criação de um viveiro de mudas que garanta o fornecimento de sementes para a região e uma fonte de renda para os agricultores. Estão previstos programas agroflorestais, como o cultivo de erva-mate nas áreas de remanescentes. A longo prazo, a meta é concluir um estudo de viabilidade para a comercialização de créditos de carbono a partir das áreas reflorestadas.

O custo total do projeto é da ordem de R$ 8 milhões, para os próximos quatro anos. "Queremos mostrar que, a partir da biodiversidade, é possível gerar renda para as comunidades, numa estratégia de longo prazo", diz Miguel Calmon, diretor da TNC. Segundo ele, sem a captação de recursos junto à iniciativa privada, seria mais difícil viabilizar o projeto. "Hoje o setor privado é chave, como apoiador e financiador."

De acordo com Mauro Armelin, coordenador de Políticas Públicas da ONG WWF-Brasil, a própria relação das ONGs ambientalistas com as empresas está mudando. "Hoje, preferimos traçar planos de trabalho em que o setor privado contribui mais que com apenas doações avulsas", diz Armelin. Um exemplo é o recente envolvimento dos bancos brasileiros com as questões ambientais, por meio da adoção de critérios socioambientais para a concessão de crédito. "Quem financia um empreendimento danoso ao ambiente tem parte da responsabilidade, e os bancos já vêm adotando esse conceito em seus negócios", diz.

No caso do Citigroup, os investimentos em conservação ambiental fazem parte das diretrizes de responsabilidade social do grupo, sugeridas pela matriz nos Estados Unidos. "Esse tipo de investimento é estratégico para o setor financeiro, pois vai garantir a continuidade dos negócios no futuro", diz Anthony Ingham, diretor de Assuntos Corporativos do Citigroup.

Também no Paraná, a Klabin, maior exportadora de papel do Brasil, criou, em 1984, um programa interno com o objetivo de aproveitar a riqueza biológica das áreas de mata nativa que mantém ao lado das florestas de eucalipto. A partir do manejo e do cultivo de ervas medicinais que crescem junto à área de mata nativa, a empresa criou uma unidade interna para a produção de medicamentos e cosméticos fitoterápicos.style="mso-spacerun: yes"> Ervas como espinheira-santa, carqueja e alecrim são base para a produção de fitoterápicos, destinados aos funcionários da empresa.

"É um modo de promover um uso múltiplo e racional da floresta e sua biodiversidade, com benefícios internos na empresa", explica Loanna Johansson, gerente de Produtos Florestais Não Madeireiros da Klabin.

No entanto, há desafios para o setor privado. Embora muitas empresas já sejam vistas como referência em práticas ambientais, a maioria ainda não incorporou o conceito ao dia-a-dia dos negócios, alerta Fernando Almeida, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds). "O setor privado tem de reconhecer que foi e continua sendo agente da degradação", diz. "É preciso mudar a postura de fazer negócios."
(O Estado de S. Paulo, 29/03/06)

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