COP manda árvore transgênica para seu órgão científico
2006-03-29
Para o diretor de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente brasileiro, Paulo Kageyama, a Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB) precisa realizar uma profunda avaliação sobre as plantações de árvores geneticamente modificadas antes de se posicionar sobre essa tecnologia.
Na COP8 (8ª Conferência de Países-Membros da CDB), realizada em em Pinhais (PR), ficou acertado que o assunto será analisado pelo órgão científico e tecnológico da Convenção, o chamado SBSTTA (do inglês Subsidiary Body on Scientific, Technical and Technological Advice). As recomendações do grupo intergovernamental serão encaminhadas à COP9, em 2008, para que alguma posição sobre esses cultivos seja tomada.
Eucalipto transgênico
Enquanto isso, empresas produtoras de celulose e papel como Suzano e International Paper têm financiado experimentos autorizados pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) com árvores transgênicas de eucalipto. A idéia é ter plantas com mais celulose e menos lignina - substância que dá resistência à madeira mas não serve para a fabricação de papel. Isso reduziria a quantidade de produtos químicos usados para eliminar a lignina. As repercussões, no entanto, iriam mais além.
Conforme Kageyama, o eucalipto é uma árvore que se reproduz com facilidade e com intenso cruzamento entre parentes. A polinização ocorre principalmente com a ajuda de abelhas que voam até cinco quilômetros em busca das melhores flores. Como no Brasil a espécie também é usada na produção de mel, madeira, lenha e óleos, os efeitos do cruzamento entre árvores comuns e transgênicas seriam incertos, especialmente sobre pequenos e médios produtores. “Esse cruzamento pode trazer características indesejadas a árvores manejadas por outros produtores”, ressaltou o engenheiro florestal e professor do Departamento de Ciências da USP de Piracicaba.
Vindo da Austrália e de ilhas da Oceania, o eucalipto foi introduzido no Brasil no início do Século XX, e hoje ocupa mais de três milhões de hectares. Isso torna o País dono da maior área plantada com a árvore em todo o mundo, e o maior produtor global de celulose, com cerca de 6,3 milhões de toneladas por ano.
No Brasil, quase toda a produção de papel e celulose é destinada ao mercado externo, que na última década cresceu a 5% a cada ano. A monocultura de pinho e eucalipto, principalmente, também está associada a disputas por terras em vários estados. De um lado estão as indústrias e, de outro, remanescentes de quilombolas, indígenas e agricultores familiares.
Além da International Paper, outras onze empresas, universidades e órgãos públicos trabalham com o Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil em um projeto para mapear o genoma do eucalipto. Mais de 50 cientistas estão envolvidos no projeto Genolyptus (www.mct.gov.br/especial/genolyptus.htm), que estuda como os genes afetam a formação da madeira e a resistência a doenças. O projeto começou em 2002 e deverá ser concluído este ano.
Por Aldem Bourscheit, Assessoria de Imprensa COP8/MOP3