Produzir papel no Brasil é caro, diz Norske Skog
2006-03-28
O Brasil perdeu competitividade dentro das operações globais da norueguesa Norske Skog, maior fabricante mundial de papel imprensa, com faturamento de US$ 3,8 bilhões e 19 fábricas. A subsidiária brasileira tem hoje o segundo maior custo de produção do grupo, só perdendo para uma fábrica da companhia na Noruega, segundo Afonso Noronha, vice-presidente de relações externas da empresa.
"Está mais barato produzir na Europa, na China e no Chile do que aqui", disse. Esse foi um dos principais assuntos discutidos por Jan Oksum, CEO da companhia, que fez no início de março uma discreta visita de dois dias à filial do Brasil. Depois de passar pela fábrica do Chile, Oksum ouviu dos executivos da subsidiária no País que o câmbio, o aumento da energia elétrica - que responde por 30% dos custos totais - e a atual legislação do ICMS para o setor provocaram uma escalada nos custos de produção.
"Hoje nosso custo está 70% maior do que há quatro anos", afirmou Noronha, que lembra que nesse mesmo período o preço pago pela empresa pelo megawatt/hora era de US$ 25. "Hoje estamos desembolsando US$ 60."Produzir aqui chega a custar 20% mais do que em certas fábricas na Europa e até 50% mais do que no Chile. Mesmo com o fato do Brasil ser um dos países mais competitivos na produção de fibras de celulose, a subsidiária vem perdendo pontos frente a outras filiais, já que a fibra representa menos de 40% do custo do produto.
A companhia tem na gaveta um projeto de investimento de US$ 580 milhões que permitirá a instalação de mais uma máquina de papel imprensa no País. Mas para colocá-lo em prática defende mudanças na legislação tributária, com alterações no regime de ICMS.
A empresa quer a mesma imunidade já conferida aos consumidores de papel imprensa. De acordo com a fabricante, o ICMS pago é convertido em custo de produção, o que torna essa indústria cada vez menos competitiva em relação aos estrangeiros.
A distorção causada pela cobrança já levou no passado a Klabin a encerrar as operações produtivas nesse ramo. Apesar dessas dificuldades, o grupo mantém seus planos para o País, de olho principalmente na demanda. A América do Sul e a Ásia foram eleitas por Jan Oksum como mercados-chave para a expansão do grupo, que detém 13% do mercado global de papel para imprensa.
A favor do Brasil está um mercado que cresceu 3,5% no ano passado, ao contrário de países como os Estados Unidos, onde o consumo de papel para jornal caiu 5,4% na mesma base de comparação. "O Brasil tem compras per capita de 2,6 quilos por ano, contra 30 quilos por ano dos americanos, o que representa um potencial significativo para os próximos anos", disse Noronha.
A Norske Skog Pisa, fábrica do grupo no Brasil, é hoje a única fornecedora de papel imprensa no País. Com capacidade para produzir 180 mil toneladas por ano, a unidade vai receber investimentos de US$ 22 milhões neste ano, a maior parte para aumento da capacidade e qualidade das pastas de celulose, do papel, programas de redução de consumo de energia, além de compra e plantio de florestas. Localizada em Jaguariaíva (PR), ela atende cerca de 30% da demanda interna. O Brasil importa 70% do seu consumo de países como Canadá, França, Noruega, Holanda e Chile.
Com a nova máquina, o grupo poderia mais que triplicar a produção no Brasil, para 600 mil toneladas por ano. "O Brasil poderia passar de importador a exportador", disse Noronha. O Brasil importou 366,5 mil toneladas de papel imprensa em 2005, segundo levantamento preliminar da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa). O volume foi 4,7% superior ao do ano anterior. A própria Norske importa hoje papel da França e da Noruega e revende no Brasil. "Nas importações conseguimos uma boa margem, mas na produção local o retorno sobre o capital aplicado foi pífio em 2005", disse.
"Mesmo com o preço em alta (a US$ 700 por tonelada hoje), o retorno foi seis vezes menor do que o esperado", acrescentou. O grupo faturou US$ 132 milhões no Brasil no ano passado. O volume, que inclui as vendas da produção local e as importações, foi 12% superior ante 2004. A Pisa foi comprada pela Norske Skog em 2000, quando a multinacional assumiu o controle acionário pertencente, na época, ao grupo O Estado de S. Paulo e ao BNDESpar.
Além da fábrica no Brasil, a companhia opera uma segunda unidade industrial na América do Sul, localizada no Chile. A unidade de Bío Bio tem capacidade para 120 mil toneladas por ano de papel imprensa e para guias telefônicas. Inpacel A Norske admite que olha com atenção para os ativos da Inpacel, de Arapoti (PR), colocados à venda pela International Paper (IP) e rebatizada, recentemente, de Vinson Indústria de Papel Arapoti.
O negócio está sendo tocado pela matriz. Noronha não confirmou se já foi apresentada alguma proposta de compra, mas disse que vê a possibilidade de sinergias entre a Pisa, que faz papel imprensa, com a Inpacel, que produz papel cuchê de baixa gramatura (LWC), para revistas e folhetos. A unidade da Vinson tem capacidade para produzir 250 mil toneladas por ano e ativos avaliados em US$ 250 milhões. Além da fábrica, a IP colocou à venda uma floresta de 50 mil hectares e uma serraria para 150 mil metros cúbicos.
A Norske Skog já atua nesse segmento (LWC e MWC), com fábricas na Europa (Áustria e Alemanha). As unidades da Inpacel e da Pisa estão localizadas em municípios vizinhos, o que favorece a logística. Noronha ressaltou, porém, que o interesse do grupo pelos ativos vai depender também da disposição dos investidores internacionais em aplicar recursos no mercado de LWC, "hoje em baixa", disse.(Gazeta Mercantil, 27/03/06)