UE pode fazer concessão a Irã em questão nuclear, diz Alemanha
2006-03-29
A União Européia (UE) pode considerar a hipótese de permitir que o Irã mantenha um programa limitado de enriquecimento de urânio se o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aceitar isso, disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Alemanha na terça-feira (28/03). Segundo Gernot Erler, porém, os iranianos teriam de, neste momento, congelar todas as atividades do tipo.
No começo deste ano, o Grupo Crise Internacional (ICG) propôs permitir que o Irã mantenha um programa limitado de enriquecimento de urânio -- uma tecnologia que pode produzir combustível para usinas nucleares ou material para equipar bombas atômicas. O ICG sugeriu, no entanto, que a permissão só fosse concedida depois de o Irã ter suspendido esse tipo de atividade por vários anos e depois de ter aceitado inspeções mais invasivas da ONU.
Erler disse que a idéia pode ser avaliada pelos países membros da UE que negociam com o Irã -- a Alemanha, a França e a Grã-Bretanha --, mas que tudo dependeria de um apoio consistente do Conselho de Segurança, que tenta agora chegar a um acordo sobre como lidar com as ambições nucleares do Irã. "Fiquei muito impressionado com as propostas do ICG. Acho que podemos avaliar essas propostas, mas apenas se conseguirmos chegar a uma postura comum e unitária no Conselho de Segurança", afirmou o vice-ministro, em uma conferência sobre o Irã e o Oriente Médio. O governo iraniano diz que deseja dominar a tecnologia apenas para produzir energia elétrica e nega as acusações de potências ocidentais de que tentaria fabricar bombas atômicas.
Segundo Erler, o Irã, e não o Ocidente, deveria dar o primeiro passo rumo a um acordo, retomando a moratória sobre o programa de enriquecimento de urânio, retomado em janeiro. A decisão de reavivar o programa levou o trio da UE a interromper negociações mantidas havia dois anos e meio com o Irã e a dar apoio à exigência norte-americana de denunciar o caso iraniano ao Conselho de Segurança, órgão que pode impor sanções.
Na quinta-feira, ministros das Relações Exteriores da Alemanha e dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança -- França, Grã-Bretanha, EUA, Rússia e China -- vão se reunir em Berlim para tentar romper o impasse em torno de um comunicado a ser emitido pelo órgão a respeito do Irã. A Rússia, com o apoio da China, deseja riscar todas as exigências do projeto de comunicado elaborado pela Grã-Bretanha e pela França. Os russos e chineses temem um envolvimento mais direto do Conselho de Segurança, o que poderia levar à adoção de medidas punitivas, disseram diplomatas em Nova York.
EMBATE DIPLOMÁTICO
O ministro britânico das Relações Exteriores, Jack Straw, afirmou em Londres ter esperanças de que um acordo seja firmado nas negociações de Berlim. "Tem havido um consenso internacional notável a respeito do Irã. Nunca pretendi dizer que chegar a esse consenso tenha sido algo fácil. Há ansiedades que temos de reconhecer. É por isso que precisamos de tempo", afirmou. Erler repetiu que os europeus estavam prontos para retomar as negociações com o país islâmico se ele suspender o programa de enriquecimento de urânio.
O embaixador iraniano junto à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) respondeu afirmando que os três países da UE tinham rejeitado a oferta deste mês, feita pelo Irã, de cancelar o programa de enriquecimento em escala industrial se tiver autorização para continuar com as pesquisas sobre o combustível nuclear. "O Irã sempre esteve e ainda está pronto para realizar negociações", afirmou Aliasghar Soltaniyeh. A autoridade iraniana acusou a França, a Alemanha e a Grã-Bretanha de permitir que os EUA sequestrassem o dossiê sobre o programa nuclear iraniano e o tirassem das mãos da AIEA. Erler rebateu essa acusação: "O que aconteceu foi o contrário. Nós convencemos os EUA de que a postura européia era a mais correta."
(Reuters, 28/03/06)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2006/03/28/ult729u55436.jhtm