ONGs pedem moratória de pesca intensiva e árvores transgênicas
2006-03-29
As organizações ambientalistas exigiram na terça-feira (28/03) em Curitiba um acordo internacional que estabeleça uma moratória da pesquisa e comercialização de árvores geneticamente modificadas e também da pesca intensiva. Na oitava Conferência das Partes do Convênio de Diversidade Biológica da ONU, cuja fase ministerial começou na segunda, as organizações Justiça Global-Projeto Ecológico e Greenpeace alertaram para a "ameaça" à vida silvestre e à conservação da biodiversidade representada pelas duas atividades.
Anne Petermann, co-diretora da Justiça Global, disse que a proliferação de árvores transgênicas "inevitavelmente" vai alterar as florestas primárias e autóctones. Petermann explicou que vários organismos internacionais ressaltaram a necessidade de analisar cientificamente o impacto ambiental dessas árvores. Mas ela prevê que os estudos "avançarão mais devagar que a tecnologia".
Por isso, a ONG pediu aos países que ratificaram o Convênio de Diversidade Biológica que apliquem o "princípio de precaução" previsto no acordo internacional, para evitar a proliferação de árvores transgênicas até que os riscos tenham sido analisados. Ela explicou que, de acordo com o próprio Convênio, o princípio é aplicado quando não existe certeza de que uma tecnologia é segura e quando ela não é uma necessidade urgente.
Danos
Segundo informações divulgadas por Petermann, as árvores modificadas só foram plantadas até agora em florestas da China, com a intenção de deter o avanço do Deserto do Gobi. Mas a tecnologia está sendo desenvolvida também no Brasil, África do Sul, Índia, Estados Unidos e Chile.
O objetivo da tecnologia, segundo a ativista, é criar exemplares de espécies como pinheiro, eucalipto e álamo que sejam resistentes a herbicidas, ao frio ou a determinados insetos. Os grupos ecologistas argumentam que pássaros, insetos e o vento podem transportar pólen e sementes dessas árvores a milhões de quilômetros, provocando danos irreversíveis em florestas primárias e na saúde humana.
Proteção
Já a assessora política do Greenpeace, Karen Sack, pediu aos participantes do Convênio uma moratória da pesca intensiva. Ela propõe a criação de uma rede de áreas marinhas protegidas que, pelos seus cálculos, deveria cobrir 40% dos mares e oceanos. Sack argumentou que, durante os últimos 15 anos, espécies como o atum foram pescadas até "quase a extinção", caiu a população de tubarões. Três quartos dos pescados foram "superexplorados", a ponto de impedir a sua regeneração natural.
A representante do Greenpeace observou que milhões de pessoas no mundo inteiro dependem da pesca como base da sua alimentação, e denunciou que os grandes navios-fábrica têm "esgotado" os mares do norte. Por isso, deslocam-se progressivamente em direção ao sul, para pescar nas águas de países em vias de desenvolvimento "que não têm capacidade de se defender". Segundo Sack, nos últimos dez dias 67 navios foram detectados pescando "ilegalmente" na costa africana.
Ela previu uma "crise de biodiversidade" se a pesca intensiva não for interrompida. No ritmo atual, pelos seus cálculos, os recursos pesqueiros de todo o mundo estarão esgotados em 16 anos. Sack pediu o engajamento da comunidade internacional numa negociação sobre este assunto. Mas observou que isso "levará muito tempo, coisa que os mares não têm", o que a levou a defender a moratória até se chegar a uma nova regulamentação do acesso aos recursos pesqueiros.
(EFE, 28/03/06)
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