Para onde vai a COP-8?
2006-03-29
Desde o início das discussões, entre os temas centrais do encontro global, a
repartição de benefícios oriundos do uso da diversidade biológica e o uso
sustentável dos recursos naturais prevaleceu na 8 Conferência das Partes da
Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8), uma promoção da Organização das
Nações Unidas (ONU) sobre todas as questões ligadas a preservação. A questão da
conservação pura e simples dos recursos existentes foi relegada a um pano de
fundo, mas será que está é a ordem correta, a hierarquia condizente com um
encontro da importância da Conferência?
O diretor-executivo da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, Miguel
Serediuk Milano disse À gml que está havendo uma inversão das
prioridades: "todos estão discutindo a repartição dos benefícios da
biodiversidade e o seu uso sustentável e esquecendo que se não houver a
preservação não haverá nem benefícios nem uso", argumenta ele. Segundo Milano,
"este é o grande nó da conferência da ONU. Não há como falar em repartição de
benefícios em regiões como cerrado, Mata Atlântica ou nas matas de pinheirais e
campos do Sul, biomas ameaçados até de desaparecimento. O Cerrado é um hot spot
da conservação mundial porque é uma das regiões mais ameaçadas do planeta.
Nestas áreas a discussão deve ser outra", diz.
Ele defende que o debate e as ações devem ser concomitantes nos três temas
porque preservar o que existe significa incorporar uma visão de mais longo
prazo. Para Milano, o que está ocorrendo no Brasil é uma expropriação privada
de terras públicas para repetir a história brasileira de exportar commodities
de baixo valor agregado que foi iniciada com o pau brasil e que devastou a Mata
Atlântica. "Perto dos anos 90 o Brasil estava na 80 posição entre os maiores
emissores de carbono e atualmente estamos entre os dez maiores. E não porque nos
igualamos a países industrializados em produção de riqueza, mas sim porque
estamos destruindo nossas riquezas pela ação das queimadas", explica.
Outro exemplo são as mudanças climáticas: "os estudos dos anos 80 e 90 previam
a ocorrência de furacões e mudanças no clima no Atlântico Sul somente próximo
dos anos 2020 ou 2030. E já tivemos o furacão Catarina e outros semelhantes",
conclui Milano.
Monitoramento conjunto
Os oito países integrantes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica –
Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela – vão
propor a seus governos a criação de um grupo de trabalho, ainda em 2006, para a
formulação de uma agenda sócio-ambiental para a região, segundo comunicado
conjunto ministerial divulgado ontem (28/03). O processo de articulação e fortalecimento
da integração regional envolve a troca de experiências e o Brasil se dispõe a
compartilhar com os demais países amazônicos o seu sistema de informação por
satélite, utilizado nas ações de combate ao desmatamento.
(GM, 29/03/06)